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[E.20] Legislativas 2025: o que pode mudar nos círculos voláteis de Aveiro, Setúbal e Faro
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[E.20] Legislativas 2025: o que pode mudar nos círculos voláteis de Aveiro, Setúbal e Faro

Em síntese: PS pode recuperar em Aveiro, Livre está matematicamente ameaçado em Setúbal, vantagem do CH em Faro é mais impressiva que real e deverá desfazer-se

mai 02, 2025
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[E.20] Legislativas 2025: o que pode mudar nos círculos voláteis de Aveiro, Setúbal e Faro
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Este é o quinto número da série de Especiais VamoLáVer dedicados às eleições legislativas — e já com alguns indicadores úteis para as autárquicas. Enquadramos os 22 círculos eleitorais em “retratos” elaborados com o foco em aumentar as escolhas dos eleitores de cada um deles; isto é: fornecendo um quadro numérico e de interpretação que permita a cada eleitor que leva a política a sério poder usar melhor o seu voto, seja na direção de eleger um deputado de um partido, seja na direção contrária, de contrariar esse partido. Por círculo, veremos quais são os partidos em melhor posição para eleger e quais os partidos que podem ser contrariados.

Nesta edição analisamos três círculos que perfazem quase todo o litoral de Portugal continental: Aveiro, Setúbal e Faro. Somados, elegem 44 deputados — um em cada cinco dos 230 mandatos na Assembleia da República.

Com estes círculos entramos nos “pesos médios” demográficos e eleitorais. O perfil muda de forma radical quando passamos do interior para o litoral e dos pequenos para os grandes centros urbanos. Mas entre os três há uma notória divisão: enquanto Aveiro e Setúbal estão muito perto dos centros de poder legislativo e executivo, com deputados que integram as cúpulas dos partidos e os grupos parlamentares, Faro é historicamente o círculo esquecido, secundário — o que tem implicações na variação do eleitorado de protesto.

Por outro lado, são círculos mais interessantes de analisar, porque mais diversos. Assim, esta edição de alguma maneira introduz as duas que encerram a série: na próxima sexta-feira é a vez de Porto e Braga (59 deputados) e daqui por quinze dias, na sexta-feira que antecede as eleições, será a vez de Lisboa com Madeira e Açores (59 deputados).

Pode ler aqui os anteriores:

  • [E.16] Quem pode ganhar (e perder) mandatos nas Legislativas 2025

  • [E.17] Legislativas 2025: as trocas a Norte, com o CH a irromper também no eleitorado da direita

  • [E.18] Legislativas 2025: Beja e Portalegre podem mudar de eleitos

  • [E.19] Legislativas 2025: crise demográfica deixa Santarém, Viseu e Guarda com menos representatividade

ATENÇÃO: este é um artigo longo e por isso é provável que na leitura por e-mail surja cortado no final. Algumas aplicações de correio eletrónico cortam as mensagens que consideram demasiado extensas. Se for o caso, no final estará o botão para ler o resto no site.

🗳️🏛️🇵🇹 Índice

Capítulos abertos

🟠 Aveiro: resiliência do centro-esquerda favorável a recuperação do PS

  • Bilhete de identidade eleitoral em 2024: AD não colheu o esvaziamento da maioria absoluta do PS

  • BE sonha recuperar um mandato, mas as contas são complicadas

  • AD tem o sétimo deputado ameaçado por 1 708 votos

  • 🧑‍🤝‍🧑📢 Desafios: preço da habitação descontrolado, assimetrias territoriais e demográficas

Capítulos fechados

🌹 Setúbal: do calcanhar de Aquiles da AD à vulnerabilidade do Livre

  • Bilhete de identidade eleitoral em 2024: o círculo mais plural depois de Lisboa e Porto

  • Contas difíceis, mas PAN tem condições para eleger

  • L com escassa vantagem para CH, PS e AD

  • 🧑‍🤝‍🧑📢 Desafios: grave crise habitacional, pressão sobre serviços públicos rarefeitos, elevado risco de pobreza apesar das grandes receitas do turismo

🚨 Faro: o círculo esquecido, onde o CH causou grande impressão, é onde está mais ameaçado

