[E.11] Eleições este ano: a Europa à prova após a viragem à direita de 2024
As legislativas na Alemanha e na Chéquia, e as presidenciais na Polónia, testam a onda populista, a influência externa (Putin, mas também Musk), as lideranças e a resistência democrática.
Se o ano de 2024 ficou para a História como aquele em que mais eleitores em todo o mundo foram chamados às urnas, e com eleições fundamentais nos Estados Unidos da América e na União Europeia, mesmo com menos eleições este 2025 é aguardado com maior expetativa.
Irão as maiorias eleitorais confimar a guinada para a extrema-direita, acentuando o seu cansaço com os governos centristas que, apesar das mais fantásticas condições de enriquecimento global, com uma série de décadas de tremendo crescimento económico, não foram capazes de assegurar a redistribuição em termos satisfatórios?
Ou arrefecerão o ânimo e a confiança dos líderes e das massas que andam entusiasmadas com a mudança, sinalizando que a democracia, o estado de direito e a liberdade económica são valores para não colocar em causa pelos prepotentes já eleitos ou por eleger?
Em exclusivo para os apoiantes, este especial VamoLáVer sintetiza o que está em jogo em todo o mundo, com natural incidência na Europa, e dá-nos pistas e diversos focos de abordagem, de leitura não necessariamente linear, para o entendimento sóbrio do movimento tectónico em curso nas governações, fugindo do link-bait e das campanhas de susto que muito facilmente a todos nós impressionam.
Ou, recorrendo à expressão tão do gosto do primeiro ministro Luís Montenegro, evitando a armadilha das “perceções” — tão só a pior forma de pessoas responsáveis agirem nesta época de incertezas e mutações.
Ainda dentro da parte do conteúdo de acesso gratuito, apresento:
a lista das três eleições mais importantes para os cidadãos da União Europeia, e porquê;
2025: a Europa à prova. A peça de contexto que dá o título e o tom a este Especial
Já na zona exclusiva para assinantes apoiantes temos:
os candidatos à chancelaria na Alemanha, em 23 de fevereiro: quem são e a que aspiram; inclui um gráfico da evolução das sondagens, que desmente os boatos postos a circular pela extrema-direita, Chega incluído, sobre a liderança da AfD (spoiler: na realidade tem menos dois pontos percentuais que há um ano, e a CDU lidera por 11 pontos)
quem são os candidatos presidenciais na Polónia
os candidatos às legislativas na Chéquia: outro populista multimilionário à frente
os incumbentes e as expectativas para 25 eleições em 2025: a lista geral, atualizada, das grandes eleições do ano, organizada por continente e ordem cronológica, incluindo o incumbente (ou partido no poder) e o desfecho esperado
onde está maior o perigo extremista? Cinco à direita, três à esquerda. Uma lista específica: as eleições em que forças extremas (de direita e de esquerda) podem ganhar ou disputar de perto, dividida por orientação política, com uma breve explicação
as fontes de informação
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APRESENTAÇÃO
Na perspetiva de um cidadão da União Europeia, as três eleições mais importantes de 2025 são:
Eleições legislativas na Alemanha (23 de fevereiro): Estas eleições antecipadas são cruciais devido ao colapso da coligação governamental, e o resultado poderá indicar uma viragem à direita na política alemã e da UE, dado o crescimento de partidos como a AfD. A Alemanha, sendo a maior economia da UE, tem um peso significativo nas políticas europeias. O resultado poderá levar a semanas de negociações para a formação de uma coligação viável.
Eleições presidenciais na Polónia (Maio): Estas eleições transformaram-se num referendo ao governo de Donald Tusk. O resultado terá impacto na estabilidade política da Polónia e na sua relação com a UE. O presidente tem poder de veto, o que pode afetar as políticas do governo. A disputa principal é entre Rafał Trzaskowski da Plataforma Cívica (PO) e Karol Nawrocki do PiS.
Eleições legislativas na Chéquia (Outubro): Estas eleições são importantes devido ao risco de um forte eixo eurofóbico na Europa Central, com o populista Andrej Babiš à frente nas sondagens. Uma vitória de Babiš poderá reforçar uma tendência anti-UE, com o partido ANO a liderar as sondagens. A Chéquia é um país importante na Europa Central, e o seu resultado pode impactar a coesão da UE.
