[1.24] O fim do livre comércio está próximo! Agricultores marcham por estatuto de exceção
Paris paralisada, protestos alastram a mais países, Portugal no roteiro. O regresso do protecionismo para defender os agricultores da concorrência está agora na agenda da União.
É curioso ver como as pretensões dos agricultores europeus (o movimento cresce cada vez mais para fora de França) estão alinhadas com a agenda da extrema-direita: fechar as fronteiras para proteger os seus. A pressão da concorrência está a fazer danos graves nestes agentes económicos mais expostos aos excessos do livre comércio. E menos exigências ambientais? Não virá daqui nada de bom para ninguém na União Europeia.
Noutro contexto, iniciamos a análise das expetativas do número de deputados que terá cada partido na composição da próxima Assembleia da República. Onde pode o Livre eleger os seus deputados? E quantos (1,2,3,4)? Respostas sem medo.

🇪🇺 🚜 🇧🇪 🇩🇪 🇵🇱 🇮🇹 🇵🇹 Agricultores marcham por estatuto de exceção e o fim do livre comércio
Agricultores franceses avançam para Paris e preparam cerco a um dos maiores centros de distribuição alimentar europeus.
Governo francês apela à União Europeia por estatuto de exceção para enfrentar crise agrícola.
Agricultores europeus protestam contra a concorrência desleal do Mercosul, exigindo normas menos restritivas.
Presidente francês pede à Comissão Europeia o fim das negociações; Macron discutirá com Ursula von der Leyen.
Comissão Europeia mantém diálogo, apesar dos desafios políticos e ambientais; alguns países europeus resistem.
Sob o lema "Em Marcha", milhares de agricultores franceses estão a mobilizar-se em direção a Paris, numa demonstração da sua insatisfação e exigência de medidas para combater a crise no setor. Pretendem cercar um dos mais significativos centros de distribuição alimentar da Europa antes de chegarem à capital francesa. Embora as suas ações se mantenham pacíficas, o governo obteve uma resposta morna dos manifestantes ao pedir um estatuto de exceção junto à União Europeia.
Os protestos em toda a França evidenciam a divisão entre os agricultores e as autoridades, apesar da ausência de confrontos. Algumas das principais estradas francesas viram-se marcadas pela presença dos manifestantes que não foram apaziguados pelas palavras do novo primeiro-ministro, cujo discurso foi transmitido em direto e assistido em várias estradas pelo país, evidenciando a determinação dos agricultores em prosseguir com os seus protestos até que suas reivindicações sejam atendidas.
Protestos ameaçam acordo UE-Mercosul
Os protestos dos agricultores em vários países europeus estão a colocar em risco o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Os agricultores franceses e belgas, que têm se manifestado, queixam-se da concorrência desleal de produtos agrícolas importados de regiões com regulamentações mais flexíveis, caso do bloco sul-americano. As negociações do acordo prosseguem há duas décadas; estas manifestações evidenciam a tensão entre a abertura do mercado e a proteção dos produtores locais.
O presidente francês, Emmanuel Macron, interveio pedindo à Comissão Europeia para paralisar as negociações, frisando a dificuldade em concluir o acordo neste clima de contestação. Enquanto alguns Estados-Membros, como Áustria, Bélgica, Irlanda e Países Baixos, se mostram cautelosos quanto ao acordo, outros, como Portugal e Espanha, são mais favoráveis. Macron planeia abordar o tema diretamente com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, numa reunião bilateral.
Embora a Comissão Europeia reconheça os desafios, incluindo a necessidade de medidas adicionais de preservação ambiental que têm atrasado a ratificação do acordo, o compromisso com a continuação das discussões permanece. Do mesmo modo, o acordo enfrenta incertezas políticas do lado sul-americano, com a preocupação de que a eleição de figuras políticas contrárias ao Mercosul, como o argentino Javier Millei, possa comprometer o processo. Apesar de tudo, a posição oficial da UE é de que a agricultura dos seus membros é uma prioridade e que busca um acordo que respeite tanto a sustentabilidade quanto os interesses agrícolas europeus.
