[1.41] Europeias: guinada brutal à direita, nos votos e nas políticas
Verdes e Liberais vão perder votos e influência, as direitas radical e extrema vão crescer e atrair irremediavelmente o centro-direita. O PPE sairá desfigurado das próximas eleições europeias.
ANTEVISÃO
Europeias: guinada brutal à direita, nos votos e nas políticas
Pontos-chave
populistas deverão vencer em nove países e ficar em segundo ou terceiro noutros nove
grupo de radicais de direita poderá ascender a terceira força no PE, substituindo os liberais
enfraquecidos, os liberais já pendem para as políticas da extrema-direita
verdes perdem gente e sobretudo influência sobre a agenda, esperando-se até reversões
influência de Georgia Meloni tem crescido, inclusive sobre Ursula von der Leyen
O que se desenha
Se foi colhida/o de surpresa pelos resultados das eleições legislativas, o melhor é prevenir-se para que não passe pela onda de pavor novamente dentro de dois meses e meio, quando em junho formos votar para o Parlamento Europeu. A tendência vem-se desenhando há dois anos, pelo menos, nas diversas sondagens e estudos, bem como nas eleições diversas nos estados-membros.
As eleições para o Parlamento Europeu de 2024 deverão registar uma viragem significativa à direita em muitos países, com os partidos populistas de extrema-direita a ganharem votos e lugares em toda a UE, enquanto os partidos de centro-esquerda e os verdes perderão votos e assentos.
De acordo com as previsões, quase metade dos assentos será ocupada por deputados fora da “super grande coligação” dos três grupos centristas. Os populistas anti-europeus deverão liderar em nove Estados-membros (Áustria, Bélgica, República Checa, França, Hungria, Itália, Países Baixos, Polónia e Eslováquia) e ficar em segundo ou terceiro lugar em outros nove países (Bulgária, Estónia, Finlândia, Alemanha, Letónia, Portugal, Roménia, Espanha e Suécia).
Uma coligação de direita populista composta por democratas-cristãos, conservadores e deputados de extrema-direita poderá emergir com uma maioria pela primeira vez. Os dois cenários mais prováveis são uma coligação de direita (como Geert Wilders tentou nos Países Baixos) ou a continuação do domínio dos dois principais partidos centristas: o PPE de centro-direita e os socialistas, apoiados por outros partidos minoritários. O destino de Wilders, que ganhou as eleições holandesas mas não conseguiu formar uma coligação de direita, pode antecipar estas discussões pós-eleições na UE.
Esta viragem acentuada à direita terá consequências significativas para as políticas a nível europeu, o que afetará as escolhas de política externa que a UE pode fazer, particularmente em questões ambientais, onde a nova maioria deverá opor-se a uma ação ambiciosa da UE para combater as alterações climáticas.
A guinada dos liberais
Marie-Agnes Strack-Zimmermann, do partido liberal alemão FDP, foi escolhida como uma das líderes da campanha eleitoral da UE pelos liberais. A sua escolha é algo invulgar. Recentemente, o seu partido tem obstruído propostas legislativas significativas relacionadas com os negócios e com o Pacto Ecológico.
O FDP, apesar de ter apenas 3-5% de apoio público na Alemanha, exerce uma influência considerável devido ao seu papel como partido minoritário na coligação do governo alemão. O governo opera sob uma regra que exige unanimidade para qualquer tipo de decisão sobre políticas da UE, permitindo assim ao FDP bloquear quase 14 dossiês legislativos da UE antes do final do mandato. Este comportamento parece ter sido recompensado pela família europeia.
As sondagens projetam um desempenho mais fraco para os centristas liberais nas eleições de junho. Neste contexto, a escolha de Strack-Zimmermann levanta questões sobre a estratégia e política futura dos liberais. Isto pode ser devido a grandes problemas de liderança que todos os partidos estão a enfrentar, ou uma forma de dar mais espaço a figuras políticas mais proeminentes no grupo liberal.
A ascensão de Meloni
Noutro contexto, mais à direita, surge a figura de Giorgia Meloni. A primeira-ministra italiana tem grandes ambições europeias e tem vindo a ganhar espaço de manobra, tanto na direita radical como junto da direita moderada.
