[E.2] Da morte de Raisi ao mandato de detenção de Netanyahu: Irão em crescendo e Israel em perda
O quadro geo-político mundial reflete a transição da importância económica dos EUA para a China (e da União para a Rússia), em particular na economia da energia e na região do Médio Oriente
Este é o segundo Especial VLV. Surgiu da necessidade de contribuir para a compreensão do que se está a passar no Médio Oriente, com a intempestiva morte do presidente do Irão precisamente no momento crítico em que Israel está mais exposto interna e externamente. O Irão terá eleições em breve e adivinha-se que a queda do governo israelita está cada vez mais próxima.
A imprensa reagiu, naturalmente, à morte de Ebrahim Raisi para explicar que não se esperam mudanças de trajetória no Irão. Mas o consenso praticamente unânime — dos jornais americanos aos portugueses, passando por meia Europa, Turquia e até a Al-Jazeera — “esconde” em parte a importância geo-estratégica crescente do bloco em que o Irão se encaixa com a Rússia e a China, em detrimento do bloco ocidental em que Portugal e a União Europeia se encaixam com os Estados Unidos e o Canadá.
Tentamos aqui colar algumas peças do puzzle do Médio Oriente.
Subtítulos
Da morte de Raisi ao mandato de detenção de Netanyahu: Irão em crescendo e Israel em perda, no meio da transferência de importância dos EUA para a China (e da União para a Rússia)
Não esperem mudanças imediatas no Irão. E a prazo… também não
Netanyahu entre a espada do Hamas, a ameaça de demissão de Gantz, o mandato de captura e os países amigos a retirarem apoio militar e diplomático
O petróleo está na origem da deslocação de poder e influência do Ocidente para o Médio Oriente
Fontes e leituras de aprofundamento
ANÁLISE
Da morte de Raisi ao mandato de detenção de Netanyahu: Irão em crescendo e Israel em perda, no meio da transferência de importância dos EUA para a China (e da União para a Rússia)
A morte do presidente iraniano Ebrahim Raisi não deve mudar a política do Irão, que continua aliado da Rússia e da China. Apesar das tensões com Israel, tem vindo a reforçar a cooperação com a Arábia Saudita, cuja importância diplomática na região tem vindo a aumentar. A decisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra líderes de Israel e do Hamas enfraquece Netanyahu e Israel, reduzindo a sua influência política e diplomática; o mesmo decorre da situação na faixa de Gaza: embora Israel se esteja a impor militarmente, a guerra com o Hamas está a custar-lhe a perda de apoios internacionais de semana para semana.
O ataque do Hamas a Israel a 7 de outubro do ano passado e a queda do helicóptero em que seguia Raisi há dois dias (2024/05/19) vieram precipitar os acontecimentos. Mas enquadram-se numa mudança mais profunda e lenta na política da região, que segue a transição do poder na indústria petrolífera global, que tem vindo a deslocar-se das empresas ocidentais para as empresas nacionais de países do Médio Oriente, China e Rússia (ler mais abaixo).
A relação florescente, mas ainda imatura, entre a China e os dois estados-chave do Golfo, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, tem implicações que vão muito além do Médio Oriente.
A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos estão a emergir como potências médias, enquanto o papel da China no Golfo faz parte da sua crescente assertividade e ambição no palco global.
Estas relações são impulsionadas por mudanças estruturais no mercado internacional de energia, pela crescente multipolaridade na distribuição global de poder e pelo efeito da crescente competição entre os EUA e a China na geopolítica.
A UE e os seus Estados-membros mal figuram nestas dinâmicas, mas têm claramente interesses envolvidos e têm cartas para jogar. Não devem procurar contrariar diretamente a influência chinesa no Golfo, mas sim construir as suas próprias parcerias eficazes tanto com a Arábia Saudita como com os Emirados Árabes Unidos.
Não esperem mudanças imediatas no Irão. E a prazo… também não
Num relance
A morte de Raisi não deve alterar a política iraniana a curto prazo, mas afeta a sucessão do Líder Supremo Khamenei.
A morte de Raisi e do Ministro dos Negócios Estrangeiros Amirabdollahian ocorre num momento de desafios internos e externos para o Irão.
Mohammad Mokhber será o presidente interino até às eleições, que ocorrerão nos próximos 50 dias.
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