[E.13] 🏛️ 🇩🇪 Recessão, guerra e declínio industrial — e o eleitor alemão distraído com os imigrantes
O centro-direita regressará ao poder e Merz será chanceler. Mas as eleições no país mais populoso da União Europeia ditarão uma fragmentação partidária que exigirá coligações complexas
A Alemanha vai às urnas a 23 de fevereiro para eleger um novo parlamento. O resultado deverá provocar uma mudança na liderança nacional, com os conservadores de Friedrich Merz bem posicionados para formar o próximo governo.
A campanha tem sido marcada por debates acesos sobre restrições à imigração, e Merz parece inclinado a dar prioridade às indústrias tradicionais alemãs em detrimento das políticas climáticas.
Embora os democratas-cristãos liderem confortavelmente as sondagens, a extrema-direita da AfD surge como a provável segunda força mais votada. Este cenário está a transformar a corrida eleitoral e a reabrir discussões intensas sobre a identidade da Alemanha no período pós-guerra.
Estas eleições servirão para perceber até que ponto a terceira maior economia do mundo pode virar à direita, razão que justifica este Especial VamoLáVer, com uma síntese efetiva do que está em causa, como, porquê, por quem e em que contexto, sem dispensar algumas sugestões para aprofundar o tema “como um especialista”, usando a expressão do Politico.
As eleições cruciais
A eleição de Donald Trump nos EUA, há menos de três meses, e as primeiras três semanas, impressionantes, da sua governação vão ter um impacto enorme no comportamento dos eleitores alemães, tornando estas eleições cruciais para perceber a dinâmica do avanço das políticas da extrema-direita que são duríssimas para as populações e para a liberdade económica, além da apologia das forças militares e de segurança e repressão.
Faço notar que, aqui chegados, esse impacto é imprevisível e pode, ou não, contrariar os planos e aspirações dos “durões” de serviço deste lado do Atlântico. Detalharei numa nota do editor, mais abaixo, na qual também explico que o eleitorado da extrema-direita alemã não tem a líder da AfD na melhor conta e que o partido se tem portado sempre melhor nas intenções de voto do que na realidade do dia da votação.
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ÍNDICE
Capítulos abertos:
Recessão, guerra e declínio industrial — e o eleitor alemão distraído com os imigrantes
Principais partidos e candidatos
Partidos menores em risco de exclusão
Capítulos reservados a apoiantes:
Temas centrais da campanha
Previsões e impacto
Possíveis cenários pós-eleitorais
Perfis políticos dos candidatos principais:
O futuro chanceler: Friedrich Merz
A desafiante do status quo: Alice Weidel
O vencido: Olaf Scholz
O resistente: Robert Habeck
A transformadora da esquerda: Sahra Wagenknecht
Como funciona o sistema eleitoral na Alemanha?
Nota do editor: O que pode correr mal à AfD, que nunca cumpriu nas urnas as intenções de voto declaradas antes das campanhas eleitorais
A fechar: lista de Leituras para aprofundar e refletir
🏛️ 🇩🇪 Recessão, guerra e declínio industrial — e o eleitor alemão distraído com os imigrantes
As eleições legislativas no país mais populoso da União Europeia, inicialmente previstas para setembro, foram antecipadas para 23 de fevereiro devido ao colapso da coligação governamental “semáforo” (SPD, Verdes e FDP) em novembro de 2024. A crise foi desencadeada por divergências sobre políticas migratórias, orçamento e a demissão do ministro das Finanças, Christian Lindner (FDP), pelo chanceler Olaf Scholz (SPD). As eleições antecipadas foram convocadas pelo presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier.
Ainda que sejam centrais na campanha por motivos de comunicação eleitoralista, questões como a imigração e a cedência da direita moderada à direita radical não estão na origem dos problemas políticos que levaram ao colapso da coligação “semáforo”: a Alemanha tem problemas muito maiores, cujo debate é relegado para o segundo plano das entrevistas televisivas e esmagado pela omnipresença do medo do “perigos” da extrema-direita.
