[2.72] 🚀💥 Israel ataca instalações nucleares do Irão numa escalada sem precedentes
O governo Netanyahu continua a sua fuga para a frente, não hesitando em incendiar a já de si delicada situação no Médio Oriente. O Irão é, para já, o adulto na sala, procurando o diálogo internacional
Nesta edição há uma nota do editor sobre os tempos em que vivemos. Eis a lista:
🚀💥 Israel ataca instalações nucleares do Irão numa escalada sem precedentes
📈 💥 Bolsas americanas caem após ataque israelita ao Irão
* A cronologia recente e o passado deste conflito
⚖️ 🚫 Juiz trava militarização de Los Angeles contra migrantes
🚌🎮 Alsa Todi adquire primeiro simulador de condução de autocarros em Portugal
🏦💰 BPCE compra Novo Banco por 6,4 mil milhões de euros
Na Era da Mentira (nota do editor)
E a fechar um breve conjunto de notícias curtas, com destaque
VamoLáVer é uma iniciativa cidadã, pelo que depende dos seus leitores para alargar os horizontes e chegar cada vez a mais pessoas. Partilhar “custa” pouco mais que um clique.
🚀💥 Israel ataca instalações nucleares do Irão numa escalada sem precedentes
Israel lançou nesta sexta-feira uma série de ataques devastadores contra o Irão, visando pela primeira vez diretamente as suas instalações nucleares e dizimando a cadeia de comando militar iraniana. Os ataques começaram antes do amanhecer e prolongaram-se até ao anoitecer. Foram utilizados cerca de 200 aviões de combate contra uma centena de alvos.
O objetivo declarado é impedir que Teerão desenvolva armas atómicas.
Não foram detetadas fugas radioativas.
O que foi atingido:
A principal instalação de enriquecimento de urânio em Natanz sofreu "danos significativos"
Outras instalações nucleares
Bases militares e residências de comandantes militares em Teerão
Fábricas de mísseis balísticos
Sistemas de defesa aérea iranianos
Edifícios no centro da capital iraniana
Líderes iranianos mortos:
Mohammad Bagheri, comandante-chefe das forças armadas e segundo na hierarquia após o líder supremo
General Hossein Salami, comandante-chefe da Guarda Revolucionária Islâmica
Ali Shamkhani, político que supervisionava as negociações nucleares com os EUA
A resposta iraniana: O Irão disparou cerca de 100 drones contra Israel em retaliação, mas a maioria foi intercetada pelas forças israelitas. O líder supremo Ali Khamenei prometeu "um castigo severo" a Israel.
Contexto político: O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu justificou os ataques como último recurso para impedir o Irão de obter armas nucleares. O presidente Trump instou Teerão a fazer um acordo sobre o programa nuclear ou enfrentar ataques "ainda mais brutais". Os mercados globais reagiram com subidas do petróleo (7%) e quedas nas bolsas.
Contexto nuclear: A Agência Internacional de Energia Atómica foi informada de que não há alterações nos níveis de radiação na central de Natanz, apesar dos danos causados na "zona subterrânea da planta". Israel é atualmente o único Estado com armas nucleares no Médio Oriente, possuindo cerca de 80 ogivas segundo o Instituto de Estocolmo para a Investigação da Paz.
Fontes: nytimes.com, elpais.com
Relacionadas
🇮🇷 O Irão pediu à UE que condene os ataques israelitas às suas instalações nucleares e militares. I. • 24.sapo.pt
🚨 Ursula von der Leyen e Kaja Kallas classificaram a situação como "profundamente alarmante" e apelaram à "máxima contenção". • 24.sapo.pt
🚁 António Costa apelou à contenção diplomática. Morreram três dirigentes militares e seis cientistas nucleares iranianos. • 24.sapo.pt
📈 💥 Bolsas americanas caem após ataque
As principais bolsas norte-americanas registaram quedas significativas, numa reação expectável ao ataque de Israel contra o Irão. O setor da aviação foi dos mais penalizados, enquanto as empresas de defesa contrariaram a tendência com ganhos expressivos.
