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[E.19] Legislativas 2025: crise demográfica deixa Santarém, Viseu e Guarda com menos representatividade
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[E.19] Legislativas 2025: crise demográfica deixa Santarém, Viseu e Guarda com menos representatividade

Nos 50 anos desde as primeiras eleições livres, estes três círculos perderam nove deputados. No "cavaquistão" o PS tem um mandato em risco, o CH tem o seu ponto fraco na Guarda

abr 25, 2025
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Publicado no dia 25 de abril de 2025, data em que Portugal comemora 50 anos sobre as suas primeiras eleições livres, este é o quarto número da série de Especiais VamoLáVer dedicados às eleições legislativas — e já com alguns indicadores úteis para as autárquicas.

Assinalamos a efeméride com uma breve análise aos dados, que mostram o que mudou na representatividade dos portugueses na Assembleia da República neste meio século. Por coincidência, os três círculos em análise estão entre os que maior erosão representativa sofreram.

Nesta edição analisamos três círculos do interior centro e norte de Portugal, Santarém, Viseu e Guarda. Somados, elegem 20 deputados — não chegam a representar 10% dos 230 mandatos na Assembleia da República. Mas há 50 anos, na eleição para a Assembleia Constituinte, tinham mais nove representantes no hemiciclo.

Pode ler aqui os anteriores:

  • [E.16] Quem pode ganhar (e perder) mandatos nas Legislativas 2025

  • [E.17] Legislativas 2025: as trocas a Norte, com o CH a irromper também no eleitorado da direita

  • [E.18] Legislativas 2025: Beja e Portalegre podem mudar de eleitos

ATENÇÃO: este é um artigo longo e por isso é provável que na leitura por e-mail surja cortado no final. Algumas aplicações de correio eletrónico cortam as mensagens que consideram demasiado extensas. Se for o caso, no final estará o botão para ler o resto no site.

🗳️🏛️🇵🇹 Índice

Capítulos abertos

  • 🏛️ Em 50 anos, o que mudou na representatividade parlamentar?

    • O fim do Estado macrocéfalo

    • A diversidade eleitoral (com uma singularidade chamada Partido Socialista)

  • Recordando cinco capítulos essenciais

  • 🌹 Santarém: a nostalgia da importância perdida

    • Bilhete de identidade eleitoral em 2024: CH troca com BE, centro aguenta-se

    • Dos que não elegeram, o BE precisa de mais 8 314 votos para chegar ao patamar de eleição

    • CH relativamente vulnerável a perda de mandato

    • 🧑‍🤝‍🧑📢 Desafios: gerir a dicotomia entre a agricultura ribatejana e a desindustrialização

Capítulos exclusivos

  • 🟠 Viseu: onde a esquerda não entra, PS tem um mandato em risco

    • Bilhete de identidade eleitoral em 2024: Costa foi outlier, direita regressou em força

    • Entre os que não elegeram, o ADN é o partido que se segue, mas muito longe do patamar

    • PS muito vulnerável com vantagem escassa de apenas 127 votos

    • 🧑‍🤝‍🧑📢 Desafios: despovoamento e envelhecimento acentuados

  • 🟠 Guarda: ponto fraco do CH, perseguido por AD e PS

    • Bilhete de identidade eleitoral em 2024: perdeu metade da representatividade de há 50 anos e viu o CH trepar, mas menos que no Interior em geral

    • Entre os que não elegeram o BE seria o primeiro candidato, mas demasiado longe da fasquia de acesso

    • O mandato do CH é particularmente vulnerável: a AD ficou a 1 304 votos e o PS a 2 255

      🧑‍🤝‍🧑📢 Desafios estruturais de despovoamento e desenvolvimento económico, com crise demográfica severa

🗳️🏛️🇵🇹

Em 50 anos, o que mudou na representatividade parlamentar?

O fim do Estado macrocéfalo

Entre as primeiras eleições livres realizadas em Portugal, apenas um ano depois da Revolução dos Cravos que pôs fim ao regime ditatorial, e as que terão lugar dentro de aproximadamente três semanas, há comparações que se podem fazer ao nível da representatividade parlamentar. O que mudou reflete as duas principais modificações operadas em meio século:

  1. o crescimento económico do litoral, especialmente a Norte, com o seu impacto direto na demografia, levando à perda de população nos distritos do Interior

  2. o fim do Estado macrocéfalo, com Lisboa a perder a hegemonia, cedendo importância política sobretudo para o Porto.

Como fica patente de forma eloquente no gráfico, a região dominada pelos distritos historicamente poderosos de Lisboa e Santarém, foi a que mais cedeu representatividade, em primeiro lugar para o litoral Norte com Porto, Braga e Aveiro a crescerem de importância económica, logo política, mas também para Setúbal, o distrito que trocou de lugar com Santarém no que toca a crescimento económico e populacional.

