[1.20] Dados mostram como PS, AD e CH capturam a atenção dos jornais online
Estas três forças partidárias concentram quase três quartos da atenção disponível na comunicação social online. PCP é banido, PAN e Livre são desprezados.
Sem entrar em considerações sobre a qualidade e a capacidade crítica da cobertura dos eventos partidários pela comunicação social nestas semanas de pré-campanha eleitoral, cingindo-me apenas às menções como forma de avaliar quantitativamente a divisão da atenção dos meios online, analisei o noticiário dos dois primeiros fins de semana deste mês, cada um com dois eventos. Foram quase 5.000 artigos, 1.160 dos quais relativos aos partidos políticos. Seguem-se as conclusões gerais e uma leitura pessoal, bem como os dados para que o leitor possa tirar as suas próprias conclusões.
ANÁLISE
Dados mostram como PS, AD e CH capturam a atenção dos jornais online
A agenda da comunicação social online tem as suas prioridades bem estabelecidas, é a primeira conclusão genérica de uma análise de 4.981 artigos publicados, em dois períodos de três dias cada, nos sites de 11 dos principais meios de comunicação que operam em Portugal. A segunda conclusão: o Chega atrai sobremaneira as atenções dos jornais, tendo quase 85% das menções da AD e dois terços das menções do PS. A terceira conclusão: nos seis dias analisados, em geral os partidos de direita marcaram um pouco mais a agenda mediática do que os partidos de esquerda, mas não classificaria de escandalosa a diferença.
Uma nota imediata sobre transparência: os dados estão publicados nesta folha de cálculo para que qualquer cidadão possa interagir com ela, verificar as conclusões, discuti-las e tirar as suas próprias, diretamente na interação com o ficheiro ou descarregando-o e analisando-o com as suas próprias ferramentas. Explicação metodológica incluída na folha de cálculo.
Os dias 12, 13 e 14 de janeiro, de sexta a domingo, tiveram dois eventos político-partidários de relevo: a Convenção Nacional do Chega e o Encontro Nacional do PCP. Mesmo considerando as diferenças normais entre os dois eventos, a cobertura dos dois é desproporcionada: o CH foi mencionado em 37% dos 480 artigos sobre política analisados nesse período, enquanto o PCP não chegou a 7%.
O Chega esteve por 125 vezes nas homepages, enquanto o PCP chegou lá 15 vezes. Noutra perspetiva, o Chega foi destacado em 50% dos artigos, contra 32% destaques do PCP. Analisando os títulos dos artigos, a probabilidade do Chega e do seu líder surgirem no título foi no período de 83%; a do PCP foi de 19%.
Comparemos com os dias 4, 5 e 6 de janeiro, sexta, sábado e domingo anteriores, quando decorreram outros dois eventos marcantes: o Congresso do PS e a apresentação da Aliança Democrática. Estes dias tiveram mais notícias, naturalmente, tratando-se das duas maiores forças políticas, uma das quais deverá vencer as eleições de março. Nesse período o PS teve direito a 35% das menções em 680 artigos, contra quase 24% de menções para a AD. Indo às homepages, contamos 186 para o PS e 133 para a AD. Bastante menos desproporcionada, esta cobertura.
Quando comparamos a relação com os dois partidos, CH e PCP, neste fim semana em que o foco das atenções eram os outros, a desproporção mantém-se, embora menos acentuada. O CH teve no período três vezes mais menções que o PCP e foi manchete por oito vezes, contra zero do PCP. Chamadas às homepages: 42 para o CH, 11 para o PCP.
Sobre manchetes e os partidos que não estiveram em foco nos dois períodos analisados: houve dois partidos que não mereceram o principal espaço das edições online, o Livre e o PAN. Mesmo o BE teve essa atenção especial por oito vezes, contra 11 da Iniciativa Liberal.
Se esta simples comparação já indicia uma atração especial dos meios pelas narrativas dos três partidos de direita, quando aprofundamos a análise o indício ganha corpo. O grupo parlamentar do terceiro partido na Assembleia da República, o Chega, “pesa” 15% do “peso” do PSD e 10% do “peso” do PS, mas em termos de atenção dos media online duplica o “peso” noticioso no fim de semana de AD e PS.
Quando comparamos número total contra número total, as 905 menções a partidos de direita representam mais 6% do que as 805 menções a partidos de esquerda, não incluindo neste particular o PAN.
Ainda nos números globais dos seis dias analisados, o PS é o partido mais mencionado (513), seguindo-se a AD (403) e o CH (341). Estes três absorveram 70% da atenção da agenda mediática. A lista dos restantes é encabeçada pela IL (176, seguindo-se o BE (174), partidos com, digamos, uma cobertura de menor atenção; no fim da lista estão PCP (73), PAN (50) e Livre (45).
Leitura pessoal
As apreciações acima resultam diretamente dos dados. O objetivo desta análise não era procurar estabelecer alguma inclinação ideológica, que poderá ficar para outra altura implicando aprofundar a semântica dos textos, ou seja, indo muito além da mera contagem das palavras relevantes (eventos, partidos e seus líderes) nos títulos e primeiros três parágrafos (ver a metodologia na folha de cálculo).
O que se procurava era saber se existia, e qual e em que extensão, uma ligação relevante dos media a agendas partidárias, ou por outras palavras que narrativas e figuras mais merecem a atenção da comunicação social.
