[1.85] França: extrema-direita vence primeira volta mas a governação permanece em aberto
Sem surpresa, a União Nacional de Marine Le Pen venceu a primeira volta e o partido do presidente Macron foi violentamente penalizado. Mas as alianças para a segunda volta podem ainda mudar tudo
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ATUALIDADE
França: extrema-direita vence primeira volta mas a governação permanece em aberto
Com 33,15% dos votos, a União Nacional (UN) venceu a primeira volta das eleições legislativas francesas este domingo (2024/06/30).
Estima-se que o partido de extrema-direita ganhe entre 230 e 280 assentos na Assembleia Nacional. O segundo maior grupo deverá ser a Nova Frente Popular, de esquerda, com entre 125 e 165 assentos, enquanto a coligação centrista Ensemble, do presidente Emmanuel Macron, obterá entre 70 e 100 assentos.
Mas tudo pode ainda mudar na segunda volta e o cenário final ser muito diferente.
Após a primeira volta, a questão principal permanece sem resposta: será que a UN de Marine Le Pen conseguirá obter a maioria parlamentar e assumir o governo?
Alguns pontos secundários foram esclarecidos. A aliança de partidos de esquerda não teve o impulso surpreendente que lhe permitiria assumir o poder, e um parlamento sem maioria clara continua a ser o mais cenário provável.
Para evitar uma vitória da extrema-direita, os partidos não alinhados com o União Nacional precisam de se unir. Houve alguns progressos nesse sentido no domingo à noite, mas não um acordo total. A Nova Frente Popular de esquerda anunciou que os seus candidatos desistiriam se ficassem em terceiro lugar ou pior nas mais de 300 circunscrições com segunda volta de três ou quatro candidatos.
O Presidente Emmanuel Macron e os seus aliados não foram tão longe, mas apelaram à unidade com outros partidos que partilham os seus valores democráticos e republicanos. Isto pareceu excluir o partido de extrema-esquerda França Insubmissa, embora não esteja totalmente claro.
Os Republicanos, de centro-direita, que tiveram um desempenho melhor do que o esperado na primeira volta, não apelaram aos seus eleitores para apoiarem qualquer grupo na segunda volta caso o seu candidato não se tenha qualificado.
A situação permanece, portanto, incerta, com a possibilidade de uma vitória da extrema-direita ainda em aberto, dependendo da capacidade de os outros partidos se unirem contra esta ameaça.
Fontes: france24.com, publico.pt
Como reagiu a imprensa: França à beira de uma crise política
As eleições legislativas em França revelaram uma polarização política preocupante, com a vitória do partido de extrema-direita de Marine Le Pen na primeira volta a forçar uma união das forças de esquerda e centristas contra o avanço da direita radical.
🗣 Andrea Bonanni teme que o clima de alarme democrático se esteja a espalhar da Europa para França, com a vitória da extrema-direita a obrigar a uma "frente republicana" de resistência para evitar uma maioria absoluta dos soberanistas anti-UE e pró-Putin na segunda volta. Repubblica (Itália)
🕵️ Alexis Brézet lamenta o dilema político e moral em que França se encontra, com a polarização a criar uma paisagem política radicalmente nova que oferece apenas más soluções. Le Figaro (França)
🧐 El País apela a uma ampla coligação contra a União Nacional de Le Pen, com centristas e conservadores moderados a porem de lado as suas diferenças para apoiar quem possa derrotar a extrema-direita. El País (Espanha)
✍ John Keiger considera que está tudo acabado para Macron, cuja arrogância e desdém pelos cidadãos acabou por ter o troco merecido, reforçando a extrema-direita e a esquerda radical. Spectator (Reino Unido)
🗣 Philippe Bernard vê paralelos com a crise britânica e o voto do Brexit, com a hostilidade à imigração e o sentimento de abandono a alimentarem a raiva, prenunciando um país fracturado e um confronto tóxico com a UE. Le Monde (França)
🕵️ Teresa de Sousa alerta que Le Pen, sendo nacionalista e não gostando da UE nem da NATO, representa uma ameaça à segurança europeia num momento em que a Rússia lança operações de influência, ciberataques e uma guerra de informação contra o Ocidente. Público (Portugal)
Começa hoje a presidência húngara da União Europeia, para bem dos interesses da Rússia e da China
A Hungria assume hoje a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, com mandato até 31 de dezembro de 2024. No entanto, este poder traz riscos, pois aquele país tem defendido os interesses chineses na UE há muito tempo. Com o aumento da guerra comercial entre as grandes potências, há expectativas sobre o papel de Orbán. Simplificamos os assuntos em seis pontos.