É negligenciável a diferença de finalidade entre as duas eleições, sendo a de 1975 para eleger os 250 representantes que haveriam de elaborar a Constituição da República Portuguesa, e a do próximo dia 18 para eleger 230 representantes que sufragarão o próximo Governo. O mapa da representatividade não sofreu nenhuma alteração da Constituinte para as primeiras Legislativas, realizadas pouco mais de um ano depois, em julho de 1976.

Ainda em nome da evocação histórica, note-se que Macau e Moçambique ainda eram territórios portugueses e como tal elegeram os seus representantes; por outro lado, no quadro de 1975 as capitais distritais açoreanas de Ponta Delgada, Angra e Horta elegiam nessa condição, bem como a capital da hoje Região Autónoma da Madeira, Funchal, sendo que decidi juntá-las nos círculos eleitorais atuais (Açores e Madeira) por facilidade de linguagem.

Diversidade eleitoral

As primeiras forças partidárias constituídas em Portugal foram-no para a histórica eleição cujo 50º aniversário se celebra no dia de publicação deste quarto Especial VamoLáVer dedicado às Legislativas 2025. Concorreram 14 partidos, dos quais 12 formados em Portugal e dois exclusivos da realidade de Macau.

A maioria deles desapareceu. Mas seis são o “coração” do sistema partidário até aos dias de hoje: Partido Socialista, Partido Popular Democrático (hoje Partido Social Democrata), Partido Comunista Português, Centro Democrático Social, União Democrática Popular (hoje fundida no Bloco de Esquerda) e Partido Popular Monárquico.

Ou seja, e visto ao contrário, em 2025 temos quatro partidos que não existiram, em nenhuma variante, corrente ou designação, ao longo deste meio século, sendo todos eles “filhos” das mudanças entretanto operadas em Portugal e no mundo: Livre, Iniciativa Liberal, Chega e Pessoas Animais e Natureza. Há mais alguns, estes são os referidos porque elegem sempre representação parlamentar de eleição para eleição na última década.

Apenas três partidos nunca mudaram de nome, PS, PPM e PCP. Dos três, o Partido Socialista comporta uma singularidade: concorreu sempre sozinho, com uma única exceção, a Frente Republicana e Socialista com que Mário Soares tentou em 1980 copiar o método usado por Sá Carneiro, do PPD, de concorrer em coligação para tirar partido do método de Hondt e vencer as eleições (a AD vencera em 1979).

Este, entre outros indicadores, mostra o PS como o partido mais estável dos 50 anos da democracia em Portugal.


Recordando cinco capítulos essenciais

No dois primeiros especiais desta série há cinco capítulos importantes para compreender melhor os cenários eleitorais e o objetivo desta cobertura das eleições de 18 de maio, tão diferente da que podemos encontrar nos jornais e televisões. Não vale a pena repetir em todos os números, mas ficam os links para os novos leitores e para os que tenham passado em claro — ou simplesmente queiram reler:

  • Explicação: há mais sentidos para o voto do que apenas escolher um Governo

  • A malha fina dos círculos eleitorais versus as sondagens nacionais (ou como é fácil tirar um deputado ao CH em Coimbra)

  • O anacronismo dos círculos eleitorais (à espera da reforma)

  • Metodologia: travão à inteligência artificial

  • Conhecendo o método de Hondt — que penaliza os círculos pequenos

🗳️🏛️🇵🇹

🌹 Santarém: a nostalgia da importância perdida

O distrito de Santarém está entre os que mais poder político têm perdido ao longo do último meio século. Longe vão os tempos de Hermínio Martinho e do PRD a condicionar os movimentos do centro político do Parlamento, quando, isto na década de 1980, o círculo elegia 12 deputados. Hoje elege nove, depois de ter perdido mais um de 2011 para 2015.

Apesar do forte crescimento da extrema-direita, naturalmente associado a uma certa nostalgia do poder perdido, o círculo mantém-se no centro partidário: PS e AD vão vencendo à vez, mas sempre com uma maioria de dois terços dos mandatos.

A ascensão do CH, de resto, foi feita quase exclusivamente à custa do BE e do PCP-PEV, que há escassos seis anos ali tinham um mandato cada.

Bilhete de identidade eleitoral em 2024

  • Eleitores inscritos: 377 261

  • Votos expressos: 251 064 (66,55%)

  • 9 mandatos

    • 3: PS 69 915 (27,85%)

    • 3: AD 68 493 (27,28%)

    • 3: CH 58 554 (23,32%)

Desempenho comparado

O PS e a AD têm um desempenho semelhante em Santarém comparando com o nacional. O CH tem um desempenho melhor (+5.25 pontos percentuais). O PCP-PEV tem um desempenho melhor (+0.95 pontos percentuais). A IL, o L, o PAN e o ADN têm um desempenho pior.

🎤 Número de iniciativas parlamentares apresentadas por deputados eleitos por Santarém

A representação de Santarém em termos de iniciativas legislativas está alinhada com a sua representação parlamentar (3.62% do total nacional, quando tem 3.91% dos deputados).

