[1.48] Adeus, paz. Europeus preparam filhos para a guerra
Foi maravilhoso enquanto durou: 75 anos de paz na Europa, duas gerações que da guerra só tiveram notícias longínquas. A re-introdução do tema do serviço militar obrigatório é o sinal.
ATUALIDADE
Adeus, paz. Europeus preparam filhos para a guerra
O regresso do Serviço Militar Obrigatório (SMO) está a ser discutido em Portugal, com opiniões divergentes entre associações militares e partidos políticos. Enquanto alguns defendem que o SMO poderia ajudar a colmatar a falta de efetivos nas Forças Armadas, outros consideram que a prioridade deve ser a valorização das carreiras militares.
Henrique Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada, e Eduardo Ferrão, chefe do Estado-Maior do Exército, pronunciaram-se a favor da medida. 47% dos portugueses acham que deve voltar, de acordo com um inquérito feito recentemente pela Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social).
O assunto também está em cima da mesa política em países como a Alemanha, a Croácia, a Roménia e os Países Baixos. Na República Checa até já foi proposta a re-introdução da medida. A Europa tem 16 países com o serviço militar obrigatório, sendo alguns deles a Noruega, a Suécia, a Finlândia, a Letónia, a Suíça e a Grécia.
Na Dinamarca já era obrigatório o serviço militar para homens com mais de 18 anos e foi alargado, nos últimos meses, o recrutamento obrigatório às mulheres.
A tendência para o alargamento do SMO tem sido acentuada sobretudo depois de 2022, mas já vinha de 2014. A invasão da Crimeia, por parte da Rússia, foi o chamamento para países como a Suécia, a Finlândia, a Dinamarca, a Noruega, a Letónia, a Estónia. Todos os países que estão na fronteira com a Rússia tiveram a partir de 2014 uma percepção diferente da existente noutros países.
O que defende a Associação Nacional de Sargentos sobre o regresso do SMO?
António Lima Coelho, presidente da Associação Nacional de Sargentos, afirma que qualquer discussão sobre o regresso do SMO não deve desviar a atenção dos problemas das Forças Armadas e da falta de efetivos. Ele destaca a necessidade de saber que tipo de SMO o país pretende, mas tem a certeza de que o modelo antigo não serve.
Qual é a posição do Bloco de Esquerda sobre o assunto?
Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, manifestou-se contra o regresso do SMO, considerando que não existe qualquer consenso sobre o assunto. Apelou à criação de uma carreira para os bombeiros.
O que defendem as associações militares como solução para a crise de efetivos nas Forças Armadas?
As associações militares, representadas pelo coronel António Mota, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), defendem a valorização das carreiras como forma de resolver a atual crise de efetivos nas Forças Armadas, ao invés de uma eventual re-introdução do SMO. Mota afirma que melhorar as condições remuneratórias, as carreiras e o apoio na doença vai fazer com que a retenção e o recrutamento aumentem bastante.
O que é o Serviço Nacional de Cidadania?
A Sedes defende uma alternativa, ou modernização, intitulada Serviço Nacional de Cidadania. Trata-se de um serviço para todos os jovens, que pode ter duração de seis meses a um ano, semelhante, por exemplo, ao serviço que se presta na Áustria, em que os jovens podem escolher dar ao Estado seis meses a um ano de serviço na saúde, na educação, na justiça, na segurança.
Citações
'Falamos num Serviço Militar Obrigatório nos termos e moldes em que existia durante as guerras coloniais? Outro disparate. Não podemos trazer essa realidade.' - António Lima Coelho, presidente da Associação Nacional de Sargentos
“Reequacionar o SMO ou outra variante mais adequada poderá ser uma medida necessária não só para equilibrar o rácio despesa/resultados, mas também para gerar uma maior disponibilidade da população para a Defesa”. Henrique Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada
“Uma reintrodução do SMO justifica-se ser estudada e avaliada sob várias perspetivas”. Eduardo Ferrão, chefe do Estado-Maior do Exército
“O serviço nacional de cidadania seria uma espécie de serviço militar obrigatório”. João Vieira Borges, coordenador do Observatório de Segurança e Defesa da Sedes
Aprofundar: tsf.pt, sicnoticias.pt, rr.sapo.pt, publico.pt
Oposição secular da Turquia vence eleições municipais, enfraquecendo domínio de Erdoğan
As eleições municipais realizadas ontem na Turquia resultaram numa vitória surpreendente para o partido de oposição secular de direita, o Partido Republicano do Povo (CHP). O CHP conquistou as câmaras em 35 cidades, incluindo os maiores municípios do país: Antália, Bursa, Esmirna, a capital Ancara e a maior cidade da Turquia, Istambul, com 16 milhões de habitantes e centro financeiro do país. Esta derrota marca o pior resultado para Erdoğan e o seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) em mais de duas décadas no poder, podendo sinalizar uma mudança no panorama político dividido do país.
