[1.32] Sim, é possível destronar a extrema-direita. A ex-comunista alemã Sahra Wagenknecht mostra como
A receita é simples: à esquerda na economia, à direita em assuntos sociais como os imigrantes. Com essa "pedrada" Wagenknecht deixa dois coelhos a coxear: a AfD e o seu antigo partido, Die Linke.
Eleições e projeções marcam o início da semana. Da Alemanha sopra o vento da esperança no que toca a soluções para reduzir a extrema-direita, com o novo partido resultante de uma dissidência entre os comunistas a levar a AfD a perder quatro eurodeputados. Em Portugal a sondagem da semana mais não fez que confirmar a tendência, à medida que as legislativas se aproximam: quando faltam três semanas é praticamente certo o cenário de uma escassa maioria da direita no Parlamento e a subsequente formação de um governo com pouca força liderado por uma AD fraca, mesmo que não por Luís Montenegro.
ATUALIDADE
Sim, é possível destronar a extrema-direita. A ex-comunista alemã Sahra Wagenknecht mostra como
O essencial em quatro pontos
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) prevista para alcançar sete assentos, superando o Die Linke
Potencial união ao grupo The Left poderá elevar representação alemã para uns inéditos 11 eurodeputados
Incerteza sobre alinhamento da BSW no Parlamento Europeu; relações tensas com Die Linke complicam possível colaboração com grupo The Left
Diferenças de tom político de Wagenknecht atraem eleitores conservadores e da extrema-direita
O acontecimento
Após a sua saída do partido Die Linke, em outubro de 2023, Sahra Wagenknecht criou um novo partido, Bündnis Sahra Wagenknecht – Für Vernunft und Gerechtigkeit (Aliança Sahra Wagenknecht - Pela Sensatez e Justiça, abreviada para BSW), que nas projeções das sondagens para o Parlamento Europeu (PE) segue já com prováveis sete euro-deputados. Este resultado representa um movimento significativo na política alemã — e não só. O impacto imediato fez-se sentir na projeção de mandatos alemães no PE, e em particular na queda acentuada do partido de extrema-direita AfD, que em três semanas, desde o anúncio do novo partido, perdeu quatro mandatos, passando de 22 para 14 (ver figura abaixo).
O BSW propõe uma política social tradicionalmente de esquerda combinada com uma política migratória associada à direita. As diferenças políticas entre Wagenknecht e o Die Linke incluem um tom mais conservador e cético em relação à União Europeia, o que tem atraído eleitores da extrema-direita e conservadores.
Além do tema dos migrantes, que domina tanto a política alemã como a europeia, a líder do BSW posiciona-se como feroz crítica do atual governo alemão, que considera o mais fraco de sempre. “A AfD é eleita porque tanta gente está com raiva! Esta é a verdade amarga que os políticos da ‘coligação semáforo’ não querem entender. Ignoram que é a sua política que está a empurrar muitas pessoas para os braços da AfD. É tempo de uma mudança fundamental, de uma política económica sensata e justa”, disse Sahra Wagenknecht num programa recente da ZDF.
Sahra Wagenknecht crítica ainda a política de boas vindas aos refugiados de Angela Merkel, iniciada em 2015, argumentando que sobrecarrega a Alemanha. O novo partido promove uma imigração limitada e uma integração bem-sucedida como meios de enriquecimento cultural sem sobrecarregar o país.
Esta mudança na dinâmica política alemã reflete-se não apenas nas projeções de mandatos, mas também na popularidade crescente de Wagenknecht, desafiando a liderança existente dentro do grupo The Left no PE.
Isto a confirmar-se que o BSW entra mesmo para The Left juntamente com Die Linke e o Partido de Proteção Animal, elevando a representação alemã para 11 assentos, um aumento significativo em comparação aos seis de 2019. Este potencial alinhamento tornaria o BSW no líder do grupo, ultrapassando outros partidos significativos como Sinn Féin da Irlanda e La France Insoumise.