  • Bilhete de identidade eleitoral em 2024: transferência de votos catapulta extrema-direita

  • BE só em sonhos pode voltar a eleger

  • CH tem um mandato preso por 1 500 votos

  • 🧑‍🤝‍🧑📢 Desafios: grave crise habitacional, pressão sobre serviços públicos rarefeitos, elevado risco de pobreza apesar das grandes receitas do turismo

🗳️🏛️🇵🇹

🟠 Aveiro: resiliência do centro-esquerda favorável a recuperação do PS

O círculo de Aveiro é um exemplo de uma da principais correntes da mudança operada em Portugal nos últimos anos: é visível a olho nu, apenas nos resultados dos últimos 14 anos, a transfusão de votos do centro-direita para a extrema-direita, a par da troca de polaridade no voto descontente, ou de protesto.

Comecemos pelo que não mudou: o centro-esquerda. O PS registou em 2024 a mesma casa percentual de 2011 — o patamar dos 25%. E elege até mais deputados ultimamente, devido ao facto de ter mais votos e à regra da distribuição dos mandatos. Pelo caminho o partido subiu, com duas eleições andou no patamar dos 34-39%, antes de descer para o patamar costumeiro. E dois indicadores deste estudo, o mandato seguinte caso o círculo elegesse mais um, e que mandato está mais ameaçado e por quem, corroboram a resiliência do centro-esquerda em Aveiro.

A principal mudança está na divisão à direita. Em 2011 PSD e CDS tinham 56% dos votos e 10 mandatos, em 2024 tiveram 35% e sete mandatos. Ou seja: quem recuperou representatividade quando o PS perdeu o que tinha no seu último ciclo virtuoso em Aveiro foi a extrema-direita, não a direita moderada. E com um pouco mais de grão: PSD e CDS, amplificados pelo método de Hondt, perderam ainda um deputado para outro partido do centro-direita, a IL.

Umas palavras ainda para descrever outro fluxo que alimentou o CH: até 2019, o BE capturava em Aveiro o voto de protesto contra o sistema, fazendo eleger um a dois deputados. Metade dos 35 000 votos de 2019 (que deram dois deputados) voaram nas eleições seguintes e mais alguns saíram no ano passado. (Algum do desapontamento com o BE, que não opera só nos eleitores desapontados com o sistema, não terão ido longe, assentando logo no Livre, que mais do que triplicou os votos em Aveiro e reforça secundariamente o centro-esquerda.)

Bilhete de identidade eleitoral em 2024

  • Eleitores inscritos: 642 086

  • Votos expressos: 423 771 (66%)

  • 16 mandatos

    • 7: AD 148 861 (35,13%)

    • 5: PS 117 348 (27,69%)

    • 3: CH 73 110 (17,25%)

    • 1: IL 21 671 (5,11%)

Desempenho comparado

Aveiro tem 16 deputados, o que representa 6.96% do total de 230 deputados.

A AD tem um desempenho melhor em Aveiro do que a nível nacional (+7.11 pontos percentuais). O PS tem um desempenho semelhante (-0.31 pontos percentuais). O CH tem um desempenho semelhante (-0.82 pontos percentuais). A IL tem um desempenho semelhante (+0.17 pontos percentuais). O PCP-PEV, o L, o PAN e o ADN têm um desempenho pior.

🎤 Número de iniciativas parlamentares apresentadas por deputados eleitos por Aveiro

Quando chegamos aos círculos que mais deputados elegem, este indicador muda de perfil. Aveiro é um caso paradigmático: a quantidade de votos perde expressividade na representação do círculo, enquanto a capacidade de iniciativa dos eleitos ganha ascendente.

Por partidos:

  • IL: 90

  • CH: 78

  • AD: 61

  • PS: 31

📊 Progressão dos mandatos

Os mandatos são distribuídos de acordo com uma fórmula conhecida por método de Hondt — uma forma de converter os votos em mandatos, dividindo os votos de cada partido por uma sequência de números (1, 2, 3, etc.) para atribuir os lugares aos partidos com os maiores resultados nessas divisões.

