[2.40] 🇺🇸🤹♂️🎪 Carnaval no Congresso americano
Trump fez o discurso de um ditador e foi aplaudido por meia plateia alienada, sob o olhar policial de Musk. No mundo livre, Merz e von der Leyen prometem a defesa sem travões. Financeiros, entenda-se.
Nesta edição:
🇺🇸🤹♂️🎪 Carnaval no Congresso americano
Os números são maus? Muda-se a forma de os analisar
A outra meia casa
VamoLáVer: o que fazer?
Estados Unidos de Trump
🗳️ 🏛️ Eleições à vista: Montenegro foge para a frente com uma moção de confiança, que PS vai chumbar
🇩🇪💰 Alemanha flexibilizará regras para poder gastar um bilião de euros em defesa
🛡️ 🇪🇺 As fragilidades do plano "Rearmar a Europa", apresentado pela Comissão Europeia
Pacote de defesa da UE: a estratégia certa? Opiniões de colunistas europeus
🇪🇺 🛡️ UE convoca cimeira de emergência sobre segurança face ao recuo dos EUA
🇺🇸🤹♂️🎪 Carnaval no Congresso americano
Se o título deste boletim parece atrevido, fica já esclarecido que foi tomado de empréstimo a um analista do reputado e insuspeito Financial Times. “É Carnaval em Nova Orleães. No entanto, nenhum desfile poderia igualar o carnaval no discurso de Donald Trump ao Congresso na noite de terça-feira” é a frase com que Edward Luce abre o artigo O discurso fabulista de Donald Trump. O discurso do presidente dos EUA ao Congresso foi puro personalismo, não ideologia.
Ver congressistas — mulheres e homens com uma posição, uma reputação, eleitores que neles votaram, uma suposta educação e em muitos casos uma riqueza milionária — a comportarem-se como membros juniores de uma claque de futebol é um espetáculo deprimente. Mas isso é o menos. Sinal forte vem do primeiro discurso de Trump ao Congresso. O discurso de um ditador. Todas as frases o dizem. E o subtexto idem: espatifando mais uma norma democrática, a do consenso, seguida por praticamente todos os presidentes e governantes recém-eleitos, Trump deixou claro que a sua ideia da presidência é esmagar quem não lhe bata palmas. Não se pense que é uma questão de lados. Trump não vê partidos, não vê congressistas republicanos e democratas e independentes: ou estão com ele, ou serão perseguidos.
Os números são maus? Muda-se a forma de os analisar
A Gronelândia será anexada “de uma maneira ou outra”. Sob o olhar do “convidado” Musk, a metade republicana do congresso soltou um urro de alegria cúmplice. É necessário procurar os melhores filmes sobre a Alemanha nazi, a URSS estalinista ou ficções distópicas para estabelecer comparações.
Os números da economia começam a dar sinais negativos? Trump prepara a resposta. Qual é? Simples, na simplicidade ditatorial: mudam-se as regras.
A administração Trump está a sugerir uma mudança na forma como o crescimento económico é medido, precisamente quando a economia parece prestes a registar o seu pior desempenho desde os confinamentos da era da pandemia.
Na segunda-feira, um modelo de crescimento económico do Federal Reserve Bank de Atlanta previu uma forte queda para os primeiros três meses deste ano — uma contração de 2,8 por cento no crescimento económico, após quase três anos de crescimento sólido.
Isso levou Musk a publicar na sua rede de propaganda a sugestão de que "uma medida mais precisa do PIB excluiria os gastos governamentais". Ao longo do fim de semana, o Secretário do Comércio, Howard Lutnick, ecoou os comentários de Musk no programa "Sunday Morning Futures" da Fox News, afirmando que deseja excluir os gastos governamentais do PIB. Não deu qualquer indicação de quando esta mudança poderia ocorrer, enquanto descartava receios de uma possível recessão.
"Sabe que historicamente os governos têm manipulado o PIB", disse Lutnick. "Eles contam os gastos governamentais como parte do PIB. Por isso, vou separar esses dois e torná-lo transparente."