A pressão exercida por Giorgia Meloni e outros líderes de direita levou Bruxelas a abandonar restrições planeadas sobre o uso de pesticidas e a reduzir o seu pacote climático. Meloni também influenciou significativamente a mudança da posição europeia em relação à migração, passando de um foco no asilo e redistribuição entre estados da UE para o pagamento a países terceiros para manterem os migrantes fora das fronteiras do bloco. A líder italiana continua a exercer uma influência discreta mas poderosa sobre altos políticos da UE, como a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
É provável que um bloco de direita ampliado no Parlamento Europeu apresente Meloni posicionada para se tornar a sua líder espiritual e impulsionar Bruxelas para a direita em questões como a política de migração e o Green Deal.
Contudo, os críticos apontam rapidamente falhas no caso da influência de Meloni no cenário mundial, dado que, apesar de algumas manchetes otimistas, a economia italiana está em marcha lenta, enfraquecendo a credibilidade de Roma nas grandes decisões políticas, e que, apesar do atual estado sombrio das relações franco-alemãs, Paris e Berlim continuam a ser, estruturalmente, os definidores do ritmo da política europeia, com a Polónia, sob o Primeiro-Ministro Donald Tusk, a tornar-se um ator cada vez mais crucial.
E Portugal? Troca críticos da União por críticos da democracia
Quanto a Portugal, os eleitores deverão seguir a onda direitista que avança sobre quase toda a União, confirmando o que de resto se passou nas legislativas. Com uma diferença: os dois maiores partidos pouco perdem, mas opera-se uma autêntica revolução nas margens do sistema.
O grupo Left (BE e PCP) passará de quatro para um euro-deputado e os Verdes (PAN) perdem um euro-deputado. Ou seja, a visão crítica da União Europeia, comum aos partidos da esquerda, cede por completo, entregando três lugares à visão anti-democrata, a do CH. Que soma ainda mais um, perdido pelo PS.
Os 21 euro-deputados de Portugal deverão dividir-se assim: o PS elege 8 (tem atualmente 9), o PSD ficará na mesma com 7, o CH elege pela primeira vez e logo 4, a IL também se estreia no PE com 1 representante, e o BE elege 1 (tem atualmente 2). PCP perde os seus dois, o PAN perde o seu único euro-deputado.
Aprofundar
O plano de Giorgia Meloni para liderar a Europa — e ser amiga de Donald Trump, no Politico
Desta vez, a ameaça da extrema-direita é real, no Politico
Os liberais da UE ainda são progressistas e pró-europeus?, no Euractiv
Weimar: líderes alemães, franceses e polacos reúnem-se para discutir apoio à Ucrânia
Cimeira na Europa Central promete reforçar apoio militar a Kiev.
Líderes do “Triângulo de Weimar” comprometem-se a aumentar produção de equipamento militar.
Falta de munições e apoio político nos EUA dificultam ajuda à Ucrânia.
A Alemanha, a França e a Polónia comprometeram-se, numa cimeira de emergência, a fornecer mais armamento a Kiev e a aumentar a produção de equipamento militar, juntamente com parceiros na Ucrânia. Durante o encontro do “Triângulo de Weimar”, formado pelos líderes da Alemanha, França e Polónia, reiterou-se o apoio contínuo a Kiev, prometendo superar a escassez de recursos militares enfrentada pela Ucrânia.
O chanceler alemão Olaf Scholz, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro polaco Donald Tusk expressaram um forte apoio a Kiev, após uma conversa com o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, assegurando que a Ucrânia pode contar com o seu apoio incondicional. Contudo, enfrentam-se desafios, como o atraso na produção de um milhão de munições de artilharia para a Ucrânia, e obstáculos políticos nos Estados Unidos que comprometem a ajuda.
Alemanha, França e Polónia planeiam reunir-se em Berlim para discutir o apoio aos recursos militares da Ucrânia no contexto das próximas eleições na Rússia. Os líderes irão participar no formato do Triângulo de Weimar, com o objetivo de revitalizar as relações tensas sob o antigo governo nacionalista da Polónia. Macron não excluiu a possibilidade de enviar soldados europeus para a Ucrânia, procurando fornecer assistência eficaz, como demonstrado pela República Checa.