Setores mais afetados:
Aviação: Delta e United caíram mais de 4%, American Airlines perdeu acima de 5%
Financeiro: Morgan Stanley, Wells Fargo e Citigroup registaram quedas superiores a 2%
Causa: Irão, Iraque e Jordânia encerraram o espaço aéreo após os ataques israelitas
Quem beneficiou:
Empresas de defesa acumularam ganhos expressivos
Lockheed Martin e Northrop Grumman valorizaram cerca de 4%
Fabricantes de produtos aeroespaciais em alta
Contexto mais amplo: Os investidores receiam uma escalada das tensões geopolíticas no Médio Oriente, num cenário já marcado pela incerteza das políticas protecionistas de Donald Trump. O dólar volta a ser visto como ativo de refúgio, valorizando 0,3% face ao euro (0,86 euros).
Fonte: publico.pt
Conflito Israel-Irão: cronologia recente (2019–2025)
2019
Israel lança ataques na Síria, Líbano e Iraque para impedir o fornecimento de armas do Irão aos seus aliados, nomeadamente o Hezbollah. Navios iranianos também são alvo no Mediterrâneo e no Mar Vermelho.
2020
Israel assassina, com uma metralhadora telecomandada, o principal cientista nuclear iraniano, Mohsen Fakhrizadeh.
2021
Começam ataques navais entre os dois países. Ambos se acusam de sabotagem a navios no Golfo de Omã e no Mar Vermelho.
2022
Israel mata o coronel Sayad Khodayee, da Guarda Revolucionária Iraniana, alegadamente envolvido em operações secretas. Dois cientistas iranianos morrem envenenados — o Irão acusa Israel.
2023
A 7 de Outubro, o Hamas ataca Israel, iniciando a guerra em Gaza. Outros grupos apoiados pelo Irão, como o Hezbollah e os Houthis, juntam-se aos ataques. Em Dezembro, um alto responsável iraniano morre num ataque israelita na Síria.
2024
Em Abril, um ataque israelita à embaixada iraniana em Damasco mata sete altos quadros militares. O Irão responde com 300 drones e mísseis — quase todos interceptados.
Segue-se uma escalada:
Julho: Israel mata Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Teerão.
Setembro: ataque com pagers eletrónicos mata e fere centenas, incluindo o embaixador iraniano no Líbano; Israel assume a autoria.
Setembro: Israel mata Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah.
Outubro: o Irão dispara 180 mísseis balísticos contra Israel, em retaliação. Israel responde destruindo sistemas de defesa aérea iranianos, incluindo equipamentos russos que protegiam instalações nucleares.
2025
O primeiro-ministro israelita Netanyahu propõe a Trump atacar diretamente os locais nucleares iranianos. Após meses de debate, Trump opta por negociar.
Em Junho, Trump admite que um ataque israelita ao Irão poderia sabotar as conversações — ou, nas suas palavras, "talvez até ajude".
Antes de 2019: antecedentes do conflito Israel-Irão
1979 – Revolução Islâmica no Irão
O regime do xá, aliado dos EUA e com laços discretos com Israel, é derrubado. A nova República Islâmica, liderada pelo aiatola Khomeini, adopta uma posição abertamente hostil a Israel, chamando-lhe "o pequeno Satã" e defendendo a sua destruição.
1980s – Guerra Irão-Iraque e alianças estratégicas
Durante a guerra com o Iraque (1980–88), o Irão é isolado, mas há relatos de ajuda indireta de Israel, nomeadamente através do caso Irão-Contras (venda clandestina de armas americanas, com conhecimento israelita).
Apesar disso, a retórica anti-Israel mantém-se firme no discurso oficial iraniano.
1990s – Apoio ao Hezbollah e militância regional
O Irão fortalece o Hezbollah no Líbano, apoiando-o militar e financeiramente como força de resistência contra Israel, sobretudo após a ocupação israelita do sul do Líbano (terminada em 2000). O apoio iraniano a grupos armados anti-israelitas torna-se doutrina oficial.
2000s – Programa nuclear iraniano e ameaças mútuas
O Irão intensifica o seu programa nuclear, gerando receios em Israel sobre uma possível arma atómica iraniana. Israel começa a pressionar a comunidade internacional para agir. Em paralelo, ambos investem em ciberataques e guerra clandestina.
2006: guerra de 33 dias entre Israel e Hezbollah, que tem apoio declarado do Irão.
2007: Israel destrói um reator nuclear sírio em construção (com apoio técnico suspeito do Irão ou da Coreia do Norte).
2010–2015 – Guerra secreta e sanções
Israel é acusado de vários assassinatos de cientistas nucleares iranianos. Em 2010, lança (com os EUA) o Stuxnet, um vírus informático que sabota centrífugas nucleares iranianas.
