[OP.7] Rua do Benformoso: da especulação imobiliária ao equívoco da esquerda
Assunto inesperado em época de Natal, da operação policial contra imigrantes sobra o tijolo da gentrificação (follow the money) e a guerra assimétrica que estamos a perder para o Chega
Nos últimos sete dias foram publicados 77 artigos de colunistas regulares dos órgãos de imprensa. Um assunto inesperado acabou por ultrapassar as crónicas típicas desta época de baixo interesse noticioso, como os balanços do ano e as reflexões sobre a família.
Operação policial no Martim Moniz gera polémica política: rusga policial na Rua do Benformoso provoca debate sobre racismo e xenofobia, com PS a criticar atuação do Governo PSD e acusações de instrumentalização política das forças de segurança. Citações de Paulo Guinote, Daniel Oliveira, Teresa Violante e Miguel Guedes, à esquerda; João Maurício Brás, Maria João Marques, Sebastião Bugalho, Alberto Gonçalves, Helena Matos e Mafalda Pratas à direita.
Um assunto que originou um texto de análise (ou opinião ou, como agora os populistas gostam de escrever com o intuito de desvalorizar, de “ponto de vista”) por mim assinado. Não é sobre o assunto — que na verdade não é um assunto em si mesmo, a insegurança é uma invenção da extrema-direita e a perceção dela é uma invenção do primeiro ministro para disfarçar os falhanços do seu governo e empatar o eleitor. É sobre a guerra em curso, na qual a direita tem o controlo das armas e do terreno, e o equívoco da esquerda que acha que a pode travar de igual para igual. Tem por título: travar uma guerra assimétrica como se fosse entre iguais é derrota garantida. A extrema-direita está a ganhar aos pontos.
A fechar, uma pequena recensão de um texto do Público, assinalável por colocar na discussão um elemento menos focado. A gentrificação da Rua do Benformoso: deslocamento à força e especulação imobiliária usa o útil princípio policial de “segue o dinheiro” para explicar o que sucedeu.
Operação policial no Martim Moniz gera polémica política
Uma operação policial realizada pela PSP no Martim Moniz, em Lisboa, a 19 de dezembro, gerou intensa polémica política e social.
A ação, que decorreu na Rua do Benformoso, envolveu dezenas de pessoas, maioritariamente imigrantes, que foram obrigadas a permanecer encostadas à parede para revista.
O caso evoluiu para um debate mais amplo sobre segurança, com Pedro Nuno Santos a responsabilizar Montenegro por eventual agravamento da situação no país.
A operação revelou tensões políticas sobre questões de segurança, imigração e atuação policial, expondo diferentes visões sobre o papel das forças de segurança e o tratamento de comunidades imigrantes em Portugal..
Cronologia
19 dezembro: PSP realiza operação especial de prevenção criminal no Martim Moniz. A operação policial na Rua do Benformoso envolveu dezenas de pessoas, maioritariamente imigrantes, que foram obrigadas a permanecer encostadas à parede para revista
20 dezembro: Presidente da Junta de Santa Maria Maior critica operação da PSP. Miguel Coelho considera a operação inaceitável e focada numa comunidade étnica, pedindo a demissão da ministra da Administração Interna
20 dezembro: Pedro Nuno Santos questiona legalidade da operação. O líder do PS classifica a operação como espetáculo degradante e acusa o Governo de governar apenas para as perceções
20 dezembro: PCP em Lisboa manifesta preocupação sobre adequação da operação. Os comunistas alertam que o uso desproporcional da força pode ter efeito contrário ao pretendido no sentimento de segurança
22 dezembro: Grupo contra racismo condena atuação policial. O grupo manifesta revolta e humilhação pelo tratamento dado aos cidadãos, alertando para necessidade de resolver carências na zona
23 dezembro: André Ventura visita Martim Moniz e defende ação policial. O líder do Chega distribui rosas brancas e defende a atuação policial, em resposta aos cravos vermelhos distribuídos anteriormente
29 dezembro: Montenegro admite desconforto com imagens mas defende operação. O primeiro-ministro reconhece que visualmente as imagens são desagradáveis mas defende que não houve desrespeito pela dignidade das pessoas
29 dezembro: Pedro Nuno Santos responsabiliza Montenegro por eventual agravamento da insegurança. O secretário-geral do PS argumenta que Portugal é um dos países mais seguros devido aos governos socialistas
O que se escreve à esquerda
Colunistas de esquerda criticam fortemente a operação policial no Martim Moniz, considerando-a uma instrumentalização política das forças de segurança e um exemplo de discriminação contra imigrantes
Destacam a importância do escrutínio independente e da necessidade de investigação imparcial das ações policiais através de instituições como a IGAI
Apontam para uma governação baseada em perceções em vez de dados concretos, especialmente em questões de segurança e imigração
🖋️ Paulo Guinote: "Quem pensar que é apenas na área da “Segurança” que se têm tomado medidas baseadas naquilo que se entendem ser as “percepções” da opinião pública ou publicada é porque anda desatento em relação ao que se passa em outras áreas da governação. É verdade que não é fenómeno novo, este de governar na busca de satisfazer aparências ou necessidades criadas artificialmente com o exacto objectivo de serem resolvidas de modo fictício." • Diário de Notícias
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