[1.31] Autocracias na União Europeia: o fim de uma era?
Escândalos e corrupção também mancham a extrema-direita. Os regimes autocráticos na Hungria e na Polónia estão a ser desmantelados. O Daily News Hungary interroga: é o fim de uma era? Parece que sim.
ATUALIDADE
Autocracias na União Europeia: o fim de uma era?
Desde que em dezembro o então primeiro-ministro Mateusz Morawiecki perdeu um voto de confiança no parlamento polaco, após o seu partido conservador nacionalista, Lei e Justiça (PiS), ter vencido as legislativas a 15 de outubro, mas sem obter a maioria dos deputados, a Polónia começou a mudar. Donald Tusk regressou ao cargo que deixara em 2014 para ir para a presidência do Conselho Europeu. E não perdeu tempo, iniciando uma onda de reversão de medidas tomadas por Morawiecki e realinhando a Polónia com o projeto europeu.
Mais: a mudança que a restauração do clima de guerra global provocou entre adversários e aliados reserva à Polónia um papel de maior relevo na União Europeia. Donald Tusk sublinhou há dias a importância de uma Europa unida. “A Europa tem de se tornar um continente seguro, o que significa que a União Europeia, a França e a Polónia têm de se tornar Estados fortes, prontos a defender as suas fronteiras e o seu território”.
França, Alemanha e Polónia revitalizaram o Triângulo de Weimar visando maior auto-suficiência da Europa na defesa.
Acrescente-se que o ex-vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Piotr Wawrzyk, foi detido devido a uma investigação sobre o escândalo de troca de dinheiro por vistos. Wawrzyk, um dos ministros de Morawiecki, é acusado de exceder a sua autoridade no manuseamento de documentos do ministério, de acordo com a declaração do Bureau Central Anti-Corrupção (CBA) da Polónia, que também realizou buscas em sua casa.
Em janeiro dois deputados do PiS, incluindo o ex-ministro da Administração Interna Marius Kaminski, foram presos de forma rocambolesca na residência oficial do Presidente, onde desafiavam o mandado de detenção.
Maior crise política para Orbán
Pelos vistos, os governantes da extrema-direita também são atreitos à corrupção e aos escândalos. O que nos leva à Hungria, onde o primeiro-ministro Viktor Orbán enfrenta a maior crise política desde 2010 devido à demissão de duas aliadas próximas. A presidente húngara, Katalin Novak, e a antiga Ministra da Justiça, Judit Varga, demitiram-se depois da polémica de perdão a um cúmplice de um abusador de crianças.
Katalin Novák — a primeira mulher e a pessoa mais jovem eleita presidente húngara — disse que “cometeu um erro” após conceder um perdão que “causou perplexidade e agitação para muitas pessoas”. Com a demissão oficial de Judit Varga, a Hungria tornou-se o único país da União sem uma única ministra.
Varga, que se retira da vida pública, era a cabeça de lista do partido de Orbán às eleições europeias, abrindo também aí uma brecha.
Péter Magyar, ex-marido de Judit Varga e anteriormente envolvido em várias instituições e bancos estatais, anunciou a sua demissão de várias empresas através de uma publicação no Facebook, logo após a renúncia de Varga.
Até fevereiro de 2022, Magyar foi diretor da Diákhitel Központ Ltd, organização sem fins lucrativos estatal de apoio financeiro a estudantes, e depois ocupou cargos na direção da Magyar Közút Ltd, responsável pelas estradas húngaras, e na Volánbusz, empresa estatal de autocarros, assim como membro do conselho de supervisão do banco estatal MBH Bank.
As eleições presidenciais e europeias na Hungria, previstas para Junho, colocam Orbán sob críticas públicas atípicas, com atenção especial ao desafio de Peter Magyar.
