[2.25] 🇪🇺 🇷🇺 UE prolonga sanções à Rússia após recuo da Hungria
Orbán recuou porque a União deu garantias sobre os gasodutos para a Ucrânia e Trump mudou de campo sobre a guerra. Sanções vêm desde 2014 com a invasão da Crimeia e este é o 14º pacote.
A semana começou muito intensa nas várias frentes, da guerra aos mercados passando pela política. Resumo desta edição:
UE prolonga sanções à Rússia após recuo da Hungria
Os três pontos que fizeram Orbán recuar
Para contextualizar, uma muito breve resenha dos pacotes de sanções nos dez anos desde a anexação da Crimeia pela Rússia
Mercados globais em queda após pânico com IA chinesa DeepSeek, que lançou o seu modelo de linguagem em apenas dois meses e por uma bagatela (além de que exige muito menos recursos informáticos e custos energéticos)
Governo cria grupo de trabalho para reforma da Segurança Social
NATO partilha recomendações confidenciais sobre armamento com a UE
Independência dos bancos centrais em risco? Christine Lagarde alerta
Alemanha em recessão: dois anos de contração económica abalam zona euro
Espanha (e sete comunidades) sem Orçamentos: o que pode acontecer agora?
Resenha: 🤪 💢 a ascensão do "wokismo de direita" e a guerra cultural global
A fechar um grupo de breves, destacando-se que Bardella considera inevitável a dissolução da Assembleia francesa
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ATUALIDADE
🇪🇺 🇷🇺 UE prolonga sanções à Rússia após recuo da Hungria
A notícia - A União Europeia (UE) decidiu prolongar por mais seis meses as sanções contra a Rússia, após a Hungria ter levantado as suas objeções. Estas sanções visam privar a Rússia de fundos para financiar a guerra contra a Ucrânia e abrangem setores como o comércio, finanças, energia, tecnologia, indústria, transportes e bens de luxo. Entre as medidas, destaca-se a proibição de importação ou transferência de petróleo bruto marítimo e certos produtos petrolíferos da Rússia para a UE, que permanecerão em vigor pelo menos até 31 de julho.
Recuo da Hungria - A Hungria, que inicialmente ameaçou vetar a renovação das sanções devido a preocupações energéticas, recuou na sua posição esta segunda-feira (27 de janeiro). Este recuo pôs fim a uma breve tensão política em Bruxelas, permitindo a renovação das sanções.
Expectativas diplomáticas - Já na semana passada, diplomatas e oficiais da UE esperavam que a Hungria levantasse a ameaça de bloqueio, especialmente após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter avisado que imporia pesadas taxas e sanções à Rússia se não fosse alcançado um acordo para terminar a guerra na Ucrânia.
🇪🇺 ❌ 🇷🇺 Três razões para Orbán recuar
Garantias de segurança energética: O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, exigia que a UE interviesse numa disputa de gás com a Ucrânia, que afetou o trânsito de gás russo para a Europa Central. Para satisfazer esta exigência, a Comissão Europeia anexou uma declaração ao acordo de renovação das sanções, garantindo a segurança energética da Hungria.
Pressão diplomática: A decisão da Hungria veio após semanas de impasse e pressão dos outros estados membros da UE.
Mudança na posição de Trump: Apesar das esperanças iniciais da Hungria, o presidente Trump mudou de atitude ao admitir que imporia mais sanções à Rússia se Moscovo não encerrasse a guerra na Ucrânia.
É importante notar que, embora a Hungria tenha cedido desta vez, o país deverá usar a mesma tática daqui a seis meses, quando o regime de sanções estiver novamente em agenda.
