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[E.21] Legislativas 2025: da erosão do centro-direita em Braga à incerteza do Porto
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[E.21] Legislativas 2025: da erosão do centro-direita em Braga à incerteza do Porto

O centro-direita está em convulsão no litoral norte: PSD cede terreno, PS resiste melhor no Porto — círculo em turbulência eleitoral e incerteza, com os dois grandes blocos quase empatados

mai 09, 2025
∙ Pago
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Está a ler o sexto e penúltimo número da série de Especiais VamoLáVer dedicados às eleições legislativas — e já com alguns indicadores úteis para as autárquicas. Enquadramos os 22 círculos eleitorais em “retratos” elaborados com o foco em aumentar as escolhas dos eleitores de cada um deles; isto é: fornecendo um quadro numérico e de interpretação que permita a cada eleitor que leva a política a sério poder usar melhor o seu voto, seja na direção de eleger um deputado de um partido, seja na direção contrária, de contrariar esse partido. Por círculo, vemos quais são os partidos em melhor posição para eleger e quais os partidos que podem ser contrariados.

Nesta edição analisamos dois círculos fundamentais do Norte: Braga e Porto. Somados, elegem 59 deputados — um em cada quatro dos 230 mandatos na Assembleia da República.

Pode ler aqui os anteriores:

  • [E.16] Quem pode ganhar (e perder) mandatos nas Legislativas 2025

  • [E.17] Legislativas 2025: as trocas a Norte, com o CH a irromper também no eleitorado da direita

  • [E.18] Legislativas 2025: Beja e Portalegre podem mudar de eleitos

  • [E.19] Legislativas 2025: crise demográfica deixa Santarém, Viseu e Guarda com menos representatividade

  • [E.20] Legislativas 2025: o que pode mudar nos círculos voláteis de Aveiro, Setúbal e Faro

ATENÇÃO: este é um artigo longo e por isso é provável que na leitura por e-mail surja cortado no final. Algumas aplicações de correio eletrónico cortam as mensagens que consideram demasiado extensas. Se for o caso, no final estará o botão para ler o resto no site.

🗳️🏛️🇵🇹 Índice

Capítulos abertos

  • 🧮 🎯 Mas olhar para a distribuição de mandatos é importante? A explicação

    • Também ilumina as contas do voto útil

  • 🟠 Braga: guinada violenta à direita

    • Bilhete de identidade eleitoral em 2024: a erosão do PSD

    • Matemática favorece eleição do deputado do BE

    • AD com um mandato periclitante

    • 🧑‍🤝‍🧑 🏛️ Quem são os principais candidatos

    • 🧑‍🤝‍🧑 📢 Desafios: desigualdades persistentes e dificuldade de retenção de talento qualificado

Capítulos fechados

  • 🟠 Porto: turbulência eleitoral e incerteza “presa” por 72 votos

    • Bilhete de identidade eleitoral em 2024: acentuada pulverização dos votos

    • PAN ficou a 806 votos de eleger

    • AD tem um mandato "preso" por 72 votos, CH a 266 votos de perder um deputado

    • 🧑‍🤝‍🧑 🏛️ Quem são os principais candidatos

    • 🧑‍🤝‍🧑 📢 Desafios: crise habitacional, problemas estruturais no emprego, pobreza e exclusão social persistem incompreensivelmente

🗳️🏛️🇵🇹

🧮 🎯 Mas olhar para a distribuição de mandatos é importante?

Resposta rápida: é muito importante.

Quando perante sondagens e tracking polls (que são coisas diferentes entre si) sabemos que existe uma margem de erro; atribuímo-la, numa explicação apressada, à imperfeição das sondagens, que avaliam uma amostra dos eleitores. É verdadeiro, mas não é o único fator. A distribuição dos mandatos em cada círculo é uma variável indominável e cria muitos dos desvios entre as sondagens e os resultados das eleições. E, ao contrário de outras variáveis que se podem corrigir atendendo ao conhecimento do eleitorado, esta é demasiado imponderável.

Vou ilustrar com um gráfico dos resultados de 2024 em Braga, um dos dois círculos apresentados nesta edição.

Agora faço uma pergunta ao leitor: a que distância de eleger ficou o primeiro dos partidos com zero mandatos, o BE?

A resposta intuitiva é errada. Não: o Bloco não ficou a 12 592 votos de eleger um deputado, nem a 2,26%.

Mais (ou pior para a nossa intuição): dos 19 mandatos disputados, o mandato que iria para o BE caso o partido tivesse somado os votos necessários não era o da IL.

As respostas certas: o BE ficou a 1 670 votos de eleger o seu deputado em Braga, e quem o teria perdido teria sido a AD.

Para chegar à resposta certa não é preciso muito: apenas olhar para a progressão da distribuição de mandatos e votos. Apresentamos hoje a progressão em Braga e no Porto, como apresentámos as de todos os círculos eleitorais já analisados, juntamente com respostas a duas perguntas: que mandatos estão mais vulneráveis, que partidos ficaram mais perto (e por que margem, realista ou irrealista) de eleger.