As tensões entre Wagenknecht e o Die Linke, de que chegou a ser líder parlamentar e eurodeputada, atingiram um ponto crítico, com o líder Martin Schirdewan a expressar o seu desapontamento com os desertores, incitando-os a devolver ao Die Linke os seus lugares no parlamento alemão. A formação do BSW representa uma ameaça direta ao Die Linke, podendo custar-lhe o status de grupo no parlamento, a liderança de The Left e privilégios financeiros associados, além de um número significativo de votos.
Fontes: Euractiv, EuropeElects, ZDF
Europeias 2024: recuo de liberais e extrema-direita nas projeções de mandatos
De acordo com a ponderação e avaliação das sondagens mais recentes feitas pelo Europe Elects, o Partido Popular Europeu (PPE, cá a AD) permanece o maior grupo no Parlamento Europeu com 180 lugares, registando um aumento de um lugar. A Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D, cá o PS) segue com 140 lugares, menos dois do que anteriormente.
A novidade do mês é o recuo do Identidade e Democracia (ID, cá o CH), que perdeu dois lugares, tendo agora uma projeção de 91, marcando a sua primeira perda após dez aumentos consecutivos.
O grupo GUE/NGL (ou The Left, cá o BE e o PCP) é o maior vencedor do mês, com um ganho de seis lugares, totalizando agora 42. Deve isso ao novo partido alemão de Sahra Wagenknecht.
A Renew Europe (RE, cá a IL) perdeu mais dois lugares, situando-se agora nos 82.
Apesar das perdas e ganhos, em conjunto o PPE, S&D e RE continuam a deter a maioria absoluta, com 402 dos 705 lugares.
Os Greens/European Free Alliance (G/EFA, cá o PAN e o Livre) estão previstos para ganhar 51 lugares, um aumento de dois lugares.
Os Não-Inscritos (NI) têm agora um lugar a menos, totalizando 49, enquanto os partidos ainda não afiliados devem ficar com cinco lugares, também menos um.
Fonte: Europe Elects
FALTAM 20 DIAS PARA AS LEGISLATIVAS 2024
Nova semana, nova sondagem. Com distribuição de indecisos, dá a vitória do PS sobre a AD e o cenário de maioria da direita no Parlamento, graças aos votos do CH. Projetando os resultados, isto é, se nada inverter esta tendência nos próximos 20 dias, a consequência lógica e praticamente inevitável é um governo da AD com apoio do CH e da IL, restando apenas ao Presidente da República regatear que tipo de apoio poderá Luís Montenegro (ou quem o substituir na liderança da AD) negociar.
🌍😌 Presidente de Cabo Verde defende reforma da União Africana e governação multinível
Efetiva distribuição de responsabilidades entre União Africana, estados e organizações sub-regionais enfatizada.
Conflitos na Líbia e tensões entre Etiópia e Somália destacam necessidade de diálogo e cooperação regional.
Durante a 37ª cimeira da União Africana, o Presidente da República de Cabo Verde defendeu uma governação multinível e a reforma da União Africana para melhor lidar com conflitos e questões de segurança no continente. Enfatizou a importância de uma clara distribuição de responsabilidades entre a União Africana, organizações sub-regionais e os Estados, para evitar sobreposições e facilitar o diálogo e resolução de conflitos.
José Maria Neves apelou para a revalorização estratégica da CEDEAO como parte desta reforma, visando a articulação entre segurança e integração económica. Sublinhou também o papel da União Africana na gestão de crises políticas, como a do Senegal, e a necessidade de adaptação organizacional para a participação efetiva de África no G20. Apoiou a candidatura de Angola para a presidência rotativa da União Africana em 2025, destacando a experiência do país na promoção da paz.