A notícia e as citações não vieram da Facebook, da X, ou da TikTok. Vieram do ainda insuspeito Washington Post e da insuspeita Reuters (aqui e aqui).
A outra meia casa
Estamos todos muito impressionados, como é objetivo de Trump e das suas redes de propaganda, mas alguns já começaram a reagir com a frieza do realismo, sendo exemplo Friedrich Merz, como leremos abaixo.
Numa nota pessoal, o que mais me impressionou nas imagens recebidas do Congresso não foi a claque irracional antigamente conhecida por congressistas do Partido Republicano. Foi a outra meia casa. Metade da assistência não se levantou, não aplaudiu histérica. Manifestou-se timidamente com uns cartazes. Mas o ponto é este: metade dos Estados Unidos da América não votou no fim da democracia, não quer um estado federal ditatorial, não vê com bons olhos um palhaço empossado como presidente. (Palhaço aqui no sentido teatral, não no sentido empregue amiúde para descrever um imbecil - Trump não é nem um imbecil, nem um idiota, sabe bem o que quer; e usa a palhaçada como um meio para atingir os seus fins.)
VamoLáVer: o que fazer?
Este projeto começou num contexto muito diferente do atual. Era outro, o mundo em setembro de 2023. E, como tudo e todos, são necessários alguns ajustes. O propósito mantém-se: tratar a política a sério. E mantém-se um exercício de cidadania informada, que procura sintetizar os mais significativos eventos da semana, em duas a três edições gratuitas e ocasionais números especiais reservados a apoiantes.
O que muda?
Duas coisas:
o âmbito, com a geo-política global a passar a ter um espaço maior, ao lado da União Europeia
as fontes.
Nas últimas semanas incontáveis publicações, desde mainstream media como The Guardian a títulos completamente novos, reafirmaram o seu compromisso com o estado de direito e a democracia e apelaram aos leitores que providenciassem ajuda sob a forma de assinaturas, numa reação defensiva face à investida ditatorial americana.
A posição de VamoLáVer é a de sempre, apenas sai reforçada: queremos contribuir como pudermos para uma dieta informativa que ajude os assinantes a entender as mudanças em curso, com maior atenção às fontes alinhadas com os valores que estão ameaçados. A nossa seleção das fontes que pagamos será alargada na medida do possível, tanto para reafirmar apoios como o do Guardian (e da Wikipedia, hoje uma fonte de grande confiança em várias matérias que fornecessem contextos históricos), como para pagar novas publicações, a próxima das quais, mal haja orçamento, é a newsletter de Paul Krugman.
Como os assinantes saberão, o nosso orçamento tem uma componente externa. Temos uma base de apoiantes que tornou possível o crescimento qualitativo nos últimos 11 meses — abrimos os apoios em abril do ano passado.
Explicado isto, todos os apoios são bem vindos para melhorar esta iniciativa de cidadania informada e contribuir para um ecossistema noticioso que nos liberte das redes tornadas cada vez mais em centrais de propaganda e formatação mental ao serviço da oligarquia tecnológica que está empenhada em substituir as democracias por sistemas autocráticos e ditatoriais. Pode mudar a sua assinatura aqui.