2015: é assinado o acordo nuclear entre o Irão e o grupo P5+1 (Joint Comprehensive Plan of Action, JCPOA), com forte oposição de Israel, que o considera insuficiente.
2018 – Ruptura do acordo nuclear e novas tensões
Os EUA, sob Donald Trump, retiram-se do JCPOA. Israel elogia a decisão. O Irão retoma gradualmente o enriquecimento de urânio. Ataques discretos entre ambos intensificam-se.
⚖️ 🚫 Juiz trava militarização de Los Angeles contra migrantes
Um juiz federal norte-americano bloqueou temporariamente o uso do exército por Donald Trump para deter as manifestações Los Angeles, considerando a operação ilegal por não ter autorização do governador da Califórnia.
O que decidiu o tribunal:
O juiz Charles Breyer emitiu uma ordem para travar o destacamento da Guarda Nacional e dos marines em Los Angeles
Considerou que a mobilização militar violou a lei ao não contar com autorização do governador do estado
O controlo dos quatro mil efetivos da Guarda Nacional regressa ao governador da Califórnia, Gavin Newsom
A reação do governador:
Newsom celebrou a decisão judicial e opôs-se às operações do Governo federal
Anunciou que esta sexta-feira devolverá os guardas às suas funções habituais: vigilância da fronteira com o México e luta contra o narcotráfico
Criticou Trump: "Deve trabalhar com os limites da Constituição. Não é um rei, não é um monarca"
O que vem a seguir:
A Administração Trump já anunciou que vai recorrer da decisão, prolongando o conflito judicial
Espera-se que cessem os protestos e distúrbios em Los Angeles, que esta semana levaram a autarca a decretar recolher obrigatório
Fonte: elpais.com
🚌🎮 Alsa Todi adquire primeiro simulador de condução de autocarros em Portugal
A notícia - A Alsa Todi, operadora da área 4 da Carris Metropolitana nos concelhos de Alcochete, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela e Setúbal, tornou-se pioneira ao adquirir o primeiro simulador de condução de autocarros de passageiros em Portugal. O equipamento, aprovado pela regulamentação europeia para obtenção do CAM (certificado de aptidão para motoristas), ficará instalado nas instalações da empresa na Moita, distrito de Setúbal. Juan Gomez Piña, responsável pela operação da Alsa em Portugal, destaca que esta aquisição reforça a aposta da empresa na formação dos motoristas e na segurança dos passageiros, introduzindo uma ferramenta já utilizada noutros tipos de veículos.
Características técnicas avançadas - O simulador reproduz a 100% as funcionalidades dos autocarros de passageiros, com todas as características de um autocarro em tamanho real, incluindo cabine, pedais, espelhos, painel de controles e instrumentação, além de incorporar efeitos sonoros típicos do trânsito.
Cenários diversificados disponíveis - O equipamento oferece mais de 300 quilómetros de percursos adequados a qualquer prática de condução, permitindo recriar inúmeros cenários de possíveis ocorrências para complementar a formação dos candidatos a motoristas nas provas de admissão.
Benefícios ambientais significativos - A utilização do simulador contribui para a redução de emissões de gases de efeito de estufa, uma vez que parte da formação será efetuada em ambiente virtual, complementando a frota da Alsa Todi já constituída maioritariamente por autocarros elétricos ou a gás.
Fonte: dn.pt
🏦💰 BPCE compra Novo Banco por 6,4 mil milhões de euros
A notícia - O grupo francês BPCE - Banque Populaire Caisse d'Epargne, segundo maior banco francês, vai adquirir o Novo Banco por 6,4 mil milhões de euros, numa operação que permite ao Estado português recuperar quase 2 mil milhões de euros dos fundos públicos injetados na instituição. O Ministério das Finanças, tutelado por Joaquim Miranda Sarmento, considera esta venda um "sinal muito importante de confiança dos investidores internacionais" na economia nacional. A transação foi formalizada através de um memorando de entendimento entre a Lone Star, atual detentora de 75% do capital do Novo Banco, e o grupo francês.
Esta operação conclui um longo processo iniciado com a resolução do BES e a posterior alienação do Novo Banco à Lone Star em 2017, contribuindo para salvaguardar a estabilidade do sistema financeiro português e permitindo a criação de valor para a economia nacional.
O Estado e o Fundo de Resolução encaixam 1,6 mil milhões de euros que, somados aos dividendos já recebidos este ano, totalizam os quase 2 mil milhões de euros de recuperação dos fundos públicos injetados na instituição bancária.