Peter Magyar criticou, numa entrevista no canal de YouTube Partizan (um órgão de informação livre da Hungria), a corrupção endémica no país e o enriquecimento do círculo íntimo de Orbán. Condenou a concentração de riqueza enquanto a União Europeia congela biliões de euros, questionando a normalidade de “algumas famílias possuírem metade do país”.
Aprofundar: Politico, Daily News Hungary, Le Monde, Sarajevo Times
🇪🇺😮 Portugal envelhece mais depressa; idade média da população da UE atinge 44,5 anos em 2023
Portugal é o país que está a envelhecer a um ritmo mais acelerado no conjunto dos 27 países da União. Numa década, a idade mediana no país aumentou 4,4 anos.
Aumento de 2,3 anos na idade média da população da UE desde 2013
Itália regista a idade média mais alta (48,4 anos), Chipre a mais baixa (38,4 anos)
Rácio de dependência de idosos na UE sobe para 33,4% em 2023
Desde 2013, a idade média da população da União Europeia subiu 2,3 anos, alcançando 44,5 anos a 1 de janeiro de 2023. Este aumento reflete o envelhecimento demográfico na região. A diferença entre os Estados-membros é notável, variando de 38,4 anos em Chipre a 48,4 anos na Itália. A exceção a esta tendência de aumento da idade média foi observada em Malta, Suécia (onde ocorreu um decréscimo) e na Alemanha, que manteve a sua média inalterada.
O rácio de dependência de idosos (pessoas com 65 anos ou mais em relação às de idade ativa entre 15 a 64 anos) na UE cresceu para 33,4%, um aumento de 5,7 pontos percentuais desde 2013. Portugal (38,0%), Itália e Finlândia (37,8% cada) registaram os valores mais altos, enquanto Luxemburgo (21,5%), Irlanda (23,2%) e Chipre (24,7%) apresentaram os mais baixos. Polónia, Bulgária e Croácia destacaram-se com os maiores aumentos desse índice.
Cinco países da UE viram a média de idade das suas populações aumentar em 4 anos ou mais desde 2013, com Portugal liderando a lista com um aumento de 4,4 anos, seguido por Grécia, Espanha, Eslováquia e Itália, todos com um aumento de 4,0 anos.
Fonte: Eurostat
OPINIÃO
Bernardo Pires de Lima explora as complexidades e os potenciais caminhos para a estabilização e a segurança internacional, olhando para o Irão e o conflito entre Israel e a Palestina. Na Visão.
António Guerreiro critica o cenário político atual, destacando o papel dominante dos média e dos comentadores na definição do sucesso ou fracasso dos políticos, acima da substância das suas atuações. No Público.
Miguel Sousa Tavares aborda as recentes decisões judiciais na Madeira e levanta questões sobre a integridade e o estado do sistema de Justiça em Portugal. Na CNN Portugal.
CURTAS
Joe Biden acusou Vladimir Putin pela morte de Alexei Navalny, destacando a brutalidade do líder russo e lembrando o ativismo do opositor em prol da justiça política. Biden enalteceu a coragem de Navalny e previu que esta inspirará outros na Rússia • Expresso.
João Gomes Cravinho atribuiu a Putin a responsabilidade pela morte de Navalny e homenageou a resistência do opositor russo • Observador.
Raul Domingos, embaixador de Moçambique no Vaticano, identificou a ausência de cultura democrática como causa de conflitos internos, advogando a inclusão e reconciliação para alcançar paz duradoura • RTP.
O representante da República para a Madeira foi recebido por Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém, para informar sobre a situação política no arquipélago após a demissão do presidente do Governo Regional • Visão.
Em Moscovo, iniciou-se o novo julgamento do defensor dos direitos humanos Oleg Orlov, que expressou pessimismo quanto ao desenrolar do processo • CNNP.
O Partido Conservador, liderado por Rishi Sunak, sofreu duas derrotas em eleições parciais no Reino Unido, perdendo assentos para o Partido Trabalhista em Kingswood e Wellingborough • Público.