Estados Unidos de Trump
🏛️ Trump discursa pela primeira vez no Congresso após regresso. No mais longo discurso presidencial já registado perante legisladores, afirmou que "o Sonho Americano é imparável" e apresentou a sua visão para o segundo mandato, enquanto republicanos aplaudiam as mudanças nas políticas interna e externa. • bbc.com
🎤 Os melhores e os piores momentos do discurso, segundo os analistas do New York Times. • nytimes.com
🏛️ Serviços federais dos EUA enfrentam riscos de colapso. O Serviço Florestal enfrenta cortes que podem comprometer o combate a incêndios, enquanto a Administração da Segurança Social é alvo de alegações falsas de Musk e Trump sobre milhões de pagamentos indevidos a pessoas falecidas. • paulkrugman.substack.com
💰 Trump está a promover um memecoin e quer criar uma "reserva estratégica federal de criptomoeda", apesar da falta de benefício evidente. A compra de grandes quantidades de criptomoedas pelos EUA beneficiaria financeiramente apenas empresas e investidores ligados a Trump. • popular.info
⚖️ O Supremo Tribunal rejeitou o pedido de Trump para congelar cerca de 2 mil milhões de dólares em ajuda externa. A decisão foi tomada com uma votação de 5-4, com o presidente do Tribunal Roberts e a juíza Barrett juntando-se aos três juízes liberais para formar a maioria. • supremecourt.gov
🗽 Trump força Europa a repensar alianças e cooperação. Após cinco semanas de turbulência política americana e declarações polémicas de Trump, os europeus são obrigados a despertar da letargia de 20 anos e desenvolver novos quadros de cooperação, especialmente quanto ao apoio à Ucrânia. • lemonde.fr
🇺🇦 Marine Le Pen condena decisão dos EUA sobre a Ucrânia. A líder do partido Rassemblement National criticou a "brutalidade" da suspensão temporária da ajuda militar americana à Ucrânia, considerando a medida cruel para os soldados ucranianos que defendem o seu país. • lefigaro.fr
🏛️ Os EUA suspenderam o apoio de inteligência à Ucrânia. O diretor da CIA, John Ratcliffe, confirmou a decisão após um desentendimento entre Trump e Zelenski na Casa Branca, afetando o que militares e especialistas consideram ser a ajuda mais essencial dos EUA ao país invadido. • elpais.com
PORTUGAL
🗳️ 🏛️ Eleições à vista: Montenegro foge para a frente com uma moção de confiança, que PS vai chumbar
A notícia - O Partido Socialista (PS), através do seu secretário-geral Pedro Nuno Santos, confirmou que irá votar contra a moção de confiança apresentada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro. O secretário-geral socialista acusa Montenegro de querer evitar dar explicações numa comissão parlamentar de inquérito sobre o caso Spinumviva, preferindo "atirar o país para eleições".
O secretário-geral do PS critica a decisão do primeiro-ministro, afirmando que Montenegro "foge às explicações como o diabo foge da cruz" e optou por "calar o Parlamento" em vez de prestar os devidos esclarecimentos sobre o caso em questão.
Acusações de fuga ao escrutínio - Pedro Nuno Santos acusa Luís Montenegro de nunca ter dado explicações cabais sobre o caso Spinumviva e de estar a utilizar a moção de confiança como estratégia para evitar comparecer numa comissão parlamentar de inquérito.
Defesa do próprio escrutínio - O secretário-geral do PS relembrou o seu próprio histórico de escrutínio, mencionando que respondeu a todas as questões numa comissão parlamentar de inquérito, incluindo investigações sobre empresas, a pedido do Chega, e questões pessoais levantadas pelo PSD sobre a sua casa em Lisboa, IMI no Alentejo e ajudas de custo.
Consequências políticas - A decisão do PS de votar contra a moção de confiança ao Governo indica uma provável crise política e a possibilidade de novas eleições, dado que sem o apoio do maior partido da oposição a moção dificilmente será aprovada no Parlamento.
Aprofundar: jn.pt, expresso.pt
🇩🇪💰 Alemanha flexibilizará regras para poder gastar um bilião de euros em defesa
Pontos essenciais
O plano visa isentar os gastos com defesa acima de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) das restrições do "travão da dívida" constitucional
O atual limite do défice orçamental estrutural imposto pelo "travão da dívida" é de 0,35% do PIB.
Está proposto um fundo especial de 500 mil milhões de euros para financiar projetos de infraestruturas ao longo da próxima década.
Estima-se que a flexibilização das regras de dívida poderá permitir um bilião de euros (ou mais de 1,08 biliões de dólares) em novos empréstimos e gastos ao longo de dez anos.