A venda garante maior diversificação dos investidores no sistema bancário português, evitando uma concentração geográfica desnecessária, em contraste com a proposta rejeitada do CaixaBank, que já detém o BPI, mantendo assim os níveis de concorrência no mercado.
O BPCE está já presente em Portugal através da Natixis e do seu centro de serviços partilhados no Porto, onde emprega cerca de 2500 pessoas, e detém ainda o Banco Primus, comprometendo-se a manter a atual administração do Novo Banco e afastando despedimentos.
Fonte: dn.pt
Portugal
🗳️ José Luís Carneiro é candidato único à liderança do PS, com eleições marcadas para 27 e 28 de junho. Eduardo Ferro Rodrigues declarou apoio ao deputado. O PS ficou reduzido a 58 deputados nas legislativas de 18 de maio, tornando-se a terceira força política. • publico.pt
🏥 O Ministério da Saúde prepara nova linha telefónica para doentes que precisam de cirurgia. Por telefone, poderão saber tempos de espera e vagas noutros locais. O modelo entra em testes em setembro e alarga-se a todo o país em novembro. • sicnoticias.pt
🥊 Pedro Duarte aceitou a demissão de Vasco Ribeiro, diretor de comunicação da sua candidatura à Câmara do Porto, após este ter sido acusado de agredir Filipe Araújo durante o festival Primavera Sound. Filipe Araújo apresentou queixa na PSP por ofensas à integridade física, enquanto Vasco Ribeiro nega as acusações. • expresso.pt
União Europeia
🇺🇦 A Comissão Europeia desembolsou hoje mil milhões de euros para apoio à Ucrânia, a quinta parcela de assistência macrofinanceira. O apoio total da UE desde a invasão russa aproxima-se dos 150 mil milhões de euros. Esta verba integra os 18,1 mil milhões da contribuição europeia para a iniciativa do G7. • 24.sapo.pt
As suas contribuições são um investimento num tipo de publicação que é difícil de construir nas redes sociais, onde os algoritmos, e não os seus próprios interesses, determinam cada vez mais o que é apresentado para ler. Agradecemos o seu apoio a VamoLáVer.
NOTA DO EDITOR
Na Era da Mentira
Olhemos para onde olharmos, a direita e a extrema direita estão a usar a mentira de uma forma descarada e deliberada para justificar ações e políticas e para iniciar processos.
Essas mentiras incendeiam a sociedade e permitem à direita e à extrema direita, estejam no poder ou a querer conquistá-lo, prosseguirem os seus planos.
Não há invasão alguma da Califórnia por aliens e imigrantes; na verdade, a imigração está a recuar há anos, num movimento anterior até a Trump I, vem de 2010, quando aquele estado contabilizava 2,9 milhões de imigrantes indocumentados, hoje conta 2,6. Só mexicanos saíram 605.000, entre 2010 e 2018 — bem antes do ICE de Trump II.
E no entanto a Administração Trump avançou com as tropas para Los Angeles mentindo sobre a razão. Essa mentira é o chão em que tudo se movimenta, em que todas as decisões passaram a ser tomadas — mesmo as decisões contrárias, como a do juiz que declarou ilegal o chamamento das tropas federais, são avaliadas no contexto operativo da mentira.
Não dá para usar a “narrativa”. Uma narrativa contém muitas vezes mentiras, mas também contém factos e verdades. Pode ser ficcional ou não. Não foram as narrativas que nos trouxeram à impunidade e às mudanças tectónicas que estamos a experienciar: foram e são as mentiras descaradas.
Não há violência organizada de grupos de extrema esquerda em Portugal há mais de 40 anos. E no entanto Carlos Moedas invoca-a para justificar a violência organizada por grupos de extrema direita e neo-nazis que está a crescer há anos, bem como a sua demissão de políticas de segurança autárquicas.
O mesmo Carlos Moedas que mente sobre a criminalidade e sobre a imigração, mentiras que constituem o grosso da sua ação enquanto autarca e da sua campanha eleitoral.
Não há nenhuma substituição dos europeus filhos de europeus por imigrantes e filhos de imigrantes, qualquer estatística demográfica o demonstra, e no entanto os líderes dos partidos de extrema direita de vários países membros da União Europeia recorrem a essa bandeira para procurarem substituir os governos em funções usando o pasto fácil dos cidadãos impressionáveis e dos desprotegidos. É basicamente a sua única bandeira, atualmente. Não conseguem passar mentiras sobre economia. Ou defesa. E são cegos à energia e ao ambiente.