O papel protetor nos vetos da UE. A Hungria é responsável por cerca de 60% de todos os vetos na União Europeia. Nos últimos três anos, a maioria dessas objeções protegeu os interesses da Rússia e da China. A Hungria tem sido o estado do bloco europeu que mais protege a Rússia e serve os interesses comerciais chineses.
A relação Hungria-China e o investimento chinês. A relação intensificou-se após o início da invasão da Ucrânia em 2022. O presidente chinês Xi Jinping prometeu cerca de 16 mil milhões de euros em investimento direto estrangeiro chinês na Hungria. O primeiro acordo significativo foi em 2020, para a construção da ferrovia Budapeste-Belgrado, parte do programa chinês "Belt and Road" (nova Rota da Seda).
Expansão da presença chinesa na Hungria. A partir de 2022, a China começou a construir fábricas de componentes para carros elétricos e complexos industriais na Hungria. A Hungria planeia instalar fábricas da marca chinesa BYD, apesar das investigações e tarifas da UE. Budapeste também intensificou as relações comerciais com a Huawei, considerada de alto risco por Bruxelas.
A comunidade chinesa na Hungria. Budapeste abriga a maior comunidade chinesa da Europa Central, com mais de 25.000 pessoas. A Hungria vendeu milhares de autorizações de residência na UE a empresários e pessoas ricas da China. A comunidade chinesa em Budapeste tem suas próprias instituições, incluindo escolas, igrejas e jornais.
A estratégia económica de Orbán. Viktor Orbán busca diversificar a economia húngara com investimentos chineses e asiáticos. A Hungria tem vantagens comparativas em indústrias-chave, como a automobilística, tornando-a atrativa para investimentos chineses. As medidas punitivas de Bruxelas aos negócios chineses beneficiam a Hungria, mas Orbán não pode arriscar distanciar demais a China da UE.
A presidência húngara do Conselho da UE e as suas implicações. A Hungria assume a presidência rotativa do Conselho da UE, podendo influenciar a agenda da UE nos próximos seis meses. Orbán pode tentar inverter a posição assertiva de Bruxelas em relação à China. No entanto, alguns analistas acreditam que a presidência húngara não causará mudanças estruturais significativas nas relações UE-China.
Fonte: expresso.pt
Irão vai a segunda volta: reformista venceu presidenciais sem maioria
A corrida presidencial no Irão vai para a segunda volta, depois de nenhum dos candidatos ter conseguido obter mais de 50% dos votos na primeira volta.
De acordo com os resultados oficiais, Masoud Pezeshkian, o candidato reformista, obteve 42,4% dos votos, enquanto Saeed Jalili, o candidato conservador, obteve 38,6%.
Os dois candidatos restantes à presidência iraniana oferecem aos eleitores visões distintas para o futuro do país. Contudo, especialistas afirmam que as suas diferentes perspetivas provavelmente não conduzirão a uma mudança significativa na política externa do Irão.
Pezeshkian, ex-ministro da saúde e cirurgião, ficou em primeiro lugar nas eleições de sexta-feira passada, mas não conseguiu os 50% necessários para uma vitória absoluta, forçando-o a uma segunda volta contra Jalili, marcada para 5 de julho. A eleição antecipada de sexta-feira tinha como objetivo escolher o sucessor do presidente Ebrahim Raisi, que morreu num acidente de helicóptero no final de maio.
Pezeshkian destaca-se na corrida como o único candidato não conservador a quem foi permitido concorrer. Tem o apoio de reformistas como o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Mohammad Javad Zarif, cujo envolvimento indica que Pezeshkian irá perseguir um objetivo chave da política externa diferente: renegociar um acordo nuclear para aliviar as sanções à economia iraniana e diminuir as tensões com o Ocidente.