Também ilumina as contas do voto útil

Por outro lado, e aqui já se entra num domínio mais técnico mas ainda assim completamente acessível ao cidadão, além de curial pois por vezes está presente nos discursos de campanha, permite descortinar o voto útil. É com a extensão da progressão da distribuição pelo método de Hondt que os partidos fazem as suas contabilidades a coligações pré-eleitorais.

Em Braga, por exemplo, os 8 215 votos do CDS em 2022 não deram mais um deputado à AD em 2024, mas fizeram diferença: sem eles, o PSD teria perdido um mandato (pelo menos) para o CH. Ou seja: sim, o “voto útil” funcionou para a AD em Braga.

Funcionaria em 2025 para o PS caso contasse com os 12 926 votos do Livre há um ano? Talvez, mas há que ter presente que as situações do L e do CDS são muito diferentes nos seus tempos e espaços, são mesmo opostas. Enquanto este está num ciclo de definhamento eleitoral, o primeiro é um partido em crescimento. Reportando-nos só a Braga, o CDS vem numa trajetória de 19 127 votos e um deputado em 2019 para 8 215 votos em 2022; o L cresce desde os 2 333 votos em 2015 para 3 179 em 2019, 3 925 nas eleições de 2022 e 12 926 no ano passado.

[ E por falar em voto útil, PS e L, um aperitivo para a análise de Lisboa com que esta série VamoLáVer fecha na próxima sexta-feira: nesse círculo seria contraproducente. ]

🗳️🏛️🇵🇹

🟠 Braga: guinada violenta à direita

A quebra do PS em 2024 estava traçada, depois da maioria absoluta de 2022 (42% em Braga). Mas os 12 pontos percentuais perdidos não transitaram para o centro-direita tradicional; na realidade, este também perdeu terreno, com AD a somar menos 3% dos votos obtidos pelos dois partidos da coligação.

O círculo eleitoral de Braga deu uma guinada violenta à direita no ano passado. Violenta porque modificou até o perfil do círculo: ao longo das últimas eleições as oscilações nunca tiraram o poder ao centro, com os partidos de protesto, e os novos partidos, a nunca passarem dos dois deputados. Subitamente, em 2024 passaram a cinco — quatro deles de extrema-direita.

Esta erosão do centro castigou particularmente o PSD. Há 15 anos “valia” 40% dos votos, com os 10% do CDS a levarem o centro-direita para o território dos 50% — metade do eleitorado. Hoje vale um terço. O resto foi em parte para o partido de renovação do tecido eleitoral do centro-direita, a IL, e no grosso para a extrema-direita do CH.

Bilhete de identidade eleitoral em 2024

  • Eleitores inscritos: 780 163

  • Votos expressos: 556 387 (71,31%)

  • 19 mandatos

    • 8: AD 184 468 (33,16%)

    • 6: PS 157 099 (28,24%)

    • 4: CH 93 826 (16,86%)

    • 1: IL 33 930 (6,10%)

Desempenho comparado

  • A AD tem um desempenho melhor em Braga do que a nível nacional (+5.14 pontos percentuais). O PS tem um desempenho semelhante (+0.24 pontos percentuais). O CH tem um desempenho pior (-1.21 pontos percentuais). A IL e o ADN têm um desempenho melhor. O BE, o L, o PCP-PEV e o PAN têm um desempenho pior.

🎤 Número de iniciativas parlamentares apresentadas por deputados eleitos por Braga

Por partidos:

  • IL: 93

  • CH: 88

  • PS: 69

  • AD: 52

📊 Progressão dos mandatos

Nas anteriores edições apresentámos a progressão de mandatos numa tabela, que tem melhor legibilidade. Mas nesta, como na próxima, a dimensão vertical da tabela, alongada pelo maior número de mandatos, acaba por criar dificuldades acrescidas, sobretudo em ecrãs menores, pelo que se optou por uma lista em texto.

Em cada linha o número do mandato atribuído, o partido, o seu divisor entre parêntesis (que corresponde na prática ao número do deputado por esse partido) e o quociente. Recordamos que na segunda edição explicamos o método de Hondt, usado em Portugal e na generalidade das democracias para dividir os votos pelos partidos: 🍰 Conhecendo o método de Hondt — que penaliza os círculos pequenos.

Como foram atribuídos os 19 mandatos do círculo de Braga:

1 - AD (1) 184468
2 - PS (1) 157099
3 - CH (1) 93826
4 - AD (2) 92234
5 - PS (2) 78549
6 - AD (3) 61489
7 - PS (3) 52366
8 - CH (2) 46913
9 - AD (4) 46117
10 - PS (4) 39274
11 - AD (5) 36893
12 - IL (1) 33930
13 - PS (5) 31419
14 - CH (3) 31275
15 - AD (6) 30744
16 - AD (7) 26352
17 - PS (6) 26183
18 - CH (4) 23456
19 - AD (8) 23058

😁 Se existisse mais um mandato, o 20º, que partido o teria resgatado?

