[OP.5] A candidatura do almirante e 25 de novembro: a militarização à portuguesa
Reflexo da militarização global, do Pacífico à Ucrânia e ao Médio Oriente? Ou apenas coincidência? Um sinal em qualquer caso. Os dois principais temas da semana tratam pessoas e momentos militares
Na semana que passou, os jornais publicaram 112 colunas de opinião. As análises dos colunistas divagaram sobre uma diversidade de temas, dos quais escolhi dois com mais relevância:
25 de Novembro: celebrar ou não celebrar? Debate sobre a pertinência das comemorações do 25 de Novembro divide opiniões. Direita e esquerda divergem sobre o significado da data.
Sumário, cronologia, principais pontos à esquerda e à direita e citações de David Pontes, Rui Tavares Guedes e Daniel Oliveira, à esquerda; Pedro Norton, Vítor Rainho, Clara Ferreira Alves, José Diogo Quintela à direita; Pedro Olavo Simões ao centro
Gouveia e Melo: o almirante candidato a Belém. Gouveia e Melo surge como potencial candidato presidencial. Perfil de outsider e imagem de competência alimentam favoritismo nas sondagens.
Sumário, cronologia, principais pontos à esquerda e à direita e citações de Miguel Sousa Tavares, Daniel Oliveira e Luísa Semedo à esquerda; Maria João Marques, Helena Matos, João Vieira Pereira e Ricardo Costa à direita
Novidade neste quinto número da série OP: a fechar, um destaque da semana, que pode ser uma sugestão de leitura de fundo, um articulista, ou um artigo de opinião condensado. A estreia é a sugestão de uma newsletter.
25 de Novembro: celebrar ou não celebrar?
A primeira sessão solene comemorativa do 25 de Novembro na Assembleia da República gerou intensa polémica e evidenciou profundas divisões entre as forças políticas portuguesas.
A iniciativa, proposta pelo CDS-PP e aprovada com votos favoráveis de PSD, Chega e IL, enfrentou forte oposição dos partidos de esquerda.
Vasco Lourenço, figura histórica do 25 de Abril e protagonista do 25 de Novembro, acusou a direita de “distorcer a história” e de tentar esconder que foi a “principal derrotada” naquele momento histórico.
O PCP decidiu não participar na sessão, considerando que esta visa a “desvalorização e apagamento da Revolução dos Cravos”.
O BE optou por uma presença minimal, com apenas uma deputada.
A cerimónia contou com a presença significativa do general Ramalho Eanes, uma das principais figuras do 25 de Novembro de 1975.
Durante a sessão, o PS argumentou que equiparar as comemorações do 25 de Novembro às do 25 de Abril constitui uma “reabertura de feridas há muito saradas”.
Por outro lado, os partidos à direita, como PSD, Chega, IL e CDS-PP, saudaram a evocação parlamentar, com diferentes argumentos: os sociais-democratas defenderam que a data une, enquanto o CDS-PP sublinhou que “Novembro não se fez contra Abril”.
O debate sobre a pertinência destas comemorações foi ainda marcado pela revelação de um biógrafo de Mário Soares, que sugeriu que o histórico líder socialista seria crítico da atual atitude do PS por ter permitido que a direita se apropriasse da memória do 25 de Novembro.
Cronologia
20 novembro: Vasco Lourenço acusa direita de distorcer história do 25 de Novembro. O presidente da Associação 25 de Abril critica tentativa de apropriação da data pela direita, afirmando que esta foi a principal derrotada naquele momento histórico
21 novembro: PCP anuncia ausência na sessão solene e CDS-PP lamenta decisão. O PCP justifica ausência alegando que as comemorações vão ao encontro de forças reacionárias, enquanto o CDS-PP defende a importância da data
24 novembro: Biógrafo afirma que Mário Soares recusaria sessão no Parlamento. Joaquim Vieira, autor de uma biografia de Mário Soares, sugere que o histórico líder socialista seria crítico do PS por permitir que a direita se apropriasse da memória do 25 de Novembro
25 novembro: Realização da primeira sessão solene do 25 de Novembro na AR. Sessão histórica conta com presença de Ramalho Eanes e ausência do PCP, com BE representado por apenas uma deputada
25 novembro: Divisão entre partidos marca sessão solene. Partidos de direita celebram a data como momento de afirmação democrática, enquanto esquerda critica tentativa de equiparação ao 25 de Abril
Como a esquerda trata o assunto
Os artigos criticam a tentativa da direita de equiparar o 25 de Novembro ao 25 de Abril, considerando isso uma distorção histórica e uma agenda política atual
Os autores destacam que o 25 de Novembro foi um momento importante mas fraturante, que deve ser evocado mas não celebrado ao nível do 25 de Abril
É salientado que esta nova narrativa sobre o 25 de Novembro serve principalmente aos interesses atuais da direita e extrema-direita, especialmente do Chega
✍️ David Pontes: "Não saía cheiro a borracha queimada do hemiciclo de São Bento, mas a imagem de alguém a fazer peões, libertando volutas de fumo dos pneus, fica como o traço forte da sessão sobre o 25 de Novembro, com que parte do país político pretendeu conquistar para a data uma história que não lhe pertence." • Público
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