Por outro lado, Jalili é considerado o representante mais rígido da política conservadora. Uma vitória deste homem da linha dura, com o apoio de outros candidatos conservadores da primeira volta, marcaria uma abordagem ainda mais confrontacional em relação ao Ocidente, especialmente aos EUA. Jalili, que serviu como principal negociador nuclear entre 2007-2012, opôs-se à ideia de que o Irão devesse discutir ou comprometer-se com outros países sobre o seu programa de enriquecimento de urânio, uma posição que manteve em relação ao acordo de 2015.
🇺🇸 Aliados de Biden tentam conter danos após debate presidencial
O Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, enfrenta uma crise após o seu desempenho no debate presidencial de quinta-feira passada. Os seus aliados têm trabalhado arduamente para minimizar os erros cometidos, tranquilizar doadores nervosos e conter as dúvidas públicas. A família de Biden reuniu-se em Camp David no domingo para o encorajar a permanecer na corrida. Apesar dos esforços, surgem apelos para que Biden abandone a candidatura.
Qual foi a reação pública dos aliados de Biden?
Os aliados de Biden têm criticado publicamente os 'democratas ansiosos', destacado um recorde de doações à campanha e apontado para a lista de incumbentes que tropeçaram nos seus primeiros debates.
O que têm feito os aliados de Biden nos bastidores?
Nos bastidores, têm trabalhado para tranquilizar doadores nervosos, pedido a legisladores preocupados para manterem a calma e reunido com colegas para se solidarizarem.
Como reagiu o próprio Biden?
Em conversas privadas, Biden expressou total compromisso em permanecer na corrida. No entanto, questionou assessores e aliados sobre as reações ao seu desempenho e manifestou preocupação com as repercussões.
Quem é Tom Harkin e qual é a sua posição?
Tom Harkin é um ex-senador democrata do Iowa. Descreveu o debate como 'um desastre do qual Biden não pode recuperar' e apelou a Biden para que abandone a corrida.
Citações
Penso que o presidente deveria afastar-se e deixar a convenção escolher um novo candidato. - Tom Harkin
Tem um grande legado, e agora é hora de passar o testemunho. - Tom Harkin
Fonte: washingtonpost.com
🇦🇹 😠 Populistas e extrema-direita formam aliança "Patriots for Europe"
Líderes de extrema-direita da Áustria, Hungria e República Checa anunciaram a criação da aliança "Patriots for Europe". O grupo visa reformar as instituições da UE e alterar políticas sobre migração, ambiente e a guerra na Ucrânia.
A aliança pretende formar um novo grupo político no Parlamento Europeu até 15 de julho. Com 24 eurodeputados, cumprem um dos requisitos, mas ainda precisam de representantes de pelo menos sete Estados-membros.
Defesa da soberania nacional - O grupo critica a centralização do poder em Bruxelas e defende o fortalecimento da soberania dos Estados-membros.
Reformas institucionais - Propõem reduzir significativamente o tamanho do Parlamento Europeu e da administração da UE, incluindo cortar um terço dos Comissários.
Política migratória restritiva - Defendem medidas rigorosas para controlar a imigração ilegal, incluindo maior segurança nas fronteiras externas e expulsões mais rápidas.
Críticas à abordagem da UE sobre a Ucrânia - Orbán acusa a "elite de Bruxelas" de má gestão do conflito, defendendo uma solução pacífica. O grupo mantém laços controversos com a Rússia.
Revisão do Pacto Ecológico - Criticam o Pacto Ecológico da UE, argumentando que prejudica a competitividade económica. Propõem uma abordagem mais equilibrada para o desenvolvimento económico sustentável.