O Bundesbank propôs uma reforma do "travão da dívida" que elevaria o limite para o endividamento líquido anual para 1,4% do PIB.
A Alemanha já forneceu à Ucrânia 60 tanques Leopard e 175 veículos de combate de infantaria Marder, bem como 27 sistemas de defesa aérea, incluindo três baterias de mísseis Patriot.
Em 2022, a Alemanha criou um fundo especial de 100 mil milhões de euros para cumprir a meta da NATO de gastar 2% do PIB em defesa.
Prevê-se que o fundo especial de defesa de 100 mil milhões de euros se esgote em 2027.
Para aprovar a isenção parcial dos gastos com defesa e o fundo de infraestruturas, é necessária uma maioria de dois terços no parlamento.
Economistas do Morgan Stanley preveem um possível aumento de 0,2% no crescimento do PIB este ano e de 0,7% no próximo devido a estas medidas.
O "travão da dívida" foi implementado em 2009.
A notícia
A Alemanha está a planear uma revisão significativa das suas regras constitucionais de dívida para permitir um aumento substancial nos gastos com defesa e infraestruturas. O anúncio desta histórica mudança foi feito pelo futuro chanceler, Friedrich Merz, do partido conservador CDU, juntamente com líderes do Partido Social Democrata (SPD), com quem está em negociações para formar uma coligação governamental. Esta decisão surge num contexto de crescente alarme entre os líderes europeus face à posição da administração Trump em relação à NATO e à Ucrânia. Merz enfatizou que, perante as ameaças à liberdade e à paz no continente, o lema "tudo o que for preciso" deve agora aplicar-se à defesa do país.
O plano proposto prevê isentar parcialmente os gastos com defesa que excedam 1% do Produto Interno Bruto (PIB) das restrições do "travão da dívida" constitucional da Alemanha, que limita o défice orçamental estrutural a 0,35% do PIB, exceto em emergências. Adicionalmente, foi anunciado um fundo especial de 500 mil milhões de euros para financiar projetos de infraestruturas fora do orçamento normal nos próximos dez anos. Esta iniciativa visa estimular a economia alemã e angariar apoio de legisladores de esquerda que poderiam opor-se a um afrouxamento das regras de dívida apenas para fins de defesa. Estima-se que estas medidas, se aprovadas, poderão disponibilizar um bilião de euros ou mais em novos empréstimos e gastos ao longo de uma década.
O travão da dívida e as propostas de reforma
O "travão da dívida" foi introduzido em 2009, durante a crise financeira global, refletindo um ceticismo cultural e político em relação à dívida. Esta regra limitava o novo endividamento a 0,35% do PIB. No entanto, eventos recentes como a pandemia, a desaceleração do crescimento e a invasão da Ucrânia pela Rússia colocaram este mecanismo sob grande pressão, levando o governo a invocar cláusulas de emergência para aumentar os gastos.
Agora, Merz propõe que os gastos com defesa acima de 1% do PIB sejam isentos desta restrição constitucional. Paralelamente, o co-líder do SPD, Lars Klingbeil, sugeriu que a provável próxima coligação governamental pretende realizar uma reforma mais fundamental do travão da dívida até ao final de 2025 para permitir investimentos adicionais. Curiosamente, esta decisão representa uma mudança significativa para os conservadores alemães, que historicamente defenderam a disciplina fiscal e foram os responsáveis pela implementação dos limites constitucionais de gastos em 2009. O próprio Bundesbank propôs uma reforma do travão da dívida que elevaria o limite para o endividamento líquido anual para 1,4% do PIB, criando cerca de 220 mil milhões de euros em capacidade de gasto adicional até ao final da década.
Justificação política e o cenário europeu
A motivação central para esta mudança reside nas crescentes preocupações com a segurança europeia, particularmente face à postura da administração Trump em relação à NATO e ao apoio à Ucrânia. A redução do compromisso dos Estados Unidos com a segurança da Europa impulsionou a necessidade de a Alemanha assumir um papel de liderança mais forte na defesa. A declaração de Merz de que a defesa deve agora seguir o lema "tudo o que for preciso" sublinha a seriedade com que a Alemanha encara esta nova realidade geopolítica.