Qual foi a afluência às urnas nestas eleições municipais turcas?
A afluência às urnas foi menor do que o habitual, rondando os 78%.
Porque é a vitória do CHP em Istambul particularmente significativa para Erdoğan?
Istambul é onde Erdoğan foi catapultado para o poder em 1994, como presidente da câmara. A cidade é uma jóia política, supervisionando um orçamento de 16 mil milhões de dólares, empregando milhares de pessoas e atribuindo contratos lucrativos. Erdoğan é conhecido por ter dito no passado: “Quem ganha Istambul, ganha a Turquia”.
O que mostrou a vitória da oposição sobre as questões em torno do processo eleitoral turco?
A votação de ontem dissipou as dúvidas sobre o processo eleitoral da Turquia e, até certo ponto, sobre a sua democracia. Erdoğan aceitou os resultados de ontem, mostrando que as eleições turcas, embora não sejam justas devido ao domínio dos media pelo Estado, são livres.
Que lição tirou o CHP da derrota nas eleições gerais de maio com Kemal Kılıçdaroğlu como candidato?
A combinação de falta de carisma e pertencer a uma minoria religiosa foi suficiente para Erdoğan conseguir uma vitória tangencial num eleitorado amplamente conservador e nacionalista. A lição foi que Kılıçdaroğlu era um mau candidato e um mau líder partidário.
Que indicador houve nestas eleições de que os eleitores turcos do interior do país não abandonaram os seus valores e perspetivas tradicionais?
O forte desempenho do Partido do Novo Bem-Estar (YRP), que duplicou os seus votos, conquistando dois municípios no coração da Anatólia e obtendo seis por cento dos votos. O YRP é o partido do filho do falecido Necmettin Erbakan, Fatih, e é como o 'antigo' Partido do Bem-Estar, o predecessor do AKP de Erdoğan, religioso e conservador. Atraiu eleitores descontentes do AKP.
Citações
'Quem ganha Istambul, ganha a Turquia' - Recep Tayyip Erdoğan
Números
78%: afluência às urnas nas eleições municipais turcas de ontem
35: número de cidades onde o CHP ganhou as câmaras
16 milhões: população de Istambul
16 mil milhões de dólares: orçamento supervisionado pelo município de Istambul
85%: taxa de inflação na Turquia em outubro
70%: taxa de inflação na Turquia em março
55.000: número de mortos no sismo no sudeste da Turquia em fevereiro de 2023
6%: percentagem de votos obtida pelo YRP nestas eleições
Fonte: interruptrr.substack.com
Supremo Tribunal de Justiça de Israel põe fim à isenção do serviço militar para estudantes ultra-ortodoxos
A partir de 1 de abril, o estado israelita deixará de poder isentar os estudantes de yeshivot (instituições de ensino judaico) ultra-ortodoxos do serviço militar obrigatório e cessará o financiamento estatal a essas instituições, de acordo com uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça de Israel.
O que era a situação anterior?
As yeshivot forneciam relatórios trimestrais sobre o número de estudantes, e cada estudante com 18 anos ou mais recebia um adiamento anual até aos 26 anos, após o que recebia uma isenção permanente.
O número total de estudantes de yeshivot situa-se entre os 150.000, sendo que o número de estudantes entre os 18 e os 26 anos ronda os 60.000.
Como são financiadas as yeshivot?
As yeshivot ultra-ortodoxas têm diferentes fontes de financiamento, sendo que quanto menor a yeshiva, mais depende do financiamento estatal.
O financiamento é fornecido mensalmente e, embora a sua cessação em abril seja improvável que leve ao encerramento de yeshivot, alguns meses de financiamento bloqueado poderiam levar muitas ao colapso.
No entanto, as maiores yeshivot com reconhecimento de nome e doadores sobreviverão financeiramente.
O que diz a decisão do Supremo Tribunal?
A partir de 1 de abril de 2024, não haverá fonte de autoridade para uma isenção geral do serviço militar obrigatório para estudantes de yeshivot.
O estabelecimento de defesa deve agir para recrutar os estudantes para o serviço militar, de acordo com a lei.
Qual tem sido a polémica em torno das isenções?
Durante anos, a comunidade ultra-ortodoxa beneficiou de uma isenção geral, permitindo que estudantes a tempo inteiro de yeshivot renunciassem ao serviço militar, um ponto de intensa controvérsia na sociedade israelita.
