[1.38] Campanha correu melhor, Parlamento vira à direita, governo indefinido, Ventura maior ganhador
Faltam três dias para as legislativas. Nos balanços da campanha eleitoral há três consensos e um equívoco. As expetativas foram tudo nesta campanha.
BALANÇO
Campanha correu melhor, Parlamento vira à direita, governo indefinido, Ventura maior ganhador
Faltam três dias para as eleições legislativas e, com apenas mais um dia pela frente, o da encenação da apoteose, salas cheias para as câmaras e dramatização dos últimos apelos, é tempo de balanços. Quatro pontos (e justificações) a reter:
correu melhor do que a expetativa (porque esta era baixa, sobretudo)
é certa uma guinada à direita no Parlamento graças a André Ventura (e o que isso vem mudar na futura legislação)
permanece indefinido o futuro governo (que pode ser ou fraco ou muito fraco)
o Grande Vencedor da Noite, no domingo, será o Chega (de um para 12 para mais de 30 deputados em três legislativas consecutivas. Além do Guinness, para que servirá isso?)
Correu bem. Correu bem?
Comecemos pelo maior consenso: a campanha correu melhor do que se esperava. “Portugal não está à beira do abismo e, pelo que se viu na campanha, o seu sistema partidário também não se transformou numa ruína onde pastoreia a extrema-direita”, regozijou-se Manuel Carvalho no Público. Outros comentadores e analistas alinham. Efetivamente, não houve nenhuma interferência direta do Ministério Público e as narrativas dos “casos e casinhos” ficaram para trás, cumprida que foi a sua função de erodir o que não era possível de afrontar no campo da política.
Assistiu-se a uma espécie de reagrupamento do discurso político no seu essencial. Sendo que o essencial, hoje, é passar mensagens polidas e rápidas que encantem o eleitor ao ponto de o atrair para o voto, pois não há espaço, muito menos vontade, para debater em profundidade a situação complexa que atravessamos em Portugal, na Europa e no mundo.
E nesse essencial os líderes partidários souberam sobrepor os seus interesses aos interesses mediáticos — o que explica porque não houve o lamaçal que há três meses se esperava que inundasse a campanha.
Sendo certo que é um alívio a campanha ter corrido assim, com menos extremismo porque se roubaram os holofotes a André Ventura — “quando os holofotes se desviam, André Ventura perde a cara de Lobo Mau, e sente-se tão perdido como o Capuchinho Vermelho”, escreveu João Miguel Tavares —, ficamos pelos mínimos olímpicos: a confirmação de que a AD quer mais crescimento, o PS também, a nuance ficou difícil de perceber, e os temas determinantes para essas ambições, que política ambiental, que restrições ecológicas, que estratégia face à guerra e à defesa da União Europeia, ficaram de fora da campanha.
Mais leis de direita
Valem o que valem, já sabemos, mas as sondagens e todo o ambiente prenunciam um Parlamento com mais deputados de partidos de direita do que de esquerda, uma inversão da relação de forças que perdurou nos últimos oito anos e é, até agora, a predominante este século. Deixando para o ponto seguinte o impacto na formação do Governo, esta inversão deverá trazer uma atitude legislativa diferente. São de esperar tanto regressões no plano dos direitos como uma inflexão que sacrificará o mundo do trabalho e reduzirá a pó a (débil) tentativa de enveredar por políticas ambientais.
Que Governo?
Quanto à formação do futuro Governo, a campanha não clarificou nada — o que, sendo justo, é o normal: não se formam governos ANTES das eleições, formam-se depois, e em função dos votos, em função dos equilíbrios ditados pelos cidadãos aos políticos. É menos provável, mas possível, um Governo de esquerda liderado pelo PS. É mais provável um Governo de direita chefiado pelo PSD. É pouco provável um Governo minoritário de qualquer dos lados.
Se, como é mais provável, a direita somar mais deputados e a AD vencer as eleições, o primeiro Governo proposto será o de Luís Montenegro.
O equívoco: não, não nos livrámos do Chega
Muito se falou da inclusão, ou não, do Chega nesse Governo. Do que não se falou foi do que fazer ao Chega: no domingo à noite a direita, e por conseguinte Luís Montenegro, governará porque André Ventura capturou os votos necessários para o lado direito do Parlamento ser maior que o esquerdo. Nenhum dos outros partidos cresceu eleitoramente tanto como o Chega, nem de longe: um deputado em 2019, 12 deputados em 2022 e mais de 25, entre 25 e 35, deputados já na próxima segunda-feira.