Numa leitura mais pessoal, arrisco pouco nestas quatro observações:
são nítidos os indícios de uma espécie de linha vermelha, um bloqueio não sei se explícito mas pelo menos implícito, ao PCP
os partidos considerados pequenos são votados a um desprezo pouco saudável em democracia, para mais numa altura pré-eleitoral
dos três partidos “médios”, o CH destaca-se de IL e BE tanto nas menções diretas como na marcação da agenda
as narrativas de PS e AD têm atenções semelhantes e um peso não excessivo na atenção mediática (juntos “ocupam“ metade da agenda)
Dados, contas e metodologia nesta folha de cálculo.
Faltam 50 dias para as Legislativas 2024
Pedro Nuno Santos integrou Duarte Cordeiro no secretariado do PS, mas enfrenta dificuldades em persuadi-lo a candidatar-se a deputado, com o PS a finalizar as listas para as legislativas até terça-feira após aprovação pelas federações. • Público
Inês de Sousa Real liderará a lista do PAN por Lisboa nas eleições de 10 de Março, enquanto Bebiana Cunha passará a ser mandatária pelo Porto, com o PAN a objetivar um grupo parlamentar. • Público
Rui Tavares, porta-voz do Livre, criticou a desigualdade de tratamento na campanha, alegando um favorecimento indevido à extrema-direita, e defendeu que as escolhas eleitorais devem ser baseadas em propostas concretas. • Lusa
O ex-deputado do PSD António Maló de Abreu confirmou a candidatura pelo Chega para as legislativas como independente, após ter deixado o PSD e a sua bancada. • Lusa
Francisco César liderará a lista do PS pelos Açores nas legislativas, seguido por Sérgio Ávila e Isabel Rodrigues, com a lista açoriana a aguardar votação formal da Comissão Política Nacional do PS. • Lusa
🇬🇼😰 Bissau: novo golpe militar iminente
O diretor do Programa Africano do Instituto Real de Estudos Internacionais britânico, Alex Vines, alertou para o risco de um novo golpe militar na Guiné-Bissau, motivado por tensões internas e um crescente autoritarismo governamental.
A suspensão do parlamento guineense e a consequente crise institucional acrescentam instabilidade, aumentando a probabilidade de intervenção militar.
O Governo de Umaro Sissoco Embaló é acusado de se tornar mais autoritário, e medidas como o congelamento de empregos no setor público podem exacerbar o descontentamento popular
A proibição de manifestações pelo Ministério do Interior e da Ordem Pública é um indicativo do ambiente restritivo da liberdade de expressão, que pode contribuir para a tensão política na Guiné-Bissau.
Fonte: Lusa
CURTAS
O Presidente da República promulgou o decreto-lei que define as regras de execução do Orçamento do Estado para 2024, aprovado pelo Conselho de Ministros a 4 de janeiro, visando o controlo adequado da execução orçamental. • Expresso
Ativistas russos em Portugal organizam protestos em Lisboa e no Porto, questionando a integridade das próximas eleições presidenciais na Rússia, com eventos promovidos pela Fundação AntiCorrupção de Alexey Navalny. • CNN Portugal
Félix Tshisekedi tomou posse para um segundo mandato como Presidente da República Democrática do Congo, entre suspeitas de irregularidades nas eleições de dezembro, com a oposição a alegar fraude eleitoral. • Expresso
O parlamento alemão aprovou uma legislação que facilita a obtenção da cidadania e remove restrições sobre a dupla nacionalidade, apesar da oposição criticar a medida por alegadamente desvalorizar a cidadania do país. • AP
A Alemanha enfrenta um intenso debate sobre a possível proibição do partido de extrema-direita Alternative for Germany (AfD), na sequência de revelações de que membros do partido discutiram deportações em massa, gerando protestos e condenação pública. • BBC
ETIQUETAS
Um espectáculo musical
Buba Espinho convida bandidos do Cante, CCB, Lisboa, 26 Janeiro 2024, 21h00. Uma proposta de viagem entre o Fado e o Cante alentejano.
Streaming
Os Irmãos Sun. Realização: Byron Wu e Brad Falchuk Actor(es): Michelle Yeoh, Justin Chien, Sam Li, Highdee Kuan, Madison Hu e Alice Hewkin. Netflix. “Michelle Yeoh, a mãe d’Os Irmãos Sun. É uma criação do estreante Byron Wu, que, à Variety, disse achar piada à ideia de um grupo de mafiosos, no início dos anos 1990, ter-se sentido tão inseguro que espancou Juzo Itami, o realizador japonês, por um filme cómico que ele tinha feito. Levou-o a pensar na ideia de masculinidade asiática e a desenvolver esta série, com a ajuda do co-criador Brad Falchuk, veterano parceiro de escrita de Ryan Murphy.” Rodrigo Nogueira.
Um livro
Lealdade. Autoria: Hua Hsu. Tradução de Nuno Batalha Editora: Relógio D’Água, 2023. ““Não queria ser o herói do meu livro”. Com Lealdade, Hua Hsu venceu um Pulitzer. Quando se sentou a escrever, 20 anos depois, Hua Hsu queria reunir peças da sua história a partir da morte de um amigo. Deu um livro: Lealdade, Pulitzer em 2023, o primeiro na categoria de memória.” Isabel Lucas
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[1.19] Para começo de conversa: PS perderá deputado por Viana, CH ganhará deputado por Setúbal. Esta é uma conclusão fácil, aritmética e lógica, que não decorre de sondagens. Apenas da troca de mandatos: este ano Viana elegerá menos um e Setúbal mais um. Fiz as contas aos dados deste século
[1.18] Meio mundo assustado (e toda a Europa), meio mundo sorridente com a vitória de Trump no Iowa. O "velho continente" odiado por Donald Trump terá de se defender sozinho se o ex-presidente regressar à Casa Branca — para gáudio do seu ídolo Putin, e não só