Fontes: SIC Notícias, Euronews
E ainda
O Governo português apresentou medidas de apoio aos agricultores, no valor próximo de 500 milhões de euros, para mitigar os efeitos da seca e fortalecer os rendimentos do setor. As medidas foram anunciadas pelos ministros da Agricultura e das Finanças. • RTP
Empresas de transporte de mercadorias portuguesas enfrentam prejuízos devido aos bloqueios dos agricultores franceses, embora não haja problemas no abastecimento de bens essenciais, pois os camiões de primeira necessidade têm sido autorizados a passar. • Lusa
A Confederação Nacional de Agricultores (CNA) anuncia a realização de protestos regionais para reivindicar a melhoria dos rendimentos no setor, incluindo marchas lentas e manifestações, coincidindo com bloqueios de estradas na Europa. • Visão
FALTAM 39 DIAS PARA AS LEGISLATIVAS 2024
Última sondagem: PS: 32,7%, AD: 27,4%, CH: 16,2%, BE: 8%, IL: 4,2%, PAN: 2,9%, CDU: 2,6%, L: 1,9%.
Direita: 47,4%, esquerda: 45,2% (com PAN: 48,1%).
Barómetro mensal Aximage com distribuição de indecisos, 28/01
Onde pode o Livre eleger os seus deputados? E quantos (1,2,3,4)?
[ Iniciamos hoje em VamoLáVer uma análise sobre o número de deputados que cada força partidária pode realisticamente esperar. Este exercício não é uma sondagem nem uma previsão: pretende apenas avaliar as expetativas quer dos partidos quer da sociedade, baseando-se em resultados anteriores e nas configurações de cada círculo eleitoral, bem como em elementos atuais (declarações públicas sobre essas expetativas).
Dos partidos com representação parlamentar, o Livre foi o partido menos votado em 2022. É com ele que começa este exercício. Segue-se o PAN numa das próximas edições. ]
Rui Tavares, co-porta-voz do Livre, já traçou os objetivos para as legislativas e entre eles está fazer eleger três deputados. O líder mais conhecido e outras figuras do partido que têm conseguido captar a atenção da comunicação social apontam os círculos de Lisboa — onde o Livre viu eleita Joacine Katar Moreira em 2019 e Rui Tavares em 2022 —, Porto e Setúbal.
No calor do Congresso do Livre, na semana passada, o entusiasmo foi maior, falando-se em eleger ainda um quarto candidato, por Braga. A número dois por Lisboa, Isabel Mendes Lopes, esteve entre as entusiastas nas suas declarações à comunicação social.
E eleger quatro deputados é possível, realisticamente falando, é o que nos dizem os números, a sequência de mandatos em cada círculo (a alocação de mandatos no método de Hondt e similares é feita passo-a-passo, um a um, pelo que é possível mostrar a ordem de alocação, saber que lista foi a última a eleger), e o número de votos adicionais necessários para um partido conquistar o último mandato de cada círculo.
Contudo, é menos provável que seja eleita a cabeça de lista por Braga do que a segunda por Lisboa. Teresa Mota (a outra co-porta-vos do partido) precisa em Braga de mais 17.000 votos, o que significa quase quintuplicar a votação de 2022 (3.936 votos), enquanto Isabel Mendes Lopes precisa de menos votos, 15.000, e um esforço muito menor, não será preciso duplicar os 28.854 de 2022.
Quanto aos outros dois círculos em que o partido concentrará a sua campanha, Porto e Setúbal, as hipóteses são bastante melhores que em Braga, mas não tão boas como em Lisboa.
Em 2022 o Livre ficou a 10.064 votos de conseguir o seu mandato pelo Porto. Teve 11.438 votos. No Porto o partido que “pagou mais barato” por cada mandato, o Chega, precisou de 21.502 por deputado, contra os 32.278 da CDU e os 25.567 da IL. A tarefa está longe de ser impossível: o Livre tem de duplicar o seu eleitorado no distrito do Porto.
No caso de Setúbal as contas são mais complicadas pelo facto de este ano o distrito eleger mais um deputado, “roubado” a Viana do Castelo (VamoLáVer explicou tudo há dias: PS perderá deputado por Viana, CH ganhará deputado por Setúbal). À partida o cenário numérico favorece o partido, é o que parece.
Setúbal “cobra” menos por deputado: o PS elegeu cada deputado por 19.812 votos. O Livre teve 6.140 votos. O último deputado eleito em 2022 foi o 10º da lista do PS e o Chega ficou a 455 votos de o ter arrebatado. Estimo que sejam necessários ao Livre pelo menos 18.000 votos — ou seja, o partido precisa crescer para o triplo.
Resumindo e concluindo: a fasquia dos três deputados do Livre é realista, os quatro deputados são menos realistas, embora ao alcance de uma campanha que consiga ser empolgante sobretudo em Lisboa e Setúbal, e é irrealista esperar que o partido faça eleger algum fora dos quatro círculos que perfazem os dois grandes polos urbanos do país.