🇪🇺 ❌ 🇷🇺 Cronologia
🗺️ - Março 2014: Primeiras sanções da UE em resposta à anexação ilegal da Crimeia pela Rússia
✈️ - Julho 2014: Sanções económicas em resposta à desestabilização do leste da Ucrânia, incluindo restrições ao setor financeiro e de defesa
🏢 - Setembro 2014: Restrições ao acesso aos mercados de capitais da UE para principais bancos e empresas russas
🔒 - Dezembro 2014: Proibição total de investimentos na Crimeia e Sebastopol
🚫 - Fevereiro 2022: Novas sanções após invasão em larga escala da Ucrânia, incluindo congelamento de ativos e restrições comerciais
💰 - Março 2022: UE bloqueia transações com o Banco Central russo e exclui vários bancos russos do sistema SWIFT
⛽ - Junho 2022: Acordo do 6º pacote de sanções, incluindo embargo parcial ao petróleo russo
🏦 - Outubro 2022: 8º pacote de sanções implementado, estabelecendo base jurídica para limite de preço do petróleo russo
⚡ - Dezembro 2022: UE estabelece teto de preço para petróleo russo
💎 - Março 2023: 10º pacote de sanções, incluindo novas proibições de exportação e medidas contra desinformação russa
🛑 - Junho 2023: 11º pacote focado em combater a evasão das sanções existentes
📊 - Dezembro 2023: UE aprova 12º pacote de sanções, ampliando restrições a diamantes e outros produtos
🇨🇳 - Fevereiro 2024: 13º pacote e pela primeira vez são incluídas na lista empresas da China, Turquia e da Coreia do Norte
🖥️ - Maio 2024: Novo regime de sanções acrescidas, com incidência em tecnologias e assistência técnica
🛳️ - Junho 2024: 14º pacote de sanções da UE, atacando a frota-sombra de Putin e a sua rede bancária fora da Rússia
🔄 - Janeiro 2025: Extensão das sanções existentes por mais seis meses, após resolução das objeções húngaras
⏳ - Julho 2025: Nova revisão programada das sanções pela UE, com possível extensão adicional
Nota: as sanções implementadas em 2014 foram sendo renovadas semestralmente até 2022, quando foram significativamente expandidas devido à invasão em larga escala da Ucrânia.
Aprofundar: Associated Press, Euronews
Sanções da UE contra a Rússia, documento do Conselho Europeu
📉 🤖 Mercados globais em queda após pânico com IA chinesa DeepSeek
A notícia - Os mercados globais de ações e futuros dos EUA sofreram uma forte queda devido ao pânico gerado pela plataforma de IA chinesa DeepSeek R1. Os investidores temem que esta nova tecnologia possa levar a uma redução significativa nos planos de investimento em tecnologia. O índice S&P caiu 2,3% e o Nasdaq recuou 3,9%, com um volume de negociações quatro vezes superior à média dos últimos 30 dias.
As denominadas "Magnificent Seven" (as sete maiores empresas de tecnologia) registaram quedas entre 4% e 6%, com destaque para a Nvidia, que sofreu uma queda de 11%, a Broadcom com -10,8%, e a Vertiv com -18%. Esta situação levou os analistas do JPMorgan a questionarem se "a IA está morta ou se esta é uma das maiores oportunidades de compra em baixa dos últimos tempos".
Impacto nas empresas tecnológicas - A ASML Holding NV, na Europa, registou uma queda de 10%, a maior desde outubro, afetando o índice Stoxx 600 europeu, que recuou 0,6%. O pânico colocou em questão a valorização impulsionada pela IA, que adicionou 15 biliões de dólares ao Nasdaq 100 desde 2022.
Semana crucial para tecnológicas - Quatro das "Magnificent Seven" - Apple, Microsoft, Meta e Tesla - apresentarão resultados esta semana. Os analistas, como Patrick Armstrong da Plurimi Wealth LLP, prevêem ganhos moderados para resultados positivos e severas punições para resultados negativos.
Episódio Trump-Colômbia - Donald Trump ameaçou impor tarifas à Colômbia durante o fim de semana, mas recuou após alcançar um acordo sobre o retorno de migrantes deportados, contribuindo para a instabilidade dos mercados.
Aprofundar: zerohedge.com, washingtonpost.com, expresso.pt
Relacionada
🤖 A DeepSeek lançou o seu modelo de linguagem em apenas dois meses e por menos de 6 milhões de dólares, rivalizando com o ChatGPT e Llama 3.1, e alcançou o topo da App Store da Apple. • qz.com
👨👩👧👦 💶 Governo cria grupo de trabalho para reforma da Segurança Social
A notícia - O Governo português estabeleceu um grupo de trabalho dedicado à reforma da Segurança Social, através de um despacho assinado pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Rosário Palma Ramalho. O grupo, composto por 10 pessoas, inicia funções esta quinta-feira e deverá apresentar um relatório preliminar até 30 de julho, sendo que o relatório final com propostas e recomendações está previsto para o início de 2026.
A iniciativa surge em resposta ao programa do Governo, às recomendações do Tribunal de Contas, aos contributos do Livro Verde da Segurança Social e a uma recomendação específica da Comissão Europeia para Portugal. O objetivo principal é garantir a sustentabilidade a longo prazo do sistema, tornando-o mais robusto e preparado para enfrentar desafios demográficos e económicos futuros.