Klingbeil, do SPD, também destacou a importância de investir numa Europa forte e segura, referindo os eventos recentes na Casa Branca com o presidente Zelensky como um fator que tornou ainda mais clara a necessidade de mais recursos para a defesa e segurança europeia. A urgência em aprovar estas medidas é também ditada pela ascensão de partidos como a AfD (extrema-direita) e o Die Linke (esquerda radical), que se opõem ao aumento dos gastos militares e que terão maior representação no novo parlamento a ser constituído até 25 de março. Por esta razão, os conservadores e o SPD pretendem submeter as propostas a votação no parlamento atual.
Implicações económicas e desafios políticos
Economistas antecipam que a flexibilização do travão da dívida poderá ajudar a Alemanha a sair de um período de estagnação económica, impulsionando o investimento em áreas cruciais como infraestruturas, transportes, hospitais, energia, educação e investigação. A falta de investimento nestes setores tem sido apontada como responsável por problemas como atrasos nos comboios, deterioração de infraestruturas e um ritmo lento na adoção de energias renováveis e tecnologias digitais. Após o anúncio, o Morgan Stanley previu um aumento potencial de 0,2% no crescimento do PIB este ano e 0,7% no próximo, o que seria um desenvolvimento bem-vindo numa economia que contraiu nos últimos dois anos.
No entanto, a aprovação destas medidas não é garantida. Merz necessita de uma maioria de dois terços no parlamento para isentar parcialmente os gastos com defesa das restrições fiscais constitucionais e para aprovar o fundo especial para infraestruturas. Para tal, os conservadores e o SPD precisam do apoio dos Verdes. Contudo, muitos políticos dos Verdes já indicaram que poderão opor-se às propostas a menos que venham acompanhadas de uma reforma mais fundamental e imediata do travão da dívida, que permita um maior investimento na proteção climática, crescimento económico e infraestruturas. O co-líder dos Verdes, Felix Banaszak, afirmou que o partido irá analisar cuidadosamente as propostas antes de tomar uma decisão.
Fontes: politico.eu, publico.pt, apnews.com
🛡️ 🇪🇺 As fragilidades do plano "Rearmar a Europa", apresentado pela Comissão Europeia
A notícia - A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou um novo plano para "Rearmar a Europa" que poderá mobilizar até 800 mil milhões de euros para a indústria de defesa e aquisições dos Estados-membros. O plano, apresentado num contexto de preocupação com o recuo dos EUA no apoio à defesa europeia, baseia-se principalmente em empréstimos conjuntos e flexibilização de regulamentos, sem apresentar fundos novos significativos.
O programa prevê um empréstimo conjunto de 150 mil milhões de euros para aquisições de armamento, condicionado a compras conjuntas por pelo menos três países da UE ou dois países mais a Ucrânia. A proposta será debatida na cimeira de líderes europeus a 21 de março, após uma primeira discussão esta quinta-feira.
Financiamento e empréstimos conjuntos - A Comissão propõe emitir dívida nos mercados de capitais para emprestar aos Estados-membros, com a garantia do orçamento da UE. Os fundos destinam-se a equipamentos sofisticados como defesa aérea e antimíssil, sistemas de artilharia, mísseis ofensivos, munições e sistemas de drones.
Flexibilidade orçamental - Uma das propostas menos controversas permite maior flexibilidade nas regras orçamentais para investimentos em defesa, através de uma cláusula de escape nacional das limitações da dívida. A Comissão estima que isto poderia gerar 650 mil milhões de euros se todos os países aumentarem as despesas.
Papel do Banco Europeu de Investimento - O BEI propõe alterar a sua política de empréstimos para permitir investimentos em produtos de defesa não letais e facilitar empréstimos ilimitados a empresas de defesa, incentivando também os bancos comerciais a participarem no financiamento.