Apesar das tentativas de legislar um novo quadro que satisfizesse as exigências do tribunal, o governo não conseguiu promulgar uma lei que abordasse a questão de forma abrangente.
Citações
'A partir de 1 de abril de 2024, não haverá fonte de autoridade para uma isenção geral do serviço militar obrigatório para estudantes de yeshivot, e o estabelecimento de defesa deve agir para recrutar os estudantes para o serviço militar, de acordo com a lei.' - Procuradora-Geral Gali Baharav-Miara
Números
150.000: número total estimado de estudantes de yeshivot
60.000: número estimado de estudantes de yeshivot entre os 18 e os 26 anos
1 de abril de 2024: data a partir da qual não haverá isenções gerais do serviço militar para estudantes de yeshivot
Aprofundar: themedialine.org, jpost.com
CURTAS
🇩🇪 A indústria alemã está em crise, arrastando a economia da Zona Euro para a recessão. O fim da energia barata russa e a queda das exportações para a China e EUA estão a causar uma "alarmante perda de fôlego" na maior economia europeia. Analistas preveem uma contração de 0,1% no PIB alemão este trimestre e "enormes escolhos" no regresso ao crescimento, num cenário que está a alimentar o descontentamento social e a extrema-direita. • publico.es
🇫🇷🇨🇳 A França espera que a China envie "mensagens claras" à Rússia sobre a guerra na Ucrânia, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros francês após reuniões em Pequim. Apesar dos laços reforçados entre Paris e Pequim nos últimos anos, a França pressionou a China sobre a sua proximidade com Moscovo, defendendo que "não haverá paz duradoura se não for negociada com os ucranianos". • euractiv.com
🇵🇹 A Confederação Nacional da Agricultura criticou a nomeação de José Manuel Fernandes para ministro da Agricultura, por este ter votado favoravelmente a nova Política Agrícola Comum. Segundo Vítor Rodrigues, dirigente da CNA, esta PAC tem sido "bastante negativa" para os agricultores e produtores florestais, tendo motivado protestos nos últimos meses. • 24.sapo.pt
🇵🇹 O mercado automóvel português cresceu 13,1% no primeiro trimestre de 2023, com 68.520 novos veículos colocados em circulação. Dos ligeiros de passageiros novos, 16% são elétricos, segundo dados da ACAP - Associação Automóvel de Portugal. Só em março foram matriculados 26.240 veículos, um aumento de 6,7% face ao mesmo mês do ano anterior. • visao.pt
🇵🇹 José Manuel Rodrigues e Lídia Albornoz vão disputar a liderança do CDS-PP/Madeira no XIX Congresso Regional do partido, que decorre nos dias 13 e 14 de abril. Rodrigues, que foi líder regional do partido entre 1997 e 2015, é o principal subscritor da moção intitulada "Em nome do futuro". • observador.pt
🇷🇺 Putin quer reduzir o tempo que os alunos russos passam a fazer os trabalhos de casa, bem como diminuir o número de testes e exames ao longo do ano letivo. O objetivo é criar uma carga educativa mais "equilibrada e benéfica" para os estudantes, promovendo "relações interdisciplinares" entre as várias matérias lecionadas. • jn.pt
🇮🇱🇸🇾 Um ataque aéreo atribuído a Israel atingiu um edifício próximo da embaixada iraniana em Damasco, na Síria, provocando a morte de seis pessoas. Segundo o site de notícias SSN do Irão, o ataque visou especificamente o consulado e a residência do embaixador do Irão, resultando na destruição completa do edifício e danos nos edifícios adjacentes, de acordo com a agência noticiosa estatal síria SANA. • rr.sapo.pt
🇮🇱 Cerca de 100 mil pessoas manifestaram-se em Jerusalém contra o Governo de Israel, liderado por Benjamim Netanyahu. Os protestantes, entre os quais familiares dos 130 reféns sequestrados pelo Hamas na Faixa de Gaza, exigiram eleições antecipadas e um acordo para libertar os cativos. A guerra contra o Hamas, iniciada a 7 de outubro, já causou a morte de cerca de 600 soldados, o maior número de baixas militares dos últimos anos em Israel. • publico.pt
🇮🇱 O parlamento israelita aprovou uma lei que permite ao primeiro-ministro proibir a transmissão de meios de comunicação internacionais que considere uma ameaça à segurança do país. A medida visa especificamente o canal Al Jazeera, com sede no Catar, podendo levar ao encerramento dos seus escritórios em Israel. • rtp.pt