Principais objetivos do grupo - O grupo focar-se-á na revisão atuarial da taxa contributiva global e na análise integrada da sustentabilidade do sistema de pensões, incluindo o Sistema Previdencial e o regime da Caixa Geral de Aposentações, visando melhorar a sua adequação e equidade.
Regimes complementares - Será desenvolvido um estudo sobre regimes complementares de iniciativa coletiva e individual, bem como um regime público de capitalização, oferecendo aos contribuintes maior flexibilidade e opções personalizadas para reforçar a poupança.
Reforma antecipada - O grupo analisará o regime de reforma antecipada, com ênfase em políticas que incentivem a permanência na vida ativa e aumentem o volume de contribuições para garantir a sustentabilidade do sistema.
Antecedentes - O anterior executivo já havia criado um grupo semelhante que produziu o Livro Verde para a Sustentabilidade do Sistema Previdencial, com apoio da Organização Internacional do Trabalho, propondo medidas como o aumento da idade para acesso à reforma antecipada e alterações no mecanismo de atualização das pensões.
Fonte: publico.pt
🎯 🛡️ NATO partilha recomendações confidenciais sobre armamento com a UE
A notícia - A NATO começou a partilhar informações classificadas sobre padrões de armamento com a União Europeia, com o objetivo de melhorar a interoperabilidade entre os aliados. Esta iniciativa foi lançada pelo novo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, que assumiu o cargo em outubro. Rutte sublinhou a necessidade de a NATO acelerar o reforço das defesas para prevenir futuros conflitos, afirmando que é possível evitar a próxima grande guerra em território da NATO.
Kaja Kallas, vice-presidente da Comissão Europeia, alertou que a Rússia poderá atacar um país da União Europeia já em 2028, baseando-se em relatórios de serviços secretos da Ucrânia.
O objetivo é “harmonizar” as forças militares dos países membros da NATO e melhorar a interoperabilidade entre aliados, incluindo a padronização de termos militares e calibres de armas.
A NATO está a fornecer recomendações classificadas às empresas de defesa sobre quais armas e equipamentos devem ser produzidos, como parte de um plano para aumentar a produção e adotar uma “mentalidade de tempo de guerra”.
No seu primeiro discurso importante como secretário-geral da NATO, Mark Rutte instou os membros da aliança a aumentarem rapidamente os gastos com defesa, alertando que as nações europeias não estão preparadas para a ameaça de uma futura guerra com a Rússia.
Aprofundar: kyivpost.com, meduza.io
Relacionada
🎖️ O Governo português estuda antecipar meta de investimento na Defesa para alcançar 2% do PIB antes de 2029. Uma equipa interministerial analisa o modelo de antecipação, enquanto o primeiro-ministro Montenegro garante que o aumento não comprometerá o equilíbrio financeiro nem o Estado social. • publico.pt
🏦🌍 Independência dos bancos centrais em risco?
A notícia - Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), alertou que a independência dos bancos centrais está a ser questionada globalmente. Este aviso surge após críticas do presidente dos EUA, Donald Trump, à Reserva Federal dos EUA e ao seu presidente, Jerome Powell, sobre a política monetária. Lagarde destacou que, apesar de a independência de jure dos bancos centrais ser prevalente, a independência de facto enfrenta desafios significativos.
Estudos recentes indicam que a independência dos bancos centrais se deteriorou entre 2018 e 2020, afetando quase metade dos bancos em jurisdições que representam 75% do PIB mundial.
A pressão política sobre os bancos centrais pode aumentar a volatilidade macroeconómica, afetando taxas de câmbio, rendibilidade das obrigações e prémios de risco.
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a volatilidade do crescimento económico na zona euro aumentou 60%, enquanto a inflação disparou 280%, segundo Lagarde.
Lagarde acredita que a independência dos bancos centrais não será enfraquecida, pois oferece vantagens como contrapeso à volatilidade e contribui para a força regional num mundo de crescentes rivalidades geopolíticas.
Fonte: Lusa
📉 🇩🇪 Alemanha em recessão: dois anos de contração económica abalam zona euro
A notícia - A Alemanha, sob a liderança do chanceler social-democrata Olaf Scholz, registou uma contração do PIB de 0,5% nos últimos dois anos, algo que não acontecia desde 2002-2003, durante o governo de Gerhard Schröder. Esta situação refletiu-se no índice ZEW de expectativas económicas, que caiu de 47,5 em junho para 10,3 em janeiro de 2024. Simultaneamente, o investimento estrangeiro no país sofreu uma queda dramática de 60% em 2024, segundo dados da UNCTAD.