Pedro Nuno Santos defendeu que a procuradora-geral da República deveria dar explicações públicas e apelou por um consenso alargado para a reforma do sistema de justiça em Portugal • Público.
Ferro Rodrigues pediu a intervenção do Presidente e sugeriu a convocação do Conselho de Estado para debater a crise no sistema de justiça, após alegada irresponsabilidade do Ministério Público • RTP.
Rui Rio, ex-líder do PSD, exortou à demissão da procuradora-geral da República, criticou a inação de partidos e do Presidente da República perante a necessidade de reforma da justiça • RTP.
ETIQUETAS
Um espectáculo
Take, de São Castro & António M Cabrita, Companhia Instável, Porto e regiões norte e centro, a partir de 16 de fevereiro 2024. “A Companhia Instável é uma presença segura no Porto que dança. É neste contexto “salutar” que a Instável celebra 25 anos de actividade, com uma programação que arranca esta sexta-feira no Teatro Municipal Rivoli com o espectáculo Take, da dupla São Castro & António M Cabrita (às 19h30, com repetição no sábado à mesma hora), e alastrará a outros pontos das regiões Norte e Centro. Take terá passagem pelo Teatro Aveirense a 8 de Março; a 13 de Abril, o Cineteatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira, recebe Timber, de Roberto Olivan; e em Maio haverá peças de Mafalda Deville, Ana Isabel Castro com Deeogo Oliveira, e Leo Calvino com Joana Couto em São João da Madeira, Vila Real e Idanha-a-Nova. Até ao fim do ano, a Instável fará um total de 56 apresentações.” Mariana Duarte
Um concerto
Luís Madureira, Modéstia à parte, Casa da Música Jorge Peixinho, Montijo, de 16 a 25 de Fevereiro 2024. “Luís Madureira, 50 anos de uma vida de canções. Uma vida em canções com um trajecto traçado pela música. Um monólogo musical com um quarteto de músicos. Um recital. Modéstia à parte é tudo isso, sim. E mais alguma coisa: uma reunião de amigos recentes à volta de materiais de uma vida, musicais e não só. Jovens músicos e actores juntaram-se à volta de Luís Madureira e do seu percurso de vida e de trabalho artístico.” Pedro Boléo
Um livro
O Poder das Palavras: A arte de conversar. Autoria: Mariano Sigman
Tradução: Ana Pinto Mendes Editora: Temas e Debates, 2023. “Mariano Sigman: ‘Os políticos que temos são fanáticos das suas próprias ideias’. Versa sobre o papel que as boas conversas têm para fazer as pessoas reflectir e, potencialmente, repensar as suas convicções. É algo que Sigman vê como chave para a evolução, pessoal e social, com exemplos que vão desde fracassos políticos a episódios do quotidiano, à natureza de personagens da banda desenhada. Durante a conversa, porém, também partilha as suas preocupações sobre o impacto das redes sociais e de novas formas de IA na forma como as pessoas formam ideias.” Karla Pequenino
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[1.30] Escalada de guerra no terreno, de Kharkiv a Rafah, e na diplomacia, de Bruxelas a Washington. Os sinais de uma escalada do movimento bélico global aumentam de volume e de frequência. A UE quer revitalizar o Triângulo de Weimar para reforçar a defesa. A NATO teve um recorde de investimento.
[1.29] Uma Visão para Além de 2030: Comissão Europeia propõe corte de 90% nas emissões. É um documento com ambição, publicado numa altura delicada: eleições dentro de 4 meses, agricultores nas ruas e partidos conservadores a falar em "radicalismo verde". Mas temos um plano.
[1.28] A entrada da extrema-direita no Governo é praticamente inevitável. A direita deverá o crescimento eleitoral todo ao Chega, o terceiro partido mais votado deste século. Não há desculpas, cenários ou artimanhas para o marginalizar. Nem vontade, na AD.