Opções excluídas - O plano não inclui o confisco de ativos russos congelados, uma medida defendida pela Polónia e países bálticos mas contestada pela França. Também não contempla alterações aos critérios ESG nem isenções de IVA nas aquisições de defesa.
Fontes: euractiv.com, aljazeera.com
Consultar: Press statement by President von der Leyen on the defence package
Pacote de defesa da UE: a estratégia certa?
A Presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, apresentou na terça-feira o plano "ReArm Europe". Comentadores analisam os prós e contras.
🧐 Werner Mussler espera que a grande maioria - 650 mil milhões de euros ao longo de quatro anos - venha dos Estados-membros. Isto baseia-se no pressuposto de que gastarão, em média, mais 1,5% do seu produto económico anual em defesa do que têm feito até agora e ficarão isentos das regras orçamentais da UE. Este é um pressuposto ousado. Alguns Estados-membros não querem aumentar tanto as suas despesas de defesa, outros não estão em condições de o fazer... Novas dívidas conjuntas não estão, portanto, certamente fora da mesa. • FAZ (Alemanha)
🧐 Jędrzej Bielecki questiona: Von der Leyen coloca a iniciativa proposta em 800 mil milhões de euros. Isso soa impressionante, mas quão realista é? A maior parte virá do anúncio de que deduzir as despesas militares do cálculo do défice orçamental permitido poderia permitir aos países aumentar as suas despesas de defesa em média 1,5% do PIB ao longo de quatro anos. Isso equivale a 600 mil milhões. Mas a Rússia dará aos europeus esses quatro anos? E os Estados-membros aproveitarão realmente esta oportunidade e mobilizarão os fundos? • Rzeczpospolita (Polónia)
🧐 Ramūnas Vilpišauskas afirma que os países europeus terão de pedir mais empréstimos - e se surgir uma coligação de voluntários, possivelmente até em conjunto. Claro que reunir mais dinheiro para a defesa é apenas o primeiro passo. Ao mesmo tempo, será necessário reduzir a fragmentação da indústria de defesa europeia, aumentar as suas capacidades e racionalizar os contratos públicos. Esta é agora a principal forma de a Europa não só reforçar a sua segurança, mas também convencer os EUA de que deve prestar mais atenção aos interesses e opiniões dos seus aliados. • 15min (Lituânia)
🧐 Nicolas Beytout adverte que as políticas governamentais e de segurança devorarão as nossas finanças públicas e exigirão escolhas difíceis. Como habitualmente, o primeiro reflexo dos políticos será aumentar os impostos - com o risco de desencorajar aqueles que criam riqueza e abrandar precisamente aquilo de que a "economia de guerra" mais necessita: crescimento. Uma nova era - e um novo desafio: adaptar o orçamento e as despesas de segurança social às exigências militares. • L'Opinion (França)
🧐 Isaac Rosa critica: Pensaríamos que após três anos de uma guerra extremamente dispendiosa contra a Ucrânia, que ainda não conseguiu vencer, a Rússia teria pouco desejo de novas aventuras... No entanto, revivemos o velho argumento "a culpa é da Rússia" e, a partir de agora, o espectro de Putin será usado para justificar todo o tipo de coisas: Aumento das despesas militares? Putin! Cortes nas despesas públicas para investir mais na defesa? Putin! Reintrodução do serviço militar obrigatório? Putin! Qualquer coisa que proponham usando o argumento Putin será implementada. Incluindo a compra de uma grande proporção das armas aos EUA, de todos os lugares. • eldiario.es (Espanha)
🇪🇺 🛡️ UE convoca cimeira de emergência sobre segurança face ao recuo dos EUA
A notícia - Os líderes da União Europeia vão reunir-se numa cimeira de emergência nesta quinta-feira, dia 6, para discutir o aumento dos orçamentos militares, após a administração Trump ter sinalizado que a Europa deve cuidar da sua própria segurança e ter suspendido a assistência à Ucrânia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou numa carta aos 27 líderes da UE que a Europa enfrenta um perigo claro e presente numa escala sem precedentes, sublinhando que alguns pressupostos fundamentais estão a ser minados.