A fragilidade política radica, sim, na incapacidade de lidar com as dificuldades económicas significativas, incluindo a inflação e o aumento do custo de vida. A crise energética, exacerbada pela invasão russa da Ucrânia, tem sido um fator crucial na deterioração da situação económica do país. A Alemanha enfrenta uma recessão económica de dois anos, burocracia excessiva, custos energéticos elevados e desafios na indústria automóvel, agravados pela guerra na Ucrânia.
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Principais partidos e candidatos
CDU/CSU (União Democrata-Cristã/União Social-Cristã)
Líder: Friedrich Merz
Posição nas sondagens: primeiro, na casa dos 30% de intenções de voto.
Principais propostas:
Redução de impostos corporativos para 25% e simplificação burocrática.
Políticas migratórias restritivas, incluindo deportações para Síria e Afeganistão.
Reforço militar (serviço obrigatório e 2% do PIB para defesa).
Desafio: apoio indireto da AfD em moções migratórias, gerando protestos dentro do partido e contra Merz, que está a tentar corrigir o apoio durante a campanha.
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AfD (Alternativa para a Alemanha)
Líder: Alice Weidel
Posição nas sondagens: segundo, na zona dos 20-22%.
Principais propostas:
Fecho de fronteiras e deportações em massa ("remigração").
Fim das sanções à Rússia e retorno ao gás russo.
Saída da Alemanha da UE, transformando-a em zona de comércio livre.
Desafio: isolamento. Todos os partidos tradicionais recusam coligações com a AfD (o “cordão sanitário”, ou firewall)
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SPD (Partido Social-Democrata)
Líder: Olaf Scholz
Posição nas sondagens: terceiro, entre 15% a 16%.
Principais propostas:
Fundo de 100 mil milhões de euros para infraestruturas e transição ecológica.
Aumento do salário mínimo para 15€/hora.
Continuar apoio à Ucrânia, mas sem envio de mísseis Taurus.
Desafio: impopularidade da coligação "semáforo" (SPD, Verdes, FDP) continua a afetar a imagem de Scholz.
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Verdes (Aliança 90/Os Verdes)
Líder: Robert Habeck
Posição nas sondagens: quarto, na zona dos 13%.
Principais propostas:
Transição energética acelerada e investimento em sustentabilidade.
Serviço militar voluntário.
Desafio: queda de apoio após o fim da coligação tripartida.
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BSW (Aliança Sahra Wagenknecht – Razão e Justiça)
Líder: Sahra Wagenknecht
Posição nas sondagens: quinto, na zona dos 4-6% (abaixo de 5%, não entra no Parlamento, ver regras abaixo)
Principais propostas:
Aumento do salário mínimo para 15€/hora, tributação de grandes fortunas e empresas.
Restrições à entrada de migrantes e deportações aceleradas, semelhante à AfD, mas mantendo benefícios sociais.
Fim do apoio militar à Ucrânia, negociações com a Rússia e oposição à instalação de mísseis dos EUA na Alemanha.
Abolição da taxa sobre as emissões de CO2, importação de energia fóssil e crítica às políticas verdes.
Desafio: atrair eleitores descontentes do SPD, da Esquerda e até da AfD, especialmente no leste alemão, para garantir a entrada no Bundestag pela primeira vez.
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Partidos menores em risco de exclusão
A Esquerda (Die Linke)
Líder: Jan van Aken e Heidi Reichinnek
Posição nas sondagens: sexto, à volta dos 5%.
Contexto: perdeu apoio após a saída de Wagenknecht e criação do BSW — que o pode afastar do Bundestag.
FDP (Partido Democrático Liberal)
Líder: Christian Lindner
Posição nas sondagens: sétimo, com 4%.
Risco: pode ficar abaixo do limiar de 5% para entrar no Bundestag.
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