Fonte: euractiv.com
Portugal
🏢 A concentração de ministérios no Campus XXI trará poupanças significativas. O Governo estima economizar entre 19 a 20 milhões de euros anuais em custos operacionais, incluindo rendas, logística, limpeza, segurança e eletricidade. O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, anunciou que será apresentado um plano para aproveitar os edifícios que ficarão vagos, enfatizando o benefício para os contribuintes. • sicnoticias.pt
🇵🇹 António Costa agradeceu o apoio de Luís Montenegro à sua eleição para presidente do Conselho Europeu. O ex-primeiro-ministro considerou o empenho do atual chefe do Governo uma "marca de qualidade da nossa democracia", especialmente no ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril. Costa expressou ainda a sua intenção de valorizar Portugal no exercício das suas novas funções europeias. • dn.pt
🚁 O Presidente do INEM demitiu-se esta segunda-feira, apresentando a sua renúncia à ministra da Saúde. A decisão surge na sequência de desacordos com o Ministério da Saúde relativamente aos contratos dos helicópteros de emergência médica. • tsf.pt
União Europeia
🇳🇱 A extrema-direita neerlandesa liderada por Geert Wilders chegou a um acordo para formar o novo governo dos Países Baixos. A coligação inclui quatro partidos de direita e terá como primeiro-ministro Dick Schoof, especialista em segurança e asilo. O executivo será composto por 15 ministros, distribuídos entre o PVV (5), VVD (4), NSC (4) e BBB (2), contrariando a promessa inicial de incluir 50% de tecnocratas no governo. • 24.sapo.pt
Economia
🇵🇹 A energia renovável atingiu um marco histórico em Portugal, abastecendo 82% do consumo de eletricidade no primeiro semestre de 2023, a contribuição semestral mais alta em 45 anos. Contudo, em junho, o país importou 39% da eletricidade consumida através de Espanha, um recorde mensal. O consumo total de energia elétrica no semestre aumentou 1,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. • publico.pt
Mundo
🇧🇷 O número de incêndios no Pantanal brasileiro já bateu recordes antes do início oficial da época de fogos. "Estamos a enfrentar uma das piores situações de sempre", afirmou o ministro do Ambiente. O Brasil tem sido atingido por fenómenos meteorológicos extremos, incluindo cheias devastadoras e secas históricas na Amazónia. Especialistas prevêem que 2024 poderá ser um dos anos mais secos de sempre no país, sublinhando a necessidade urgente de uma estratégia abrangente para enfrentar diversas crises ambientais. • semafor.com
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Um livro
Ponham-nos a Ler! A leitura como antídoto para os cretinos digitais. Autor: Michel Desmurget. Editor: Contraponto, 2024. “Michel Desmurget: "A desigualdade linguística é a raiz da desigualdade escolar". O problema dos "cretinos" não é só o mundo digital, é o estado a que a educação chegou, onde se fica pelos mínimos, onde se facilita a vida aos alunos. Por isso, os pais são chamados à pedra. É preciso ler, ler desde que nascem, ler quando eles já sabem ler, acompanhá-los na leitura, porque a educação não pertence só à escola. Ler para que as crianças compreendam o mundo, para que ganhem empatia, em última instância para que não se deixem enganar pela extrema-direita.” Bárbara Wong
Um festival
Serralves Jazz no Parque. Museu de Serralves, Porto, 06, 07, 13 e 14 julho 2024. “Com sete concertos repartidos entre o auditório do Museu e o palco exterior situado no jardim, pretende-se, em cada um deles, proporcionar ao público uma experiência sonora única e inesquecível, afirmando a música como catalisador de inspiração e mudança. Juntem-se a nós para mais uma edição memorável que afirma Serralves, uma vez mais, como um polo de referência na divulgação e desenvolvimento da arte contemporânea no nosso país.” https://www.serralves.pt/ciclo-serralves/jazz-no-parque-2024/
Um filme
À Mesa da Unidade Popular. Realização: Camilo de Sousa, Isabel Noronha. "À Mesa da Unidade Popular: Moçambique depois da revolução Documentário no formato de "cabeças falantes", integra este paradoxo que resulta comovente: é simultaneamente a projecção num ecrã imaginário de um filme mais amplo, um fresco geracional.” Vasco Câmara
RELEMBRANDO
Não lemos todas as newsletters todos os dias, naturalmente… Podem ter-lhe escapado estes assuntos:
[1.84] 🇺🇸🚨 Biden contra Trump: 90 minutos de dor. Os Democratas entraram em pânico com a prestação de Biden no debate televisivo com Trump. Meio mundo, nos EUA e fora dele, pede agora que Biden abandone a candidatura
[1.83] UE acelera adesão de Ucrânia e Moldova. Há mais seis países na calha, outro potencial e um, a Turquia, no congelador. Se a Rússia não interromper o alargamento através da guerra na Ucrânia e da infiltração da extrema-direita em França e Itália, a União pode passar a 35 estados-membros em menos de 20 anos.