O cenário económico alemão é particularmente preocupante devido à queda de 4% no investimento e à redução de 1,5% nas exportações nos últimos dois anos. As previsões do FMI indicam que a economia alemã continuará a crescer abaixo da média da zona euro em 2025 e 2026, independentemente do resultado das eleições antecipadas marcadas para 23 de fevereiro.
Causas da crise - De acordo com o diretor de Estudos Económicos no IÉSEG School of Management, Éric Dor, e o diretor da Eurasia, Jens Larsen, os principais fatores incluem a dependência de energia russa barata, o abandono precipitado da energia nuclear, o atraso na transição para veículos elétricos e investimento insuficiente em novas tecnologias.
Impacto na União Europeia - O enfraquecimento do eixo Franco-Alemão está a afetar toda a UE, com França e Itália também a apresentarem crescimento abaixo da média da zona euro. A instabilidade política em ambos os países complica ainda mais o cenário económico europeu.
Consequências para Portugal - Sendo a Alemanha o terceiro maior cliente das exportações portuguesas e o quarto maior investidor estrangeiro, Portugal está naturalmente exposto a esta situação. No entanto, de acordo com Éric Dor, Portugal e Espanha têm sido menos afetados pela recessão alemã do que países como a Bélgica, Finlândia e Irlanda.
Aprofundar: Expresso, Wall Street Journal
Espanha (e sete comunidades) sem Orçamentos: o que pode acontecer agora?
O Governo central teve de prorrogar novamente os seus Orçamentos. Mas não é a única administração que está sem contas em vigor: sete comunidades autónomas (entre elas seis governadas pelo PP) não conseguiram aprovar a sua lei orçamental para 2025.
Por que isso é um problema? Os Orçamentos são uma das principais leis dos governos, onde se incluem os projetos prioritários para o ano seguinte, bem como as medidas e investimentos acordados com os seus parceiros.
Quando não se aprovam novos Orçamentos, prorrogam-se os do ano anterior.
Isso permite ao Governo manter os seus gastos correntes e os planos plurianuais, mas não iniciar novos projetos.
Renovar as contas não é catastrófico do ponto de vista económico: nos sete anos de Sánchez em La Moncloa, o Governo aprovou apenas quatro Orçamentos, enquanto a atividade económica cresceu (exceto em 2020, o ano da pandemia).
Mas é um duro golpe político… Reflete a falta de uma estratégia para a política económica presente e futura e envia uma mensagem desfavorável a nível internacional.
Dificuldades com a NATO. A falta de Orçamentos dificulta o cumprimento dos compromissos de Espanha com a Aliança, que exige o aumento do gasto militar para mais de 3% do PIB, face aos 5% reivindicados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Atualmente, Espanha é o país da NATO que dedica a menor percentagem do PIB ao gasto militar (1,28%).
Fonte: El País
Cronologia
🗳️ - Julho 2023: Eleições gerais em Espanha resultam num parlamento fragmentado, complicando a aprovação do orçamento
📊 - Novembro 2023: Pedro Sánchez forma governo após acordo com partidos independentistas, mas com frágil maioria parlamentar
💶 - Dezembro 2023: Governo espanhol aprova prorrogação do orçamento de 2023 para 2024 devido à impossibilidade de aprovar novo orçamento
🏛️ - Janeiro 2024: Seis comunidades autónomas governadas pelo PP anunciam dificuldades na aprovação dos seus orçamentos
📉 - Março 2024: Tensões entre governo central e comunidades autónomas sobre distribuição de fundos e competências fiscais
🔄 - Setembro 2024: Fracasso nas negociações para o orçamento de 2025 entre governo central e principais partidos da oposição
🏦 - Dezembro 2024: Governo central anuncia nova prorrogação orçamental para 2025
🗺️ - Janeiro 2025: Sete comunidades autónomas começam o ano sem orçamento aprovado, criando incerteza administrativa e financeira
Resenha: 🤪 💢 a ascensão do "wokismo de direita" e a guerra cultural global
Guillaume Lancereau, em Le Grand Continent, analisa o fenómeno do "wokismo de direita" como um alinhamento ideológico transnacional que une figuras e movimentos aparentemente díspares, de Silicon Valley a São Petersburgo. Este alinhamento caracteriza-se pela defesa dos "valores tradicionais" e pela oposição àquilo que é visto como a decadência moral do Ocidente.