Para conforto geral, o Chega perdeu gás e Ventura perdeu (parte d)a voz ao longo da campanha. Mas quem mais poderá cantar vitória na noite de domingo é ele: vai duplicar, no mínimo, a votação e confirmar o Chega como o terceiro partido sólido no sistema português.
Para que servirá esse resultado? É a pergunta que fica para depois do recreio que consistiu em ter menos Ventura na televisão.
🇪🇺😊 Von der Leyen nomeada candidata do PPE às eleições europeias
Sumário
Ursula von der Leyen eleita com 400 votos a favor e 89 contra
A presidente da Comissão adotará pontos-chave do PPE, incluindo apoio à Ucrânia e combate à migração ilegal
Manifesto do PPE prevê reforço do Frontex e liderança na implementação do Green Deal
Segundo mandato de VdL será mais alinhado com as posições do partido
A notícia
No congresso do Partido Popular Europeu em Bucareste, Ursula von der Leyen foi eleita como a candidata principal do partido para as próximas eleições europeias de junho. Lançando a sua campanha para um segundo mandato à frente da Comissão Europeia a 19 de fevereiro, von der Leyen concorreu sem oposição, com 400 dos 801 delegados do PPE a votar a seu favor, enquanto 89 votaram contra.
Após a eleição, von der Leyen entrou em modo de campanha, adotando os principais assuntos do PPE, incluindo o apoio à Ucrânia, o reforço da defesa europeia, o combate à imigração ilegal, o aumento da competitividade e a proteção dos agricultores da União Europeia. A abordagem adotada sugere um alinhamento mais estreito com as linhas políticas do PPE para o seu segundo mandato.
O manifesto do PPE, que orientará a campanha, apresenta pontos como o aumento do pessoal da agência Frontex para 30.000 e a liderança da próxima fase da implementação do Green Deal, focando em soluções tecnológicas e crescimento económico. Apesar de algumas propostas radicais terem levantado questões durante o congresso, como a adoção do modelo de migração do Rwanda, a direção do partido mantém a posição de que o Green Deal estará sob a liderança segura do PPE.
Ursula von der Leyen não foi a 'spitzenkandidat' do PPE em 2019, mas desta vez concorreu e foi apoiada pelo seu partido alemão, a União Democrata-Cristã (CDU), contando depois com o apoio dos partidos homólogos polaco e grego.
O PSD e o CDS também apoiam VdL.
Quem é quem
Partido Popular Europeu, PPE, é o grupo de partidos políticos de centro-direita na Europa que compartilham valores como a promoção da economia de mercado, a defesa dos direitos humanos e a cooperação entre os países membros.
Ursula von der Leyen, a atual presidente da Comissão Europeia, é responsável por liderar o Executivo da UE, propondo legislação, representando o bloco em questões internacionais e garantindo o cumprimento dos tratados europeus. É a primeira mulher a presidir à Comissão.
Frontex é uma agência da União Europeia. Foi criada para aumentar a segurança das fronteiras externas, através da cooperação entre os estados membros, o monitoramento das fronteiras terrestres e marítimas, e o combate às atividades ilegais.
Fonte: Euractiv
Relacionado: O partido italiano Forza Italia, filiado no PPE, sugere que o partido Irmãos de Itália, de extrema-direita e liderado por Georgia Meloni, adira ao PPE para reforçar a influência italiana no Parlamento Europeu. • Euractiv
Ainda há futuro político para António Costa?
António Costa está hoje (07/02/24) em destaque na capa da revista Politico, questionando-se a sua capacidade de poder chegar à presidência do Conselho Europeu devido às recentes controvérsias.
”Será que António Costa, primeiro-ministro de Portugal, fechou o seu último acordo? Um primeiro-ministro focado na resolução de problemas enfrenta o seu maior desafio de sempre: limpar o seu nome a tempo de se tornar presidente do Conselho Europeu.”
Ao longo do artigo faz-se um balanço do impacto da Operação Influencer na vida política de António Costa, que sintetizamos abaixo.
As buscas no gabinete do seu adjunto prejudicaram a sua popularidade na corrida à presidência do Conselho, com os socialistas europeus à procura de uma liderança sem problemas.