Fonte: AP
🇭🇺😨 Polícias chineses vão patrulhar ruas da Hungria
Patrulhas conjuntas húngaro-chinesas começarão em breve
Acordo visa melhorar a segurança em áreas turísticas e eventos movimentados
Críticos temem uso da cooperação para controle ideológico sobre diáspora chinesa
Num acordo assinado em meados de fevereiro entre o Ministro do Interior húngaro, Sándor Pintér, e o Ministro da Segurança Pública da China, ficou assente que policiais húngaros e chineses começarão a realizar patrulhas conjuntas em certas localidades da Hungria. O acordo tem como objetivo a melhoria da comunicação entre cidadãos e autoridades dos dois países e o reforço da segurança interna e da ordem pública.
A iniciativa de cooperação entre as duas nações procura reforçar a segurança em áreas turísticas durante os períodos de maior afluência de turistas e eventos que atraem grandes multidões. Apesar de iniciativas similares com outros países, tais como a colaboração dos policias húngaros com colegas croatas e austríacos, a implementação das patrulhas húngaro-chinesas levantou preocupações quanto ao potencial uso destas para exercer controle ideológico sobre cidadãos chineses residindo na Hungria.
Esta preocupação surge no contexto de revelações, por parte da organização de direitos humanos Safeguard Defenders, da operação por parte da China de uma rede internacional de postos policiais ilegais, dos quais já existem dois a funcionar em Budapeste.
Fonte: Telex
Quem foram, afinal, os eleitores do Chega? Homens, poucos idosos e poucos universitários
Os 48 deputados do partido tomarão posse dentro de duas a três semanas. Procura-se entender quem, afinal, votou no Chega. Para já, e contrariando algumas ideias feitas, o partido foi o menos votado pelos jovens entre os 18-34 anos. Revelam ainda os dados que 58% dos eleitores do Chega são homens e 42% são mulheres — o que faz dele o partido mais masculino no hemiciclo.
Só 22% dos eleitores do CH têm curso superior, em contraste com o Livre, por exemplo, em que são 64%. A maioria dos eleitores, 55%, completou o ensino secundário, sendo esta a maior percentagem entre todos os partidos.
Outro preconceito falido: o Chega não cresceu à custa do PCP, mas sim da abstenção e do PS. João António, responsável técnico pelas sondagens políticas da Universidade Católica Portuguesa e do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião, afirmou ao Púbico (link abaixo) que “a transferência de voto vem sobretudo da abstenção e do PS“, o que é confirmado pelos dados das sondagens realizadas durante e antes da campanha eleitoral. O investigador sublinha que “não é a CDU que alimenta o Chega” e que, mesmo em casos pontuais onde a CDU desceu e o Chega subiu, isso não tem significado estatístico.
Ricardo Ferreira Reis, diretor do Cesop, identificou uma correlação nacional de 58% entre a presença de estrangeiros e o voto no Chega. Embora a presença de estrangeiros não seja o único fator a explicar o crescimento do Chega, verifica-se que, nos distritos onde há mais estrangeiros (sejam ou não eleitores), há também mais votos no Chega. Este é um dos vários fatores que contribuíram para o crescimento do partido.
Fonte: Público (€)
RESCALDO DAS LEGISLATIVAS
O choque fiscal é o derrotado desta eleição. PSD, CDS e IL apostaram em deixar o país na idade-das-trevas económicas, mas as suas ideias, como o choque fiscal, perderam espaço. Na República dos Pijamas.
Duas das causas com maior responsabilidade na degradação do suporte popular ao governo são traços estratégicos da governação do Partido Socialista, que situam no território da discricionariedade de quem governa. Por outras palavras, estas causas não foram suscitadas por fatores externos que obrigam o governo a tomar decisões imperfeitas ou sub-ótimas - foram causas geradas por atos que foram consciente e livremente seguidos pelo modelo governativo. Na Fractura Exposta.