A cimeira surge num momento particularmente desafiante, com Donald Trump a ordenar uma pausa nos fornecimentos militares americanos à Ucrânia, pressionando o presidente Volodymyr Zelensky a negociar o fim da guerra com a Rússia. O encontro focará principalmente questões financeiras e estratégias para fortalecer a capacidade de defesa europeia, quebrando décadas de dependência do guarda-chuva defensivo americano.
Proposta financeira da Comissão Europeia - Von der Leyen propõe que a Comissão Europeia angarie até 150 mil milhões de euros nos mercados financeiros para emprestar aos Estados-membros para equipamento militar. Adicionalmente, pretende flexibilizar as regras de dívida para permitir investimentos adicionais de 1,5% do PIB em defesa por país.
Situação militar na Ucrânia - As forças ucranianas continuam a combater para retardar o avanço russo ao longo de uma linha da frente de 1.000 quilómetros, especialmente na região de Donetsk. Dezenas de milhares de soldados e mais de 12.000 civis ucranianos perderam a vida.
Desafios políticos internos - A UE enfrenta fragmentação interna, com a ascensão da direita pró-russa. A Hungria e a Eslováquia têm minado regularmente o apoio à Ucrânia, enquanto vários países importantes enfrentam incertezas políticas internas, incluindo mudanças de liderança na Alemanha e instabilidade governamental em França e Países Baixos.
Meta de gastos militares - O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, adverte que os aliados europeus precisarão de gastar mais de 3% do PIB em defesa, enquanto a administração Trump exige até 5%, bem acima do atual objetivo da NATO de 2%.
Fonte: apnews.com
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🇺🇦 Primeiro ministro Luís Montenegro conversou com Volodymyr Zelensky na véspera da cimeira extraordinária dos líderes europeus. Na conversa por videochamada, o primeiro-ministro reiterou o apoio de Portugal à Ucrânia, sendo este o segundo contacto entre ambos numa semana. • sicnoticias.pt
🇪🇺 Macron recebeu Orbán em Paris esta quarta-feira para tentar alinhar a posição húngara com a da UE sobre a Ucrânia, antes da cimeira de defesa de 6 de março. A reunião ocorre após os EUA cortarem apoio militar e depois de Orbán não ter estado no encontro de 18 nações em Londres. • euractiv.com
Economia
🚗 A Comissão Europeia apresentou plano para o setor automóvel que visa ajudar a indústria contra a concorrência estrangeira. O programa oferece maior flexibilidade nas regras de emissões de CO2, mantendo as metas climáticas, e prevê análise sobre o acesso aos dados dos condutores armazenados pelos veículos. • wsj.com
📊 A taxa de inflação na OCDE manteve-se em 4,7% em janeiro, pelo terceiro mês consecutivo. O índice subiu em 15 países, caiu em 10 (incluindo Portugal, que passou de 3% para 2,5%) e permaneceu estável num terço das economias, com o aumento dos preços da energia na Europa a ser compensado pela queda nos alimentos. • 24.sapo.pt
Mundo
🔍 Os EUA suspenderam toda a partilha de informações com a Ucrânia, após uma interrupção inicial que afetava apenas dados sobre ataques dentro da Rússia. A decisão surge depois de o ex-presidente Trump ter suspendido a ajuda militar à Ucrânia após um desentendimento com o presidente Zelensky na Casa Branca. • news.sky.com
📈 A China estabelece meta otimista de crescimento de 5% num momento em que enfrenta desafios comerciais devido ao aumento das tarifas impostas pelos EUA. Apesar das promessas de impulsionar o consumo interno, o governo chinês apresentou poucos detalhes concretos sobre como alcançar este objetivo durante o Congresso Nacional do Povo em Pequim. • nytimes.com