Apesar dos desafios, Costa é reconhecido pela sua habilidade em negociar e em se comprometer, qualidades valorizadas para o cargo.
Ainda é o favorito de Emmanuel Macron e de Olaf Scholz, mas a Operação Influencer levou outros líderes europeus a reconsiderar os seus apoios.
Diplomatas europeus sublinham que a absolvição de Costa de qualquer suspeita pode não ser suficiente sem uma completa ilibação das pessoas ao seu redor.
António Costa mostra confiança na sua absolvição, apesar de reconhecer a lentidão do sistema judicial português. E assegurou à revista o mesmo que tem sempre dito: que nunca esteve envolvido em ilegalidades, marcando a sua posição de defesa.
A nomeação de Costa para presidente do Conselho Europeu é vista como prestigiosa para Portugal e benéfica para a Europa, dada a sua destreza negocial e por ser um eurófilo.
A reputação pessoal de Costa manteve-se sólida ao longo de três décadas em posições executivas no governo, com poucos em Lisboa a questionar a sua integridade.
Fonte: Politico
🌍😔 Turismo de última oportunidade aumenta consciencialização ambiental mas é controverso
Maioria dos visitantes quer aprender mais sobre proteção ambiental
Locais turísticos integram educação sobre mudanças climáticas nas suas atrações
Críticas ao turismo de última oportunidade questionam os impactos negativos nos ecossistemas
O turismo de última oportunidade é o turismo motivado pela vontade de visitar maravilhas naturais ameaçadas pelo aquecimento global. E está a crescer. Locais como recifes de coral, glaciares e arquipélagos, correm o risco de desaparecer. E por isso estão a atrair cada vez mais curiosos. Este tipo de turismo, porém, suscita um debate ético: embora possa aumentar a consciencialização sobre as mudanças climáticas, também pode prejudicar os ecossistemas, muito fragilizados.
Um estudo realizado em 2020 no maior glaciar dos Alpes franceses, Mer de Glace, apurou que 80% dos visitantes se comprometeram a aprender mais sobre proteção ambiental e 77% afirmaram que reduziriam o seu consumo de água e energia. Locais como o glacial Pastoruri no Peru têm incorporado a educação sobre as mudanças climáticas nas suas ofertas turísticas, demonstrando um esforço para transformar o turismo numa ferramenta de consciencialização.
Apesar dos possíveis benefícios educacionais, existem críticas significativas ao turismo de última oportunidade. Destinos como a Antártida exigem uma grande quantidade de combustível para serem alcançados, e os visitantes podem introduzir doenças e danificar a vida selvagem. Além disso, um estudo da Universidade de Waterloo revelou que a maioria dos turistas em dois locais no Canadá não estava disposta a pagar mais para compensar a pegada de carbono de suas viagens, levantando questões sobre a ética e os reais impactos desse tipo de turismo.
Fonte: NY Times
OPINIÕES
Nuno Severiano Teixeira reflete sobre a complexidade e a desumanidade nas ações quer do Hamas quer do Governo de Israel, criticando as respostas desproporcionais de ambos os lados. No Público.
Carmo Afonso explora as táticas de André Ventura em nomear as "forças vivas" do PSD que alegadamente apoiariam um acordo pós-eleitoral com o Chega, numa tentativa de reverter a queda nas sondagens e assegurar votos úteis. No Público.
Luís Delgado argumenta pela necessidade urgente de reformar o sistema eleitoral português e expõe medidas para reverter o prolongamento desgastante das campanhas eleitorais. Na Visão.
Teresa Pizarro Beleza e Helena Pereira de Melo questionam a viabilidade de uma "Constituição neutra", como proposto pelo partido Chega, argumentando que a constituição de um país não pode ser ideologicamente neutra, pois forma a base dos valores e princípios da comunidade. No DN.
Fernanda Câncio examina as declarações de Luís Montenegro sobre possíveis alianças com o Chega, explorando as contradições entre o discurso público e a prática política interna dentro do PSD e CDS. No DN.
