[1.36] Onde pode o PCP eleger os seus deputados? E quantos (5, 6, 7, 8)?
Reforçar o grupo parlamentar é um objetivo vago, mas realista. O PCP-PEV pode obter mais dois deputados, dizem realisticamente os números. Mas também pode perder um.
O que nos diz a sondagem da semana? Que o apelo ao “voto útil” não está a dar os resultados procurados por AD e PS: os pequenos e os médios partidos cresceram ligeiramente. Incluindo o PCP-PEV, apesar de as projeções apontarem para o pior cenário que ressalta da análise dos números, círculo a círculo, feita nesta edição.

ANÁLISE
Onde pode o PCP eleger os seus deputados? E quantos (5, 6, 7, 8)?
[Continua hoje a análise sobre o número de deputados que cada força partidária pode realisticamente esperar, iniciada na edição 1.24 com o Livre e prosseguida na edição 1.35 com o PAN]
Começo por uma nota pessoal. Por diversas vezes escrevi sobre o declínio eleitoral lento do PCP e sempre me valeu a irritação de amigos comunistas nas redes onde publiquei esses textos. Não tenho nenhum prazer especial, pelo contrário, na constatação dos números que descrevem esse declínio. Tenho pelo PCP um respeito um pouco acima do respeito institucional que os partidos merecem e chegou a ter o meu voto em eleições autárquicas. Foi com alguma tristeza que estudei os factos que indicam que no dia 10 só por uma revolução eleitoral impensável e inesperada o PCP recuperará o terreno perdido nos últimos 9 anos e três eleições legislativas.
2015 foi um ano muito bom para os partidos à esquerda. A coligação PCP-PEV somou 17 deputados, um mais que nas eleições anteriores em 2011. (O BE passou de oito para 19 e o PS de 74 para 86.)
Foi o último ano bom do PCP, que no século passado ocupara amiúde o lugar de terceiro partido, desde os 47 deputados em 1979 até aos 31 em 1987. Nas eleições seguintes, 2019, perdeu cinco deputados. E em 2022 a sua bancada ficou reduzida a seis elementos.
Para as legislativas a coligação parte com a ambição de aumentar o grupo parlamentar. Será possível? E em que medida?
A análise dos dados das últimas três eleições aconselham prudência. Sim, o partido pode recuperar dois a três deputados. Mas também pode perder mais um. Vejamos como e onde.
Comecemos por onde pode o partido ceder mais outro deputado. Depois de ter perdido Évora nas últimas eleições, o PCP-PEV arrisca perder o deputado por Beja. Da casa dos 18.000 votos em 2015 desceu para a casa dos 14.000 em 2019 e em 2022 baixou para o patamar dos 12.000. A tendência pode ser estancada? Pode, claro. Mas a concorrência aperta. Um cenário provável é a AD recuperar o deputado que o PS lhe roubou nas últimas legislativas, mas com o PS a manter-se vitorioso, com dois deputados. Isto se o CH não galgar a margem de 5.500 votos que lhe faltaram em 2022.
Onde pode o partido recuperar? O deputado perdido em Évora é uma das melhores possibilidades. Já teve 52.000 votos nesse círculo eleitoral. Anda pelos 11.000 e precisa de ir buscar de volta pouco mais de 2.000 votos.
Um esforço menor, contudo, é necessário para recuperar um deputado em Lisboa, onde o PCP-PEV passou de cinco para quatro e depois para dois nas últimas três legislativas. Sendo previsível que o PS perca em Lisboa uma grande quantidade de votos, a coligação comunista é a força melhor colocada para recuperar os 6.000 votos que lhe faltaram em 2022 para o terceiro mandato.
O Porto é outro círculo eleitoral onde o PCP pode eleger mais um deputado do que em 2022.
Sintetizando, a coligação PCP-PEV tanto pode eleger cinco deputados, perdendo o de Beja, como manter o seu grupo de seis ou eleger mais um ou dois deputados.
FALTAM 10 DIAS PARA AS LEGISLATIVAS 2024
A sondagem da semana pouco altera as projeções: a direita mantém a maioria e a AD mantém a vitória. Contudo, nota-se um pequeno decréscimo no “bloco central”, ou melhor dizendo, o apelo ao “voto útil” nos dois principais partidos não está a dar os resultados procurados: os pequenos e os médios partidos cresceram ligeiramente de uma sondagem para a seguinte.
👮♂️ 🌱 Reprimir ativistas ambientais é uma ameaça à democracia
As nações europeias devem pôr fim à “repressão e criminalização de protestos pacíficos” e tomar medidas urgentes para reduzir as emissões, seguindo o Acordo de Paris, a fim de limitar o aquecimento global a 1,5°C, de acordo com o relator especial da ONU sobre defensores do meio ambiente. Após uma investigação de um ano, que incluiu evidências do Reino Unido, Alemanha, Dinamarca, Holanda, Espanha e Portugal, Michel Forst afirmou que a repressão enfrentada pelos ativistas ambientais é uma grande ameaça à democracia e aos direitos humanos.