Fonte: Expresso das Ilhas
CURTAS
“Todas as pontes já foram queimadas”. As formas de responsabilizar a Rússia se esgotaram. Porque o Ocidente não tem resposta para a morte de Alexei Navalny - e o que isso significa para a política dos Estados Unidos e da Europa. • BBC News Russian
A EDF Energy revelou um prejuízo de €12.900 milhões relacionado com o atraso e custo adicional do projeto da central nuclear de Hinkley Point C, no Reino Unido, cujo término está previsto para 2031, com um custo estimado até £46 mil milhões. • The Guardian
Ursula von der Leyen procura a reeleição como Presidente da Comissão Europeia, tendo o apoio do seu partido alemão (CDU) e do grupo político europeu afiliado (PPE); a decisão final ocorrerá em Bucareste. • AP
Quatro acordos de financiamento no valor de 90 milhões de euros entre a União Europeia e Angola foram firmados para desenvolvimento em áreas como economia azul e justiça; Angola beneficiará de 275 milhões de euros até 2024. • ANGOP
O concurso para a estação de dessalinização de água do mar do Algarve, orçamentado em 90 milhões de euros, foi lançado, procurando a resiliência hídrica da região. Tem a conclusão prevista para 2026. • A Voz do Algarve
O juiz da Operação Influencer refutou detalhadamente as objeções do Ministério Público quanto às medidas de coação impostas aos arguidos, desviando-se do procedimento usual em tais decisões judiciais. • Expresso
O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi declarado persona non grata por Israel após ter comparado ações militares israelitas com o Holocausto, em uma declaração considerada anti-semita pelo governo israelita. • RTP
Centenas de portugueses residentes no estrangeiro perderam o direito de voto nas próximas eleições legislativas por não pedirem o recenseamento ao renovarem o cartão de cidadão, criando revolta nas comunidades. • RTP
Organizações ambientais apelam aos partidos políticos das eleições de 10 de março para darem prioridade ao combate ao desperdício alimentar e considerarem o impacto ambiental desse desperdício em seus programas eleitorais. • Visão
Os diplomatas da União Europeia debatem tensões no Mar Vermelho e detalhes de uma nova missão marítima, paralelamente à discussão sobre suspensão da cooperação com Israel devido às tensões no Médio Oriente. • RTP
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Um filme
Os Excluídos. Realização: Alexander Payne Actor(es): Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph, Dominic Sessa. “Os Excluídos não é um filme "passado" em 1971. Isto é: é essa a data dos acontecimentos que narra. Mas o seu idealismo, a sua utopia, se quisermos dar esse peso ao desafio, é fazer de 1971 uma experiência do "presente" do espectador. Acordando uma linguagem e uma escrita esquecidas, transportando a sala para esse outro tempo, outras expectativas narrativas, outras rotinas, mas com possibilidades de reconhecimento. Não se trata de fetichismo reconstrutivo ou de nostalgia do "antigo", nem de sobrevalorização do vintage. Não se trata de decoração, mas é manifesta.” Vasco Câmara
Um concerto
L’USAfonia – The Soul of Black History Month, Teatro São Luiz, Lisboa, 27 de fevereiro 2024, 19 horas, Entrada livre sujeita à lotação da sala. Artistas lusófonos interpretam o songbook afro-americano, um espetáculo musical com a participação de músicos lusófonos, que interpretam temas do cancioneiro americano, do período entre 1965 e 1975, passando pelo soul, jazz e r&b.
Um livro
Terra Queimada: Da Era Digital ao Mundo Pós-Capitalista. Autoria: Jonathan Crary Tradução de Nuno Quintas Editora: Antígona, 2023. “Jonathan Crary: ‘Mas alguém acredita seriamente que o capitalismo vai continuar?’ Apoiado numa série de contributos teóricos de diversos autores, critica a modernização posta em marcha pelo Ocidente (transformada em modernização tecnológica a partir do século XIX), o capitalismo, as grandes empresas tecnológicas, ‘as atrofiantes rotinas online’, que, alerta, aceitamos como sinónimas da vida.” José Marmeleira
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[1.31] Autocracias na União Europeia: o fim de uma era?. Escândalos e corrupção também mancham a extrema-direita. Os regimes autocráticos na Hungria e na Polónia estão a ser desmantelados. O Daily News Hungary interroga: é o fim de uma era? Parece que sim.
[1.28] A entrada da extrema-direita no Governo é praticamente inevitável. A direita deverá o crescimento eleitoral todo ao Chega, o terceiro partido mais votado deste século. Não há desculpas, cenários ou artimanhas para o marginalizar. Nem vontade, na AD.
[1.26] Açores: Chega ocupa lugar do CDS como 3º partido, maioria absoluta escapa a PSD. O "centrão" continua a dominar a política açoreana. O CH cresceu abaixo das projeções. E Bolieiro poderá arriscar um governo minoritário.