🇩🇪 A Alemanha aprovou uma nova lei da nacionalidade que obriga os candidatos à cidadania a responderem a questões sobre o judaísmo e Israel. O objetivo é impedir que antissemitas obtenham a nacionalidade alemã, com perguntas como "Que ato relacionado ao Estado de Israel é proibido na Alemanha?" ou "De que países vêm a maioria dos judeus que vivem atualmente na Alemanha?". A ministra do Interior, Nancy Faeser, afirmou que "o antissemitismo, o racismo e outras formas de desprezo pela humanidade excluem a naturalização". • expresso.pt
🇮🇷 🇮🇱 Um ataque israelita à representação diplomática do Irão em Damasco matou o brigadeiro-general Mohammad Reza Zahedi, um dos principais comandantes da Força Quds, e outros cinco elementos do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. A televisão estatal iraniana Irib informou que Zahedi foi "martirizado" no ataque "do regime sionista" ao anexo da embaixada iraniana na capital síria. • 24.sapo.pt
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Um livro
De Bestas e Aves. Autoria: Pilar Adón Tradução de Rui Elias Editora: Dom Quixote, 2024. “Pilar Adón: ‘Como se tudo o que escrevo faça parte de uma casa’. De Bestas e Aves, o mais recente romance da poeta e escritora espanhola Pilar Adón (n. 1971), foi distinguido, em 2023, com os mais importantes prémios literários espanhóis. Não é um livro daqueles que agarra o leitor logo nas primeiras páginas. O universo literário de Pilar Adón tem algo de hermético, também de coisas insinuadas que ficam por contar, e sobretudo de inquietante. O leitor pode perder-se, angustiar-se.” José Riço Direitinho
Uma peça de teatro
Fado Alexandrino, Teatro Nacional São João, Porto, de 5 a 28 de Abril 2024. Autor: António Lobo Antunes. Encenação: Nuno Cardoso. Atores: Ana Brandão, António Afonso Parra, Joana Carvalho, Jorge Mota, Lisa Reis, Patrícia Queirós, Paulo Freixinho, Pedro Almendra, Pedro Frias, Roldy Harrys, Sérgio Sá Cunha, Telma Cardoso. “Em Fado Alexandrino, António Lobo Antunes mergulha-nos num tempo compósito, acionado pelo movimento da rememoração. Cinco personagens, militares que regressaram da guerra em África dez anos antes, juntam-se num jantar, um encontro de reflexões sobre um fim e o seu luto, uma espécie de Última Ceia. Nuno Cardoso leva à cena aquele que é considerado o grande romance sobre o 25 de Abril, na celebração do seu cinquentenário. O palco devém um imenso mural, que confere matéria, pela presença e contracena dos atores, pelo trabalho dos criativos, às vivências das personagens em quatro tempos que se interpenetram: o Estado Novo, a memória da guerra colonial em Moçambique, a Revolução dos Cravos, o pós-Revolução.”
Uma performance
Utopia, de Diana Niepce, Teatro do Bairro Alto, Lisboa, de 3 a 7 de Abril, e Palácio do Bolhão, Porto, 27 e 28 de Abril 2024. “Situada no ‘campo da objectificação e também da problematização’, esta performance de quatro horas para cinco intérpretes sustenta-se entre ‘a transgressão e a opressão dos limites físicos’, explorando a contaminação destrutiva das normas e dos corpos que não servem.” Cláudia Alpendre Marques
RELEMBRANDO
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[1.47] Montenegro forma um Governo centrado no centro — o que é bom. Sem surpresas. Luís Montenegro apresentou um governo coeso em torno dele, com sinais de tranquilidade para as corporações, para a Europa — e para o PS. Não se descortina nenhum sinal à extrema-direita
[1.46] Parlamento a três: bem vindos à Era da Imprevisibilidade. Habituem-se. Extrema-direita, direita democrática e esquerda democrática têm de aprender a conviver a três. Enquanto aprendem, o sistema fica imprevisível. Mas não bloqueado: isso só o PSD é que está.
[1.45] 😅 Montenegro sorri com milhões deixados por Costa: maior excedente de sempre e equilíbrio das contas. António Costa sai da cena pela esquerda alta: INE confirma o brilharete orçamental, Governo deixa contas prestadas numa pasta de transição, e amarrou Marcelo a um eventual apoio para a Europa
[1.44] A esquerda deve pressionar e responsabilizar o Governo Montenegro. O choque pelo descontentamento capturado pelo Chega tem de ser ultrapassado. E desvalorizar ou menorizar a direita nesta altura é um erro. A atitude certa é pressionar.
Os líderes europeus são idiotas. Mandem os filhos! Carne para canhão