[ Definição: wokismo de direita é um fenómeno que adapta estratégias típicas do ativismo progressista para promover ideais conservadores ou nacionalistas. Pode incluir o uso de narrativas emocionais, apelos identitários, ou o foco em valores tradicionais e nacionais como resposta às agendas progressistas. O termo é frequentemente usado de forma crítica para apontar uma suposta contradição na aplicação dessas estratégias em contextos ideológicos opostos. ]
O arco Duguin-Musk e a nova direita global
O artigo de Lancereau destaca a emergência de um arco global, unindo desde supremacistas brancos a conservadores religiosos e gigantes financeiros, todos sob a égide dos "wokistas de direita". Donald Trump surge como figura central, tendo construído uma nova fórmula política que agrega elementos antes considerados heterogéneos. A influência de figuras como Alexander Duguin, ideólogo da extrema-direita russa, é notória, com este a identificar a vitória de Trump como um triunfo dos "valores tradicionais".
Valores tradicionais: A promoção destes valores, como a família, o patriotismo e a prioridade do espiritual sobre o material, é uma prioridade política para o regime russo, como demonstrado num decreto presidencial de 2022. Estes valores são apresentados de forma vaga e retórica, servindo como uma justificação moral para o nacionalismo e o belicismo. A lista de "valores tradicionais" é extensa e arbitrária, incluindo conceitos como "vida", "saúde", "conhecimento" e "beleza".
A convergência ideológica entre EUA e Rússia
Segundo Lancereau, existe um realinhamento ideológico entre os EUA de Trump e a Rússia de Putin, especialmente no que diz respeito ao regresso aos "valores tradicionais". O apoio de grupos evangélicos a Trump, apesar da sua conduta pessoal, demonstra a força desta convergência. Figuras como Jerry Falwell Jr. e Billy Graham desempenharam um papel crucial na promoção de Trump junto destas comunidades.
Origens do "Wokismo de Direita": Este movimento tem raízes nos EUA, onde pregadores cristãos defendiam os "valores tradicionais" antes mesmo de se tornarem tema na Rússia. O fundamentalismo religioso, com a publicação de The Fundamentals, ensaios publicados entre 1910 e 1915 pela Testimony Publishing Company, de Chicago, desempenhou um papel importante na defesa da verdade literal da Bíblia e na oposição ao evolucionismo.
A guerra cultural e a censura
Guillaume Lancereau sublinha que tanto a esquerda como a direita "woke" partilham uma abordagem similar à noção de "despertar" político, tendendo a excluir visões opostas. Este fenómeno é acompanhado por uma crescente censura por parte dos "wokistas de direita", que utilizam o poder do Estado para banir livros e obras de arte que desafiam as suas visões morais e ideológicas. Exemplos disso incluem a proibição de livros nas escolas da Flórida e a censura de obras literárias na Rússia.
O medo da liberdade e a imposição de valores
A principal característica desta guerra cultural é o carácter vago das categorias que estruturam a luta. Os defensores dos "valores tradicionais" procuram limitar a liberdade, prendendo o presente e o futuro a legados históricos selecionados arbitrariamente. Estes valores, muitas vezes apresentados como absolutos, servem para impor uma visão do mundo que exclui a diversidade e a autonomia individual. A liberdade de escolha é limitada pela imposição de um caminho já traçado, seja pela vontade divina ou pela história.
Os valores tradicionais como ferramenta de controlo: A promoção dos valores familiares, por exemplo, serve para despolitizar a população, oferecendo um único âmbito de existência coletiva enquanto o Kremlin retira outras formas de participação política.
Consequências da convergência ideológica
A convergência ideológica entre EUA e Rússia representa um desafio para o Kremlin, que perde a clareza da narrativa de um inimigo corrompido pelo progressismo. A retórica de oposição à decadência ocidental torna-se mais difícil de mobilizar quando ambos os lados partilham os mesmos medos e métodos.
A guerra cultural como luta política
Finalmente, Lancereau conclui que a "guerra cultural" é uma luta política que se desenrola num plano de cosmovisões irreconciliáveis. A discussão em torno dos "valores tradicionais" serve como um pretexto para o confronto político, entre uma visão de um mundo inclusivo e uma que busca a exclusão. A liberdade humana de fazer as suas escolhas é o que se encontra no centro desta batalha, contra os autocratas que buscam limitar e definir o comportamento das pessoas.