Não há nenhuma ameaça concreta do Irão a Israel, e no entanto o governo de Netanyahu recorre impunemente a essa mentira para justificar o ataque destes dias.
Não havia um regime nazi na Ucrânia, e no entanto essa mentira foi usada para justificar a guerra iniciada pela Rússia, a par da mentira do genocídio dos russos em solo ucraniano ou da inexistência da Ucrânia antes da URSS.
Não havia armas de destruição maciça no Iraque, a mentira com que os EUA justificaram repetidamente o ataque ao regime de Saddam Hussein — e que está, entre outros fatores como a ascensão do Facebook (*), no início da Era da Mentira, que nos primeiros anos foi cunhada de Era da Pós-Verdade.
Agora, o verdadeiro, o maior problema. Há forma de efetuar um combate político democrático contra a mentira? Como? Usar a verdade não servirá rigorosamente para nada.
É aqui que estamos.
Não foi o centro esquerda, nem a esquerda, que armadilharam o percurso. Foi a extrema direita, que arrasta uma parte do centro direita.
Na verdade, estas classificações pouco importam.
O divisor está hoje entre democratas e anti-democratas.
E não se vê um esboço, sequer, de movimento ou reação organizada. Não se vê uma resposta. Não se vê uma pessoa, um líder, uma direção.
Há alguma reação esparsa nas ruas, nas pessoas individuais e coletivas (como as empresas que ficaram sem trabalhadores por causa das mentiras sobre a imigração que levaram a políticas economicamente suicidárias), num ou outro setor. Mas no geral estamos inertes e sem elites que indiquem caminhos alternativos.
Neste âmbito, Portugal surge aos meus olhos melhor que os EUA. Lá não há movimento algum no Partido Democrata. Cá, o centro esquerda teve um momento de bom senso e parece — parece — que o centro direita que governa está mais inclinado a explorar as políticas de consenso centrista do que embarcar abertamente no comboio da extrema direita.
Pode durar menos ou mais, é muito cedo para vermos a extensão da mudança em curso, que tem usado a mentira como arma política principal (quase única). Mas ao menos é uma reação positiva das elites.
. . .
(*) “Redes sociais” é uma expressão saída do jornalismo, que antigamente preferia as generalizações para evitar referir marcas. Tudo o que de mau está associado à proliferação do que ficou cunhado como “fake news” começou, com precisão, nos algoritmos do Facebook; o próprio Twitter foi ator secundário, arrastado; e todas as redes sociais seguintes são inspiradas por essa direção impressa aos algoritmos pela Facebook. Os algoritmos das redes sociais podiam ter ido por outro caminho menos pernicioso para as sociedades. Não foram por decisão muito humana e muito bem definida nos seus objetivos.
No fundo, no fundo, todos estamos a c@g@r para isso. O pessoal, algum, ainda esperneia, mas é apenas o prenúncio da diarreia que se aproxima.
Está tudo burguêsmente sentado a assistir ao desenrolar dos acontecimentos, com reações, sentidas, de pasmo, tristeza, decepção e raiva, que são descarregadas no Facebook com promessas de que iremos fazer alguma coisa, mas ninguém sabe o quê.
Que é feito dos líderes da esquerda?
De um modo geral ainda nem repararam que a direita mudou e que algumas das bandeiras da esquerda já não o são.
Alguns, estiveram tão entretidos com o wokismo que além de ter desviado as atenções e a luta do que era realmente importante, deu armas poderosas ao inimigo.
Olhamos à volta e quem vemos para liderar o caminho? Ninguém!
Já viram ao que chegámos? O garante da batalha contra o Chega é PSD e o CDS!
Mentiras do outro lado? Claro, mas quem é que fica admirado? Andaram todos, comentadores e jornalistas, a tentar mostrar que eram mais inteligentes que o Ventura e/ou que o apanharam em falso, que se esqueceram de mostrar que o que ele dizia era falso. Quando acordaram já era tarde, tudo o que passaram a dizer, era apenas perseguição. Como se não bastasse, começou-se a chamar nomes aos votantes.
Todos ou quase todos, dizemos que só quando provarem o veneno deles as coisas mudarão. Eu também partilho essa convicção, mas não era má ideia que a esquerda se renovasse, pelo menos no discurso.