Todas as nações inspecionadas são partes da Convenção de Aarhus, observa o Guardian, que afirma que protestos ambientais pacíficos são um exercício legítimo do direito político de participar na tomada de decisões e aqueles envolvidos devem ser protegidos.
Entretanto, milhares de agricultores marcharam na capital da Polónia e os agricultores espanhóis bloquearam o tráfego nas auto-estradas perto da fronteira francesa, nos mais recentes protestos contra as importações de alimentos da Ucrânia e as políticas agrícolas da UE. Alguns manifestantes querem a retirada do Pacto Verde da UE.
Fontes: The Guardian, AP, Carbon Brief
🇪🇺😟 Divergências ameaçam a extrema-direita no Parlamento Europeu
Em síntese
A unidade do grupo parlamentar de extrema-direita Identidade & Democracia (ID) no Parlamento Europeu está em risco devido a divergências entre a AfD alemã e o Rassemblement National (RN) francês.
O RN exige que a AfD se distancie mais de uma proposta controversa de “remigração”, após tentativas frustradas de esclarecimento por parte da AfD.
Fontes do partido ID indicam que o conflito entre RN e AfD prejudicou significativamente a relação entre os dois, colocando em questão a continuidade da cooperação e a estabilidade do grupo parlamentar.
A notícia
A Identidade & Democracia (ID), grupo parlamentar de extrema-direita no Parlamento Europeu, enfrenta uma crise interna devido às crescentes divergências entre os seus dois maiores membros: a Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen. Uma investigação revelou como o apoio de membros da AfD à ideia de “remigração” para cidadãos alemães agravou as tensões, levando o RN a questionar sua colaboração com a AfD.
Apesar das diversas tentativas de apaziguamento da AfD, incluindo reuniões bilaterais e a visita de Alice Weidel, co-líder da AfD, a Marine Le Pen em Paris, o RN mantém-se firme na exigência por um maior distanciamento da AfD em relação à proposta controversa. Jean-Paul Garraud, líder da delegação do RN no Parlamento Europeu, enfatizou a necessidade de vigiar a linha política dos aliados e debate interno sobre a postura da AfD.
O conflito entre AfD e RN não só ameaça a unidade do grupo ID mas também sua própria existência, segundo fontes internas. A discrepância entre as duas partes pode levar a uma reorganização das alianças de direita no Parlamento Europeu, destacando as ramificações do impasse para a dinâmica política europeia.
Fonte: Euractiv
🇪🇺🌍 Walter Baier eleito candidato da Esquerda Europeia à Comissão Europeia
Walter Baier centra luta contra crise climática nas classes trabalhadoras
Falta de experiência em instituições da UE levanta questões, Baier responde
Esquerda Europeia e plataforma 'Now the People' disputarão com programas separados
O Partido da Esquerda Europeia escolheu Walter Baier, membro do Partido Comunista da Áustria (KPO), como seu candidato à presidência da Comissão Europeia, durante a assembleia geral ocorrida no sábado (24 de fevereiro). No cargo de presidente do partido desde dezembro de 2022, Baier, que não é uma figura conhecida em Bruxelas e não consta nas listas eleitorais do seu partido para o Parlamento Europeu, defende que é necessário ouvir as vozes das classes trabalhadoras na luta contra as alterações climáticas.
Desafiando as limitações de sua falta de experiência em instituições da UE, Baier reforça a visão de uma Europa plural e diversa, representando milhões de cidadãos cujas vozes são raramente ouvidas. A Esquerda Europeia planeja destacar a importância das classes trabalhadoras na transição ecológica e lutar por condições de vida justas para evitar o avanço da extrema-direita, responsabilizando os partidos dominantes pelo descontentamento popular que alimenta este crescimento.
Apesar do sistema 'spitzenkandidat', que permite aos partidos políticos europeus eleger um líder para as suas campanhas eleitorais, e no qual Baier é o candidato do seu partido, a probabilidade de assumir a presidência da Comissão Europeia é considerada baixa devido à dimensão modesta do Partido da Esquerda Europeia e à tendência recente de os países da UE contornarem este processo.
Durante a assembleia, Baier manifestou-se contra o aumento dos gastos militares e defendeu maior investimento em cultura, educação e serviços públicos, além de propor uma estratégia internacional baseada na paz e justiça para o conflito na Ucrânia. O partido opõe-se também à exigência da NATO de 2% do PIB em despesas de defesa, argumentando a favor de prioridades que fortaleçam o tecido social e cultural europeu.
Fonte: Euractiv
STATUS
Álvaro Santos Pereira, ex-ministro da Economia de Portugal, foi nomeado economista-chefe da OCDE.