O PS teria obtido o seu sétimo deputado por Braga caso o círculo elegesse 20 em vez de 19.

🤞 Partidos mais perto de eleger o seu primeiro deputado?

Em Braga, nas legislativas de 2024, os dois partidos que ficaram mais perto de eleger foram:

  1. Bloco de Esquerda – quociente de 21 388 votos, a apenas 1 670 votos do último mandato atribuído;

  2. Livre – quociente de 12 926 votos, a 10 132 votos de distância.

Ou seja, o BE esteve claramente próximo de conquistar um lugar neste círculo e é o partido com reais hipóteses de conquistar um mandato caso recupere algum terreno.

😰 Partido mais perto de perder um deputado?

O último deputado eleito por Braga é da AD e entrou com o quociente de 23 058 — apenas a 616 votos do próximo quociente, de 22 442, que foi do PS. Assim, este mandato não está matematicamente seguro, pelo contrário, além do PS também o BE entra na disputa, com 1 670 votos de diferença.

Mas o último mandato do CH também não está seguro: o PS está apenas a 1 014 votos.

🧑‍🤝‍🧑 🏛️ Quem são os principais candidatos

  • Francisco Louçã e Ricardo Cerqueira (BE)

  • António Peixoto e Rodrigo Taxa (CH)

  • Rui Rocha (presidente do partido) e Olga Baptista (IL)

  • Jorge Araújo e Teresa Alves da Mota (L)

  • Tiago Teixeira e Sandra Pimenta (PAN)

  • Sandra Cardoso e Inês Rodrigues (PCP-PEV)

  • Hugo Soares e Ricardo Araújo (AD)

  • José Luís Carneiro e Sandra Lopes (PS)

🧑‍🤝‍🧑📢 Braga enfrenta desafios económicos e sociais entre crescimento industrial e assimetrias territoriais

O círculo eleitoral de Braga, o terceiro maior do país, a par de Setúbal, com 19 mandatos, enfrenta atualmente um conjunto de desafios económicos e sociais que refletem tanto o dinamismo industrial da região como as suas fragilidades estruturais.

Economia em transformação com desigualdades persistentes

Apesar de o distrito apresentar uma taxa de desemprego de 5,6% (ligeiramente abaixo da média nacional de 6,5%), segundo dados do IEFP de dezembro de 2023, a precariedade laboral continua a afetar significativamente a região. O salário médio mensal situa-se nos 1.054 euros, cerca de 16% abaixo da média nacional (1.258 euros), de acordo com os últimos dados da PORDATA.

A indústria têxtil e do vestuário, tradicional motor económico da região, continua a enfrentar desafios de competitividade global. Entre 2019 e 2023, o distrito perdeu cerca de 8% das empresas deste setor, afetando mais de 3.000 postos de trabalho, segundo a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.

A inflação agravou o custo de vida, com os preços da habitação a aumentarem 23% nos últimos cinco anos em Braga e Guimarães. O valor mediano das rendas em Braga cidade atingiu os 6,86€/m², representando um aumento de 17% entre 2021 e 2023, segundo o INE.

Assimetrias territoriais e envelhecimento populacional

O distrito apresenta fortes assimetrias territoriais. Enquanto Braga e Guimarães mantêm dinâmicas demográficas positivas, municípios como Terras de Bouro e Vieira do Minho perderam mais de 10% da população na última década.

O envelhecimento demográfico é uma realidade incontornável: o índice de envelhecimento no distrito subiu de 113,3 em 2013 para 153,7 em 2023, de acordo com o INE. Em alguns concelhos do interior, este índice ultrapassa já os 200 idosos por cada 100 jovens.

Na saúde, o distrito enfrenta carências significativas. Nos hospitais de Braga e Guimarães, as listas de espera para cirurgias ultrapassaram os 12.800 utentes em 2023, um aumento de 15% face a 2019. O rácio de médicos por 1.000 habitantes (3,2) permanece abaixo da média nacional (5,6).

A taxa de risco de pobreza na região Norte, onde se insere Braga, situava-se nos 18,9% em 2022, ligeiramente acima da média nacional (17%), segundo o INE. A situação é particularmente grave em municípios do interior, onde atinge valores próximos dos 25%.

Quanto à educação, apesar da presença da Universidade do Minho, a região continua a enfrentar o desafio da retenção de talento qualificado: 31% dos graduados deixa o distrito nos primeiros cinco anos após a conclusão dos estudos.

Estes dados revelam um território com forte identidade industrial, mas a braços com desigualdades socioeconómicas significativas que exigem respostas estruturadas no próximo ciclo político.

🗳️🏛️🇵🇹

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