Um elemento adicional: o Livre figurará na 17ª e penúltima posição do boletim de voto em Lisboa e na primeira posição do boletim do Porto; em Setúbal é o 14º da lista de 17 e em Braga estará na 9ª posição em 17.
Dados: MAI e CNE. Análise: VamoLáVer.
🇵🇹😠 Grupo 1143 reavivado: ameaça extremista em Lisboa conta com apoiantes do Chega
Grupo 1143, de extrema-direita e neo-nazi, planeia manter a marcha “Contra a Islamização da Europa” apesar do cancelamento pela Câmara de Lisboa.
Ameaça de violência evidente devido à ligação de membros com o violento grupo neo-nazi Portugal Hammerskins
Grupo 1143 regressa como movimento político anti-muçulmano, liderado por um neo-nazi com histórico violento em cultura ultra de futebol.
Um grupo de extrema-direita e neo-nazi conhecido como Grupo 1143 causou agitação em Lisboa ao anunciar uma marcha com tochas contra a “Islamização da Europa”. Apesar de a Câmara de Lisboa ter cancelado a marcha que estava prevista ocorrer na Praça Martim Moniz e ruas adjacentes ,o grupo afirmou que marcharia noutro local da cidade, no dia 3 de fevereiro. O Grupo 1143 tem recebido atenção significativa devido às suas ligações a neo-fascistas e neo-nazis, assim como às suas conexões históricas com o violento grupo neo-nazi Portugal Hammerskins.
O grupo, anteriormente uma associação de adeptos ultras, está agora a ressurgir como movimento político anti-muçulmano e anti-imigrante com uma base de membros espalhada por todo o país. Com laços estreitos com o Partido Nacional Renovador (PNR) e outras redes de extrema-direita em Portugal, o grupo é conhecido pelo uso de símbolos neo-nazis e pela violência racista. A liderança de Mário Machado, que tinha reorganizado o grupo em 2023, e o emprego continuado dos mesmos símbolos e slogans que eram utilizados pela fação de futebol, são indicativos da continuidade ideológica do grupo.
A manifestação anti-islão vem reforçar o discurso extremista do partido Chega, liderado por André Ventura. A crescente popularidade da proposta política da extrema-direita populista tem contribuído para normalizar posições racistas e xenófobas, o que tem sido aproveitado por movimentos que até há pouco não tinham relevância pública. Mário Machado, que esteve envolvido em grupos marginais como a Frente Nacional, Portugal Hammerskins e Nova Ordem Social, tentou recentemente estabelecer uma filial em Portugal do grupo motard Red & Gold, mas sem sucesso. A ligação entre o Chega e a extrema-direita tem levantado preocupações sobre o aumento do discurso de ódio nas ruas do país.
Os membros do Grupo 1143, incluindo skinheads e propagadores de conteúdo neo-fascista, têm sido responsáveis por atos de vandalismo e assédio a minorias pelo país. A atividade recente inclui grafites com simbologia de extrema-direita e alegações de Machado de que certos ataques são “falsas bandeiras” de agitadores de esquerda ou serviços secretos. O Grupo 1143 continua a empregar retórica de extrema-direita, utilizando slogans como "Portugal aos Portugueses" e exibindo símbolos como a cruz celta neo-nazi.