Por partidos:

  • AD: 67

  • PS: 64

  • CH: 29

📊 Progressão dos mandatos

Os mandatos são distribuídos de acordo com uma fórmula conhecida por método de Hondt — uma forma de converter os votos em mandatos, dividindo os votos de cada partido por uma sequência de números (1, 2, 3, etc.) para atribuir os lugares aos partidos com os maiores resultados nessas divisões.

Ou seja:

  • PS elegeu nos mandatos 1, 4 e 7

  • AD elegeu nos mandatos 2, 5 e 8

  • CH elegeu nos mandatos 3, 6 e 9

😁 Se existisse mais um mandato, o 10º, que partido o teria resgatado?

O PS teria eleito mais um deputado e vencido o círculo. Este exercício do mandato a mais tem por finalidade ajustar a influência dos partidos, no que ela tem de visível além dos mandatos eleitos. Neste caso podemos ver como um pequeno esforço suplementar em campanha é mais “produtivo” para o PS que para os concorrentes.

🤞 Partidos mais perto de eleger o seu primeiro deputado?

O partido mais perto de eleger foi o BE, com um quociente de 11 204 votos. Mas a distância é demasiado grande: o Bloco teria de ter conquistado mais 8 314 votos para tirar um deputado aos partidos que elegeram.

😰 Partido mais perto de perder um deputado?

O CH tem o seu terceiro mandato algo vulnerável, tendo sido atribuído na última ronda com um quociente de 19 518 votos.

  • O PS precisaria de mais 2 039 votos (ou o CH perder esses votos) para igualar o quociente.

  • A AD ficou a 2 395 votos de conseguir o mesmo.

🧑‍🤝‍🧑📢 Santarém: uma região entre o potencial e os desafios económicos e sociais

O círculo eleitoral de Santarém, correspondendo ao distrito com o mesmo nome e integrando a região do Ribatejo, enfrenta atualmente um conjunto de problemas estruturais que condicionam o seu desenvolvimento. Esta região, que engloba 21 municípios e representa cerca de 400 mil eleitores, tem visto a sua importância económica e demográfica diminuir face a outras zonas do país.

Despovoamento e envelhecimento: uma realidade preocupante

Segundo dados do INE, o distrito perdeu mais de 20 mil habitantes entre 2011 e 2021, uma redução de 4,5% da população. Paralelamente, o índice de envelhecimento atingiu 185,4 idosos por cada 100 jovens, superando a média nacional de 182,1. Este fenómeno é particularmente grave nos concelhos do interior, como Mação, onde o índice ultrapassa os 450.

Economia: entre a agricultura ribatejana e a desindustrialização

A região, com a sua importante tradição agrícola ligada à lezíria do Tejo, representa cerca de 12% da produção agrícola nacional, com destaque para a vinha, olival e produção animal. Contudo, o setor enfrenta desafios significativos:

  • Alterações climáticas, com períodos de seca extrema alternados com cheias do Tejo

  • Dificuldades de modernização e inovação das explorações agrícolas

  • Baixa rentabilidade e elevada dependência de subsídios

No setor industrial, o distrito tem sofrido com a deslocalização de empresas e encerramentos. A taxa de desemprego situa-se nos 6,3%, ligeiramente acima da média nacional, com particular incidência nos jovens.

Desigualdades territoriais acentuadas

O distrito apresenta fortes assimetrias internas:

  • Zona sul e oeste (como Benavente e Cartaxo) beneficia da proximidade à Área Metropolitana de Lisboa

  • Concelhos do norte e interior (como Ourém e Sardoal) enfrentam maiores dificuldades de desenvolvimento

Esta realidade reflete-se nos rendimentos, com diferenças de até 30% no rendimento médio mensal entre municípios.

Acesso a serviços essenciais em risco

Na saúde, a região enfrenta uma carência crónica de médicos, com um rácio de 2,8 médicos por 1.000 habitantes, abaixo da média nacional de 5,6. O Hospital Distrital de Santarém tem reportado dificuldades recorrentes nos serviços de urgência.

Na educação, a redução do número de alunos (menos 11,5% na última década) tem levado ao encerramento de escolas em zonas rurais, aumentando as distâncias percorridas pelos estudantes.

Infraestruturas e mobilidade

Apesar da posição central no país, a região enfrenta problemas de mobilidade:

  • Transporte ferroviário insuficiente, com a Linha do Norte a necessitar de modernização

  • Redução de serviços de autocarros em zonas de baixa densidade

  • 17% das estradas municipais em estado de conservação considerado "mau" ou "muito mau"

Perspetivas futuras

O desenvolvimento da região poderá beneficiar da conclusão de projetos como a modernização da linha ferroviária do Norte e a expansão do Parque de Negócios de Santarém. A valorização dos produtos regionais, o ecoturismo ligado ao Tejo e seus afluentes, e o aproveitamento do património cultural ribatejano também representam potenciais vias de crescimento económico para o distrito.

🗳️🏛️🇵🇹

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