CURTAS
Após Geert Wilders, líder da extrema-direita, admitir a falta de apoio para ser primeiro-ministro, os quatro partidos políticos dos Países Baixos concordaram em retomar as negociações para formar um governo de coligação tecnocrata. • Público
A Dinamarca vai introduzir o recrutamento obrigatório para mulheres, com o objetivo de fortalecer as Forças Armadas e enfrentar desafios de defesa. Esta medida procura alcançar a igualdade de género no serviço militar, segundo o ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen. •Público
A China pede às potências nucleares para reduzirem as tensões após Putin mostrar prontidão para o conflito nuclear, defendendo que um ataque nuclear seria defensivo. Contudo, planeia duplicar as suas ogivas nucleares até ao fim da década, devido a atualizações nas forças nucleares dos EUA e tensões crescentes. •Newsweek
França, Alemanha e Polónia comprometem-se a não escalar a guerra na Ucrânia, apesar de Macron sugerir enviar tropas europeias e da NATO. O trio europeu afirma uma posição de unidade e determinação em face ao conflito com a Rússia, promovendo a estabilidade sem provocar escaladas. •Lusa
O programa de governo dos Açores, liderado por José Manuel Bolieiro, foi aprovado com votos do PSD, CDS, e PPM, e abstenção do Chega, PAN e Iniciativa Liberal. A coligação governamental não necessitará de acordos adicionais para governar, com uma visão focada no futuro da região. •RR
ETIQUETAS
Um livro
O Povo é Imortal. Autoria: Vassili Grossman Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra Editora: Dom Quixote. “O Povo é Imortal, romance de guerra de um magnífico escritor russo, Vassili Grossman. O inicial primarismo ideológico de O Povo é Imortal é (felizmente) bastante mitigado na segunda metade do livro, cujos capítulos finais são (bem) temperados com uma vibração elegíaca, e até homérica”. Mário Santos
Uma exposição
Menstruum, de Ana Manso, Galeria Pedro Cera, Lisboa, até 27 de abril 2024. “Na pintura de Ana Manso, escapam-se as formas e a cor é a matéria (…) Com efeito, há algo nas pinturas de Ana Manso que as torna leves, quase etéreas, líquidas à beira da evaporação. Ela explica o processo que desperta semelhante impressão: ‘Começo com a tie-dye. Depois, muito naturalmente, introduzo o stencil, aplicado com spray. Pulverizo a tela com essa matéria, antes de realmente começar a pintar com o óleo. Depois, já não volto atrás.’” José Marmeleira
Um filme
Yannick. Realização: Quentin Dupieux Actor(es): Raphaël Quenard, Pio Marmaï, Blanche Gardin, Sébastien Chassagne. “Quentin Dupieux faz o cinema tossir. Onde encontrar, no cinema contemporâneo, uma descendência do surrealismo, do surrealismo a sério, mas que seja também um surrealismo lúdico, capaz de aliar a erosão do sentido à perturbação que o sentido, mesmo erodido, possa trazer, sem medo de arriscar a autodestruição, sem trazer guias de leitura, refractário a sinais exteriores de constituição em “metáfora”, política ou social, mas sem deixar de ter aplicação nesses domínios? Estreada no Festival de Cinema de Locarno (Suíça), uma comédia negra escrita, realizada e editada por Quentin Dupieux, depois dos excêntricos Rubber - Pneu (2010), 100% Camurça (2019) ou Mandíbulas (2020)”. Luís Miguel Oliveira
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[1.40] O assalto em curso da extrema-direita populista à UE (e seus membros). No próximo Parlamento Europeu a esquerda estará esmagada: três em cada quatro euro-deputados serão de direita. E um em cada quatro será de extrema-direita.
[1.39] A novidade das legislativas: PSD nunca governou sem mandar no partido à sua direita. Foi governo ou em maioria absoluta ou coligação "engolindo" o partido mais pequeno e fofo à direita. O PSD pisa terreno novo com o Chega. Terá de aprender a diferença entre mandar e governar.
[1.32] Sim, é possível destronar a extrema-direita. A ex-comunista alemã Sahra Wagenknecht mostra como. A receita é simples: à esquerda na economia, à direita em assuntos sociais como os imigrantes. Com essa "pedrada" Wagenknecht deixa dois coelhos a coxear: a AfD e o seu antigo partido, Die Linke.
[1.31] Autocracias na União Europeia: o fim de uma era?. Escândalos e corrupção também mancham a extrema-direita. Os regimes autocráticos na Hungria e na Polónia estão a ser desmantelados. O Daily News Hungary interroga: é o fim de uma era? Parece que sim.