Fontes: Global Project Against Hate and Extremism, Expresso, Visão
CURTAS
A China ficou perto de ultrapassar o Japão como maior exportador mundial de automóveis em 2023, exportando 5,22 milhões de veículos, levemente abaixo dos 5,97 milhões do Japão. A maioria das exportações chinesas consistia em veículos a gasolina e a Rússia é um destino significativo. • CNBC
Líderes europeus, incluindo Olaf Scholz, admitiram a falha da UE em fornecer 1 milhão de munições de artilharia à Ucrânia até março de 2024, apelando a um reforço de apoio. Alemanha lidera com 17 mil milhões de euros e França contribui com 533 milhões, enquanto o Kiel Institute destaca uma queda de 90% nas contribuições. • The Guardian
A Itália intensificou protestos contra a forma como Ilaria Salis, uma antifascista italiana, foi tratada num tribunal húngaro, desencadeando indignação após imagens de sua aparência acorrentada. Ilaria Salis foi detida por alegado envolvimento em agressões durante as comemorações do Dia da Honra na Hungria. • AP
Ucrânia e Rússia realizaram a primeira troca de prisioneiros desde a recente queda de um avião russo, com a Rússia a libertar 195 soldados e a Ucrânia 207 soldados e civis. Ambos os países confirmaram a operação, apesar de dúvidas sobre prisioneiros ucranianos a bordo do avião abatido. • BBC
O embaixador de Cabo Verde em Angola destacou a conectividade aérea como um desafio principal nas relações entre os dois países, com passos em andamento para melhorar a cooperação económica. • ANGOP
Portugal registou um excedente orçamental de 4.330 milhões de euros em 2023, uma melhoria significativa comparativamente ao défice de 3.437 milhões de euros em 2022. Este resultado deve-se a um aumento de 12,1% na receita efetiva, puxado pelo IRS e contribuições para a Segurança Social. • Lusa
A Comissão Europeia indicou que os maiores partidos de Espanha se comprometeram a renovar os órgãos judiciais do país. As partes acordaram em garantir a aplicação das recomendações da Comissão referentes à nomeação dos membros do Conselho Geral do Poder Judicial. • Lusa
Os imigrantes, representando 7,5% da população, são essenciais para setores como turismo e agricultura em Portugal e sustentam o equilíbrio nas contas da Segurança Social. A reportagem destaca a importância e contribuição positiva dos trabalhadores estrangeiros para a economia do país. • Visão
Domingos Simões Pereira, presidente do Parlamento da Guiné-Bissau, acusa o Presidente Umaro Sissoco Embaló de instabilidade democrática, atuando conforme sua conveniência e não de acordo com a Constituição e apela ao respeito das leis para pacificação do país. • Lusa
O Tribunal Internacional de Justiça rejeitou a maioria das queixas da Ucrânia contra a Rússia por financiar separatistas e discriminação na Crimeia. Reconheceu violações de Moscovo a tratados sobre terrorismo e discriminação racial, mas rejeitou pedidos de compensações por ataques ligados a separatistas pró-Rússia. • Lusa
A legislação portuguesa sobre maus tratos a animais foi mantida pelo Tribunal Constitucional após intensa divisão de opiniões entre os conselheiros, com o presidente do tribunal a utilizar o seu voto de qualidade para definir a questão. • Público
António Guterres, secretário-geral da ONU, apela aos Estados-membros para continuarem a apoiar a UNRWA, destacando o papel fulcral da agência na resposta humanitária em Gaza e na assistência a refugiados palestinianos. • Lusa
ETIQUETAS
Uma exposição
Cristina Sampaio - Cartoons 2023, Casa da Imprensa, Lisboa, até dia 1 de março, de segunda a sexta-feira, entre as 10h00 e as 18h00. “Os cartoons de Cristina Sampaio e a forma como foi por ela concebida a organização da sua “revista do ano” são, sob esse aspecto, a garantia de que "O Ano em Cartoons" continuará a proporcionar aos visitantes um percurso crítico, fascinante e multifacetado, pelos meandros da atualidade portuguesa e mundial.”
Um concerto
Quarteto Leipzig, CCB, Lisboa, 8 março de 2024, 21h00; Joly Braga Santos (1924-1988) Quarteto nº 2. António Pinho Vargas (n. 1951) Quarteto nº 5 (estreia absoluta); Dmitri Schostakovich (1906-1975) Quarteto nº 8. “António Pinho Vargas, cuja música partilha com a de Shostakovich um certo pathos trágico, pathos que denota uma inquietação existencial única na música portuguesa recente, dar-nos-á a conhecer o seu 5.º Quarteto, confirmando-se assim como o compositor português moderno mais significativo no que toca a este género maior da música de câmara.”
Um livro
A Verdade Frágil, de Myriam Revault d'Allonnes, Edições 70, 2020. “Longe de enriquecer o mundo, a pós-verdade empobrece o imaginário social e põe em causa os julgamentos e as experiências sensíveis que podemos partilhar. É urgente tomar consciência da natureza e da amplitude do fenómeno se queremos evitar os seus efeitos éticos e políticos.”
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[1.23] Agricultores e extrema-direita comprometem futuro da União Europeia. Os agricultores franceses isolaram Paris. Alemães, polacos, romenos e belgas estão igualmente descontentes. Os protestos vão afrouxar as leis ambientais e promover o protecionismo. Nada bom.
[1.22] Extrema-direita deixa Alemanha em pé de guerra — precisamente onde queria. Não há nada que hoje se faça no espaço público europeu que não resulte a favor do avanço da extrema-direita. Qualquer coisa é pretexto para o que parece ser o seu inexorável avanço.
[1.14] Próximo Parlamento terá quatro grupos parlamentares de direita. É o primeiro e imediato resultado da formalização, hoje, da Aliança Democrática: o regresso do CDS significa que teremos novamente quatro partidos a representar a direita