OPINIÕES
Pedro Marques Lopes discute a governabilidade em Portugal, destacando o desempenho económico do país e questionando o papel do PS neste processo. Na Visão
Filipe Luís analisa a participação de Pedro Passos Coelho na campanha eleitoral, considerando-a uma manobra política que pode afetar a AD e a sua estratégia para obter uma maioria estável. Na Visão
Pedro Filipe Soares reflete sobre o impacto das declarações passadas de Pedro Passos Coelho na atual campanha eleitoral do PSD, evidenciando a desconfiança do eleitorado em relação às políticas de cortes em pensões e reformas. No Expresso
Carmo Afonso critica a decisão do PSD de coligar-se com um partido liderado por um indivíduo acusado de misoginia, questionando os valores e a integridade da coligação AD. No Público
CURTAS
As autoridades da Nigéria detiveram dois executivos da Binance, uma das principais plataformas de comércio de criptomoedas, acusando-os de contribuir para a desvalorização da sua moeda (naira). Seguiu-se a interrupção do acesso a sites de várias plataformas de criptomoedas, incluindo Binance e Coinbase, por parte dos operadores de telecomunicações. Devido a estas medidas, a Binance cessou as operações de troca peer-to-peer em naira. O Banco Central da Nigéria aumentou a taxa de juro para 22,75%, criticando especialmente a Binance por alegadas manipulações da moeda. • Semafor
Com base em dados do Instituto Nacional de Estatística, o Governo manifestou confiança em atingir a meta de crescimento de 1,5% do PIB em 2024, após um crescimento económico de 2,3% em 2023, apesar do abrandamento económico significativo na União Europeia. • Visão
Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, apelou à unidade dos palestinianos para a criação de um Estado próprio como única forma de alcançar a paz duradoura no Médio Oriente, baseando-se nas resoluções da ONU. • RTP
O XIII Congresso do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público inicia-se em Ponta Delgada, Açores, com a presença de várias figuras relevantes, incluindo a Procuradora-Geral da República e o presidente do Governo Regional dos Açores. • RTP
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, reuniu-se com representantes da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, enfatizando a importância da cooperação para o benefício mútuo dos dois países, destacando a complementaridade das suas economias. • RTP
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, anunciou a rejeição antecipada do resultado das próximas eleições presidenciais russas, citando a morte de Aleixei Navalny como prova da intolerância russa à oposição. • RTP
ETIQUETAS
Uma exposição
António Viana Barreto. Maestro da Paisagem, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 16 fev – 16 mar 2024, 10:00 – 18:00, entrada livre. “Esta exposição comemorativa do centenário do nascimento de António Viana Barreto é uma pequena mostra da sua vasta obra, significante na história da Arquitetura Paisagista e que é pertença da memória de todos nós. António Facco Viana Barreto (1924-2012) é uma referência na promoção das políticas de Ordenamento do Território, na teoria e praxis do Ordenamento do Território e da Paisagem e na obra deixada em Projetos de Arquitetura Paisagista.”
Um concerto
Portugal – Brasil, Orquesta Sinfónica do Porto, Casa da Música, Porto, 02.03.2024, 18:00. “Após vencer o Concurso Internacional de Direção de Orquestra de Cadaqués, em 2010, o britânico Andrew Gourlay assumiu o cargo de maestro titular da Orquestra Sinfónica de Castela e Leão lançou-se numa carreira de dimensão internacional. Neste muito esperado regresso ao Porto, dá a conhecer obras do grande compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos em estreia nacional e europeia.”
Um livro
Certas Raízes. Autoria: Hélia Correia. Editora: Relógio d’Água, 2024. “Hélia Correia: ‘Escrevo de uma forma completamente cega’. Certas Raízes é o regresso de um nome maior da literatura portuguesa, livro de contos que mergulha nas sombras, no indizível. ‘Não sou medrosa, mas começo a ter medo.’ ‘Sinal’ destes tempos.” Helena Vasconcelos
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[1.35] Onde pode o PAN eleger as suas deputadas? E quantas (1,2,3)?. O objetivo do Pessoas Animais Natureza para as legislativas é modesto: ter um grupo parlamentar, isto é, eleger dois ou mais deputados. Os números dizem que é uma ambição realista.
[1.34] Ucrânia: apenas uma batalha (perdida) na guerra do “Ocidente” contra a Rússia. Dois anos de guerra na Ucrânia trouxeram-nos aqui: a Europa teme ficar isolada entre uma Rússia fascista e uns EUA inconfiáveis, com o resto do mundo indiferente. A confiança ocidental durou um ano.
[1.33] Finalmente, Algarve: água mais cara e racionada, e concurso aberto para a dessalinizadora. Governo apresenta plano doloroso com 42 medidas que vão do aumento do preço à racionalização do consumo. Mas finalmente o Algarve, contribuinte líquido do Estado, merece atenção.
[1.32] Sim, é possível destronar a extrema-direita. A ex-comunista alemã Sahra Wagenknecht mostra como. A receita é simples: à esquerda na economia, à direita em assuntos sociais como os imigrantes. Com essa "pedrada" Wagenknecht deixa dois coelhos a coxear: a AfD e o seu antigo partido, Die Linke.