CURTAS
As Nações Unidas pressionam a França para proteger os opositores ao projeto da autoestrada A69, no sudoeste francês. Ativistas climáticos conhecidos como “os Esquilos” opõem-se ao corte de cerca de 200 árvores, necessário para a obra. O Relator Especial da ONU sobre Defensores do Meio Ambiente, Michel Forst, critica a ação das forças da ordem contra os ativistas e pede uma investigação. • France info • Reporterre
O último mês de fevereiro foi o mais quente a nível mundial desde que há registos, com a temperatura média global a atingir 13,54°C, ultrapassando em 0,81°C a média do período 1991-2020. • TSF
Nos EUA, na “Super Terça feira”, tanto o atual presidente Joe Biden como o ex-presidente Donald Trump asseguraram quase todos os delegados em disputa, aproximando-se da nomeação pelos respectivos partidos para as próximas eleições. • DN
A República da Irlanda realizou um referendo para eliminar referências ao papel da mulher “em casa” e estabelecer um novo conceito família na sua Constituição, como parte do seu processo de liberalização social e legislativa. O objetivo do governo é salvaguardar os direitos das famílias monoparentais ou de casais que não sejam casados e que coabitam com os seus filhos • Público
O Banco Central Europeu ajustou a previsão de inflação média para a zona euro para 2% em 2025, em alinhamento com o seu objetivo de estabilidade de preços. • RTP
O parlamento espanhol aprovou alterações ao novo texto da lei de amnistia, que inclui o perdão a todos os envolvidos no processo independentista catalão nos últimos doze anos. • RTP
O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, anunciou que a França enfrenta uma situação de crise nas suas finanças públicas, com um défice orçamental maior do que o previsto para o último ano. • Público
A taxa de natalidade na União Europeia caiu para 1,46 nascimentos por mulher em 2022, enquanto Portugal registou um aumento para 1,43, recuperando da queda do ano anterior. • RTP
O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês criticou a estratégia da União Europeia de considerar a China como parceiro, concorrente, e rival sistémico, afirmando que não reflete a realidade nem favorece as relações bilaterais. • Expresso
Odessa foi bombardeada pela Rússia durante uma visita do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e do primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, resultando em cinco mortos. As forças russas alegaram ter atingido alvos militares ucranianos. • DN
ETIQUETAS
Uma exposição
“Factum” - exposição do fotógrafo Eduardo Gageiro, Cordoaria Nacional, Lisboa, até 5 maio 2024. “Esta é a maior exposição de sempre de Eduardo Gageiro, onde o destaque vai para algumas imagens captadas no dia 25 de Abril de 1974, mas onde podem também ser vistas diversas ilustrações que retratam o modo de vida dos portugueses, e algumas personalidades do país, entre os anos de 1950 do século XX e 2023. O trabalho mais recente foi captado no desfile do 25 de Abril de 2023.”
Uma peça de teatro
“A Paixão Segundo o Teatro”, Teatro da comuna, Lisboa, até 17 março 2024
Encenação Hugo Franco. Atores: João Mota, Maria Jorge, Miguel Sermão e Rogério Vale. “Um texto magnifico de Brigitte Jacques-Wajeman, adaptado de 7 lições de Luís Jouvet a Paula (Cláudia),uma jovem promissora actriz ,na construção da personagem numa cena de Elvira em "D.João", de Molière.”
Um livro
A Desobediente — Biografia de Maria Teresa Horta. Autora: Patrícia Reis
Editor: Contraponto, 2024. “A vida é muito complicada para as mulheres que querem assumir o que lhes foi sempre proibido através da sociedade.” Maria Teresa Horta.
“A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa actividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem.”
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[1.37] AD ou PS? Empate técnico, isto é, tudo em aberto para as eleições do próximo domingo. AD recupera um pouco mas segue com menos 1% de intenções do que votos teve em 2022. IL também tem menos 1%. A direita só cresce pelo Chega. À esquerda só perde votos o PS.
[1.36] Onde pode o PCP eleger os seus deputados? E quantos (5, 6, 7, 8)?. Reforçar o grupo parlamentar é um objetivo vago, mas realista. O PCP-PEV pode obter mais dois deputados, dizem realisticamente os números. Mas também pode perder um.
[1.35] Onde pode o PAN eleger as suas deputadas? E quantas (1,2,3)?. O objetivo do Pessoas Animais Natureza para as legislativas é modesto: ter um grupo parlamentar, isto é, eleger dois ou mais deputados. Os números dizem que é uma ambição realista.
[1.28] A entrada da extrema-direita no Governo é praticamente inevitável. A direita deverá o crescimento eleitoral todo ao Chega, o terceiro partido mais votado deste século. Não há desculpas, cenários ou artimanhas para o marginalizar. Nem vontade, na AD.