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2025: a Europa à prova após a viragem à direita de 2024
O ano de 2024 assistiu a uma consolidação da viragem à direita no panorama político global, com resultados eleitorais marcantes na Europa e nos Estados Unidos. Em 2025, os cidadãos da União Europeia (UE) confrontam-se com um calendário eleitoral intenso, que poderá confirmar ou atenuar esta tendência. As urnas europeias serão, assim, o palco de decisões cruciais para o futuro político do continente.
Principais pontos de atenção nas eleições europeias de 2025:
Onda populista: A ascensão de partidos populistas de direita e extrema-direita em países como a Alemanha, Chéquia e Noruega poderá alterar significativamente o equilíbrio de poder na União Europeia.
Influência externa: A interferência russa em eleições como as da Roménia e a instabilidade política na Geórgia evidenciam a fragilidade dos processos democráticos europeus perante a influência de potências externas.
Testes de liderança: Líderes como Olaf Scholz na Alemanha e Donald Tusk na Polónia enfrentam testes de popularidade cruciais, com as eleições a servirem como um referendo às suas políticas.
Resistência democrática: Em países como a Bielorrússia, a falta de espaço para a oposição e a repressão política levantam sérias questões sobre a legitimidade das eleições, exigindo uma resposta da comunidade internacional.
O crescimento da direita e o populismo na Europa
A vaga de populismo e de movimentos de direita, que ganhou força em 2024, poderá intensificar-se em 2025. Na Alemanha, as eleições antecipadas de 23 de fevereiro surgem após o colapso da coligação governamental, com a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, a capitalizar sobre o sentimento anti-imigração. Segundo as sondagens, a CDU/CSU lidera as intenções de voto, com a AfD em segundo lugar. Na Chéquia, as sondagens favorecem Andrej Babiš, um populista de direita que poderá reforçar o eixo eurofóbico na Europa Central. Na Noruega, o Partido do Progresso, também de extrema-direita, deverá duplicar a sua quota de votos. Estes desenvolvimentos indicam uma possível mudança no cenário político europeu, com consequências para as políticas da UE e a sua coesão interna.
Interferência estrangeira e desafios à democracia
A interferência russa, como a detetada nas eleições presidenciais da Roménia, onde o candidato pró-russo Călin Georgescu foi promovido nas redes sociais através de um impulso artificial, coloca em causa a integridade do processo eleitoral europeu. Na Geórgia, as eleições locais de outubro decorrem num contexto de crescente influência russa, com o governo a adiar a adesão à UE e a substituir a presidente pró-europeia. Estes eventos demonstram a necessidade urgente de fortalecer a resiliência democrática da Europa face a influências externas que visam desestabilizar o continente. A Moldávia também enfrenta tentativas de interferência russa com campanhas de desinformação, com eleições legislativas previstas para 2025.
Por outro lado, ainda não chegou ao mainstream a preocupação com a influência procurada por Elon Musk, o bilionário amigo de Trump que está a fazer campanhas de desestabilização da Alemanha e do Reino Unido. Nem é vista como interferência, embora o seja, a provocação repetida de Donald Trump ao Canadá.
Testes de liderança e referendos políticos
As eleições de 2025 servirão como testes cruciais para vários líderes europeus. Na Alemanha, a queda da coligação de Olaf Scholz resultou em eleições antecipadas que colocarão o chanceler à prova. Na Polónia, as eleições presidenciais de maio transformar-se-ão num referendo ao governo de Donald Tusk. O atual presidente Andrzej Duda, do partido da oposição Lei e Justiça (PiS), tem usado o seu poder de veto para bloquear várias políticas do governo. Em Itália, as eleições regionais de setembro testarão a estabilidade do governo de Giorgia Meloni. Estes resultados determinarão a popularidade e a direção política destes líderes, bem como o futuro das suas nações.
Resistência e repressão na Bielorrússia
As eleições na Bielorrússia, agendadas para 26 de janeiro, são caracterizadas pela falta de espaço para a oposição, com o ditador Alexander Lukashenko a tentar estender o seu mandato. A repressão da oposição e a ausência de transparência no processo eleitoral levantam sérias questões sobre a legitimidade destas eleições. A situação na Bielorrússia sublinha a necessidade contínua de defender os valores democráticos e os direitos humanos em toda a Europa, exigindo uma resposta forte por parte da UE e da comunidade internacional.
As eleições de 2025 serão um momento decisivo para a União Europeia. Os resultados das urnas determinarão o rumo político do continente, a coesão dos seus membros e a sua capacidade de enfrentar os desafios internos e externos.
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