Em resumo
Segundo Guillaume Lancereau em Le Grand Continent, o "wokismo de direita" é um fenómeno global que une diferentes grupos e líderes na defesa dos "valores tradicionais". Esta aliança, liderada por figuras como Trump e Putin, promove uma visão de mundo que procura restringir a liberdade e impor valores morais através da censura e da desinformação. A guerra cultural, assim, surge como uma luta política, com implicações significativas para o futuro das sociedades.
Condensado de La era del wokismo de derecha: genealogía del arco Duguin-Musk, por Guillaume Lancereau, historiador da Europa Ocidental e da Rússia com vários livros sobre os usos contemporâneos da história pela extrema-direita francesa.
Portugal
🗳️ O CDS vai realizar uma convenção autárquica em março/abril. O anúncio foi feito pelo presidente do partido, Nuno Melo, que sublinhou que o CDS é atualmente o quarto maior partido autárquico em Portugal, com 1.500 autarcas, e ambiciona alcançar o terceiro lugar. • 24.sapo.pt
🚒 O Sindicato dos Bombeiros alcança acordo histórico com o Governo. O acordo prevê aumentos salariais na ordem dos 60% ao longo de três anos para os bombeiros sapadores, sendo considerado pelo presidente do SNBP, Sérgio Carvalho, como o maior acordo de sempre para a valorização da carreira. • 24.sapo.pt
🚗 O secretário-geral da ACAP critica medida governamental sobre os incentivos à compra de carros elétricos. Atualmente, para receber apoios na aquisição de um veículo elétrico, é obrigatório entregar para abate um carro a combustão com mais de 10 anos, uma situação que a associação espera ver corrigida no próximo mês. • rtp.pt
⛰️ A Associação Futuro do Barroso surge em Boticas para mediar negociações com a empresa Savannah sobre a exploração de lítio. A nova associação, que será apresentada na quarta-feira, difere da UDCB por não rejeitar o projeto, pretendendo garantir que os benefícios da exploração sejam partilhados com a comunidade local. • publico.pt
💰 O Governo solicitou à Autoridade Tributária uma proposta sobre as novas exigências de declaração de rendimentos não sujeitos a imposto. O Ministério das Finanças pretende avaliar o impacto destas alterações na entrega do IRS de 2024, visando minimizar as consequências para os contribuintes do IRS automático. • publico.pt
União Europeia
🇫🇷 Jordan Bardella considera inevitável a dissolução da Assembleia. O presidente do Rassemblement National critica François Bayrou por representar um “consenso mole”. Bardella sugere que novas eleições legislativas são necessárias para construir uma maioria estável, mencionando que tal só é possível um ano após as últimas eleições, ou seja, em julho. • lemonde.fr
🇧🇾 O Parlamento Europeu rejeitou a reeleição de Lukashenko. As eleições presidenciais na Bielorrússia foram consideradas fraudulentas, consolidando o governo ilegítimo do ditador. Segundo David McAllister e Malgorzata Gosiewska, o regime suprimiu a dissidência, excluiu a oposição e negou o direito de voto a muitos bielorrussos no exterior. • 24.sapo.pt
Economia
📉 Os lucros das principais empresas industriais chinesas caíram 3,3% em 2024, totalizando 7,43 biliões de yuan. Este é o terceiro ano consecutivo de declínio, embora dezembro tenha registado um aumento de 11% face ao mesmo período do ano anterior. • 24.sapo.pt
💻 A NOS comprou a Claranet Portugal por 152 milhões. A empresa tecnológica, presente em Portugal desde 2005, registou receitas de 205 milhões de euros no ano fiscal de 2024 e um EBITDA de 15,4 milhões de euros. • rr.sapo.pt
Mundo
✈️ O movimento de passageiros em Cabo Verde bateu recorde. Os aeroportos do país registaram três milhões de passageiros em 2024, superando o anterior máximo de 2,7 milhões em 2019, com 2,4 milhões em voos internacionais e 614 mil em voos internos. • 24.sapo.pt
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[2.24] 🗂️ 🔥 Reduzir burocracia e impulsionar economia? Comissão Europeia criou um plano sem precedentes. O futuro da União como potência económica, destino de investimento e centro de produção está em risco sem uma mudança urgente de abordagem – acha o documento, a reboque das mudanças globais
[2.23] 🇺🇸 🪖 Cresce a contestação às ordens de Trump: cidadania, imigração, direitos civis e DOGE no centro das batalhas legais. A administração "Mump" terá tudo menos vida fácil: as reações às medidas foram imediatas, com uma saraivada de ações legais internas e o empenho internacional na defesa da OMS e do Acordo de Paris
Muito bom. Obrigado.