Ou seja:

  • AD elegeu os seus sete deputados nos mandatos 1, 3, 6, 8, 10, 12 e 16

  • PS elegeu cinco deputados nos mandatos 2, 5, 7, 11 e 14

  • CH elegeu três deputados nos mandatos 4, 9 e 13

  • IL elegeu o seu deputado no mandato 15

😁 Se existisse mais um mandato, o 17º, que partido o teria resgatado?

Teria sido o PS, com o quociente 19 558, a ficar com o 17º mandato em Aveiro, passando a seis deputados.

🤞 Partidos mais perto de eleger o seu primeiro deputado?

Dos partidos que não elegeram, o que ficou mais perto foi o BE, com um quociente de 17 358 votos. Não é uma grande distância em votos, 3.908, o Bloco teria de crescer 23% em força eleitoral. Mas corresponde a três quocientes, ou seja, três partidos que elegeram ficaram mais perto. Um sonho… distante.

😰 Partido mais perto de perder um deputado?

O último mandato a servir a AD não esteve propriamente folgado. O PS ficou a 1708 votos. É uma troca em aberto para estas eleições.

🧑‍🤝‍🧑📢 Entre o dinamismo industrial e os desafios socio-económicos persistentes

O distrito de Aveiro, círculo eleitoral que elege 16 deputados para a Assembleia da República, apresenta um paradoxo económico e social que merece atenção no atual contexto eleitoral. Apesar do seu dinamismo industrial e exportador, a região enfrenta problemas estruturais que afetam o bem-estar das suas populações.

Assimetrias territoriais e demográficas

Com aproximadamente 700 mil habitantes distribuídos por 19 municípios, Aveiro revela fortes assimetrias entre o litoral industrializado e o interior mais rural. Dados do INE mostram que, entre 2011 e 2021, o distrito perdeu cerca de 2% da sua população, com concelhos interiores como Sever do Vouga a registarem quedas superiores a 10%.

O envelhecimento populacional é preocupante: o índice de envelhecimento no distrito ultrapassou os 170 idosos por cada 100 jovens em 2022, acima da média nacional, com concelhos como Anadia e Águeda a ultrapassarem os 200.

Pressão no mercado habitacional

O preço da habitação em Aveiro aumentou cerca de 54% nos últimos cinco anos, segundo dados da Confidencial Imobiliário. Em 2023, o valor mediano das casas na cidade de Aveiro atingiu 1.759€/m², tornando-se num dos mercados mais caros fora da Área Metropolitana de Lisboa e Porto.

Este fenómeno está a empurrar os jovens para fora dos centros urbanos, agravando problemas de mobilidade e coesão territorial.

Desafios económicos e laborais

Apesar de uma taxa de desemprego (6,2% em 2023) ligeiramente abaixo da média nacional, o distrito enfrenta desafios significativos:

  • A dependência de setores industriais tradicionais (cerâmica, metalomecânica e calçado) que enfrentam pressão competitiva internacional

  • Precariedade laboral, com 18% dos trabalhadores do distrito em contratos temporários

  • Disparidades salariais, com o salário médio (1.085€ em 2022) ainda 5% abaixo da média nacional

O tecido empresarial, composto por 95% de micro e pequenas empresas, luta com a digitalização e transição energética, com apenas 22% das PMEs a terem implementado estratégias de sustentabilidade.

Infraestruturas e serviços públicos

A mobilidade continua a ser um problema crítico. O transporte público é insuficiente nas ligações entre concelhos, com 78% das deslocações pendulares a serem feitas em transporte individual, agravando congestionamentos nas principais vias.

Na saúde, a falta de médicos de família afeta cerca de 15% da população do distrito (aproximadamente 105 mil pessoas), com situações mais graves em concelhos como Ovar e Espinho.

Desafios ambientais

A erosão costeira ameaça cerca de 30 km de costa no distrito, afetando diretamente economias locais dependentes do turismo. Simultaneamente, a poluição industrial, particularmente na zona de Estarreja e no complexo químico ali existente, continua a suscitar preocupações ambientais e de saúde pública.

🗳️🏛️🇵🇹

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